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( votes)É difícil acreditar que vamos sorrir de novo depois de um coração partido.
*Wal Reis
Quando a crise de abstinência do fim de uma relação amorosa chega forte é preciso pensar a curtíssimo prazo. E por curtíssimo entenda nada que ultrapasse um dia. Ocupar-se com qualquer coisa que traga uma distração momentânea, mesmo que seja comer um chocolate, assistir a um filme idiota ou arrumar gavetas. Aqueles minutos ou horas absorvidos com a atividade vão fazer uma mágica necessária, te afastando do momento agudo da separação.
Não é fácil. Quase tudo vai te fazer sucumbir: uma cena no filme idiota que você decidiu assistir comendo o tal chocolate, o próprio chocolate que, afinal, era da marca que ele gostava. Músicas, cheiros, comidas, pessoas. Um post antigo no Facebook, a propaganda do destino turístico onde passaram as últimas férias. As roupas dentro da gaveta que você resolveu arrumar para não pensar. Você estará em uma ilha, cercada do outro por todos os lados, mas ali só estarão náufragos você e sua inconformidade. Chorar lágrimas grossas vai fazer parte da rotina. Ter raiva, saudade, mágoa, nostalgia e autopiedade também.
Se, até ontem, sua vida estava organizada e, de uma hora para outra, bagunçaram seu coreto, vai ser muito difícil projetar o futuro. Vai ser quase um martírio planejar o Natal.
Tomar as rédeas dos pensamentos é uma estratégia que funciona: ao primeiro sinal de que as lembranças ou as perguntas sem respostas estão se avizinhando feche a porta para esses visitantes indesejados. Eu sei que parece um pouco estúpido, mas converse gentilmente com seus pensamentos: “por favor, ainda não. É muita cedo. Não preciso de vocês aqui”.
A ideia é não ser o algoz de si mesmo porque, se você fizer sua parte, o tempo vai fazer a dele, recolocando, sutilmente, a vida no prumo. E então, chega o dia em que você vai dormir e percebe que não chorou. Na manhã seguinte acha graça em algo que viu na rua. Aí, enche os pulmões e nota que respirar não dói mais e que já tem fôlego para levantar a cabeça e seguir em frente.
*Wal Reis é jornalista, profissional de comunicação corporativa e escreve sobre comportamento e coisas da vida. Blog: www.walreisemoutraspalavras.com.br
Foto: Bruno /Germany (Pixbay)
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