Foto: Pixabay
Vida e Saúde Wal Reis

Cartinha de Natal: querido Papai Noel, me dá um tempo?

Sending
User Review
0 (0 votes)

De tão raro, este se tornou um bem valioso, que não pode ser comprado e muito menos desperdiçado.

Querido Papai Noel, espero que este meu pedido não chegue atrasado ou que você já tenha saído da Lapônia e esteja sem sinal de internet. Eu sei, eu sei: deveria ter me organizado melhor e mandado a cartinha dentro do prazo estabelecido por sua empresa, cumprindo os protocolos que sempre me perseguem. Mas o meu presente tem tudo a ver com este atropelo: Noel, eu quero pedir tempo.

Sabe tempo? Aquele que é fundamental para fazer as coisas com calma, organizadamente, sem ter que sair de casa tão atropelado que esquece a alma no elevador? Ou até mesmo para ficar zapeando a TV e reclamando, com ares de tédio, que não tem nada de bom para ver? Ou para passar uma tarde inteira lendo e cochilando de pijama e cabelo sujo? Aquele que é vital para fazer coisas ainda menos nobres, como falar mal dos outros numa mesa de café com uma amiga, sem olhar e-mails de doze em doze segundos ou ter o WhatsApp apitando freneticamente, provando, a cada nova mensagem, que você tem que fracionar tanto o seu tempo para os outros, que acaba não sobrando nada dele para usar como realmente gostaria? Pois é: eu queria este tipo de tempo.

Queria abrir minha agenda de manhã e encontrar a página em branco, não porque estava tão cansada na noite anterior que esqueci de colocar ali as tarefas da data, mas porque o dia é totalmente meu mesmo. Exclusivamente meu. Sem ninguém me dizendo que “já que” estou livre podia fazer isso ou aquilo. Não, Noel, me desculpe. Eu sei que é época de Natal, de ser solidário. Mas meu pedido é pessoal e intransferível e meu desejo é usá-lo sozinha, sem dar nem um pedacinho para ninguém.

Não fui necessariamente uma boa menina

Se eu fui boazinha para ser merecedora do presente? Bem, digamos que o projeto “boazinha 2023” teve alguns bugs. Tentei ser uma mais paciente, mas vamos combinar que tem gente que vem para a Terra para testar nossa capacidade de manter a boa educação, né? E me esforcei para ser amiga dos meus amigos, sem julgamentos ou pré-conceitos, até que chega aquele filho da mãe, que você escutou por 56 horas chorando o corno que tomou da mulher, e avisa com a cara mais lavada do mundo que está voltando às boas com a ex. Difícil segurar a vontade de descer do salto e quebrar a cabeça engalhada dele. Porém, em linhas gerais, eu diria que deu para pontuar positivamente e meu desejo deveria ser considerado.

Também fui sagaz cumprindo todas as incumbências que esperavam que cumprisse: entreguei trabalhos nos prazos, cuidei de quem estava sob minha jurisdição, mantive a casa em ordem, as contas pagas e o cachorro alimentado. E antes de dormir, eu jurava que conseguiria fazer algo verdadeiramente por mim no dia seguinte, mesmo que fosse colocar uma música triste para ter o direito de um tempo para sentir minhas próprias dores. Mas falhei miseravelmente neste último quesito.

Por isso, vou esperar acordada pelo meu presente e prometo não fazer como fazia com minhas bonecas que, alguns dias depois do Natal, já eram deixadas de lado. Porque depois chega um momento na vida, Noel, quando finalmente aprendemos o valor de coisas que não compramos, mas que cobram um preço alto demais quando não as temos.

Por Wal Reis

Advertisement

Agenda de Eventos Acontece

Taxa de câmbio

Taxas de câmbio USD: sáb, 27 jul.

Advertisement

Advertisement

Categorias

You cannot copy content of this page