Vida & Saúde Wal Reis

Não dá para fazer a princesa o tempo todo: às vezes a bruxa bota pra quebrar

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Qual o mal em, esporadicamente, colocar a Cinderela de férias e evocar a madrasta? 

*Wal Reis

Acredito em gente de verdade, naquelas com lado A e lado B. Da modalidade que é sensata a maior parte do tempo, mas estoura o cartão de crédito quando toma um fora do namorado. Pessoas que bebem com moderação até o dia em que batem a meta corporativa e enchem a lata e saem dizendo que amam os colegas da repartição. Aprovo quem gosta de todo mundo, mas, às vezes, não resiste e blasfema contra o cunhado e a sogra. E faz fofoca. E briga por política e retira-se do grupo do WhatsApp por pura malcriação.

Sou fã daqueles que exageram na comida e depois culpam o metabolismo. Rezam para chover muito e assim terem um álibi para não ir à academia. Gente que marca compromisso, mesmo sabendo que não irá, só para não ficar mal com a galera. 

Gosto de quem não resiste a uma piada politicamente incorreta, a um doce calórico ou a colocar filtro na selfie. Das pessoas que pensam no look da festa a semana inteira e, ao serem notadas, dizem que pegaram a primeira roupa que viram no armário. Comem brigadeiro de colher direto na panela e se admiram no espelho, chorando.

Gente boazinha: alerta vermelho

Em contrapartida, tenho medo, muito medo dos perfeitinhos: nunca descem do salto, não alteram o tom de voz e já acordam com o cabelo arrumado. Me aterroriza quem compreende e perdoa tudo e está sempre disposto a se sacrificar pelo outro. Olho desconfiada para aqueles que, no café da manhã do resort, se restringem a uma fatia de mamão papaia e um suco detox.   

Me apavoro com mulheres que sorriem 24 horas e ainda mandam cartão de Natal para a nova família do ex. Com quem nunca bateu boca e escuta os atendentes de telemarketing até o fim da ligação. Mantenho distância segura de gente que não fala palavrão, nem que seja dentro do carro, depois de uma fechada, só para desopilar o fígado. Temo os que elogiam o tempo todo e têm a palavra certa na ponta da língua. E também aqueles que, depois de explicar 54 vezes a mesmíssima coisa, seguem plácidos e não proclamam algo como: “você é burro ou o quê?”

Me amedronto diante de gente que não guarda rancor e nem fala mal de ninguém, mesmo dos que “pedem” maledicência. Mantenho o pé atrás com os que desconhecem a palavra “não” e nunca foram pegos de calça curta em uma mentirinha. Fico ressabiada com quem não trinca os dentes ao se deparar com injustiça ou cerra os punhos com vontade de socar aquele que trai sua confiança. Da mesma forma, é difícil entender quem nunca amarrou uma tromba ou deu piti em público.

Essas cinderelas oprimem a madrasta que mora em mim. E no conto de fadas da vida real, dificilmente existem só princesas ou bruxas. Na melhor das hipóteses, temos belas adormecidas que tomaram Rivotril para não ter que encarar o lado negro da força. Mas creio em fábulas nas quais nosso melhor e nosso pior convivem em perfeita harmonia, trazendo o tempero ideal e fazendo da gente o que fomos talhados para ser: humanos cheio de adoráveis defeitinhos de fábrica.

*Wal Reis é jornalista, profissional de comunicação corporativa e escreve sobre comportamento e coisas da vida.

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