Wal Reis

E com vocês ela: a mãe da noiva – Por Wal Reis

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Se sua filha vai casar, prepare-se com fôlego de maratonista, paciência de monge tibetano e conta bancária de príncipe herdeiro de Dubai

*Wal Reis

E a bebezinha vai casar. Você já desconfiava: panfletos de lançamentos imobiliários pela casa, o interesse súbito pela árvore genealógica da família (“mãe, aquela tia do papai ainda está viva?”), o número crescente de consultas ao Pinterest para o item “vestido de noiva”.

Mas é inevitável se emocionar quando a notícia chega oficialmente e ali, de mãos dadas com aquele quase estranho, sua menininha anuncia o enlace.

Porém, mal dá tempo de enxugar a primeira lágrima de comoção. A lista de coisas “a fazer” é enorme, mesmo faltando um ano para o sim. E a picorrucha adianta, em tom de cumplicidade, que contará com mamãe para tudo, incluindo o pagamento de algumas faturas e excluindo a parte mais divertida, como a viagem de despedida de solteira com as 12 madrinhas para Buenos Aires.

A primeira ida de mãe e filha ao ateliê grifado, indicado pela colega rica, é cheio de risinhos cúmplices. Ali também a progenitora terá toda a liberdade de escolher o modelo que quiser para o grande dia, desde que a rebenta concorde com a cor, o comprimento e o decote.

Após o terceiro vestido branco experimentado, o semblante de sua princesa mescla a fisionomia de um pitbull faminto com o da Malvina Cruella. E você teme pela integridade física da vendedora quando ela chega animadíssima com um vestido que lembra o usado por Lady Di, em 1981.

E nos próximos meses, um estranho fenômeno abduzirá sua filha deixando no lugar “a noiva”, uma entidade que te culpará por tudo que der errado – do DJ bafônico não disponível para a festa ao atraso da gráfica com os convites.

Para “a noiva nunca existirão meios termos: ela reclamará em demasia, chorará em demasia, terá surtos psicóticos recorrentes, jurando que há um complô interplanetário para sabotar seu casamento. Ostentará uma certeza absoluta sobre quase tudo, mas mudará de ideia a cada meia hora sobre flores, buquê e cor das toalhas.

A bipolaridade também é um sintoma muito observado em “a noiva”. Você teme levar uma dentada quando coloca a cabeça para dentro da jaula – leia-se quarto –para avisar que “o noivo” está na sala esperando, logo após ouvir gritos histéricos sobre a pretensa sogra ter aumentado em 30 pessoas a lista de convidados. Tentando evitar o pior, fica em silêncio na cozinha para detectar a melhor hora de apartar a briga. Até escutar a onça de alguns minutos atrás ronronar palavras de amor para o desavisado, como uma gatinha mansa. Você observa seu genro com compaixão, imaginando se não seria mais humano mandar-lhe uma carta anônima.

Depois de 12 meses chega o grande dia. O saldo positivo são os oito quilos a menos. E os dez anos de envelhecimento precoce serão disfarçados pela maquiadora contratada pelo preço de um carro popular.

Quando só algumas horas separam ”a noiva” do altar e nada mais pode dar errado por falta de prazo, ouve-se um uivo de terror vindo do banheiro. Abre a porta imaginando um aneurisma, mas é uma espinha no nariz. Ela ameaça se suicidar e não casar. Você chega a pensar em sugerir uma mudança na ordem dos fatores, mas cala-se a tempo. Reúne suas últimas forças e mente que não está aparecendo, que a maquiagem vai cobrir. Corre para pegar uma pomada secante, que, na verdade, é um creme ginecológico, que vai valer como placebo para a choradeira passar. Prepara um chá de camomila para “a noiva” e um uísque para você.

Tudo o que disse sobra a espinha não adiantou nada, mas quando a melhor amiga repete as mesmas frases no áudio do WhatsApp, ela se acalma, agradece emocionada e segue para o dia da noiva. Antes de sair porta afora com o vestido e todos os apetrechos, ainda dá o golpe de misericórdia:

– Nossa, mãe, que cara horrível. Não atrasa porque sua maquiagem vai dar trabalho.

O pior é que, como boa mãe da noiva que você é, vai zerar o cronômetro quando a moça mais linda do mundo entrar sorrindo placidamente pela nave da igreja, como quem saiu de um conto de fadas. E você vai desejar que, assim como nos contos de fada, ela seja feliz para sempre.

*Wal Reis é jornalista, profissional de comunicação corporativa e escreve sobre comportamento e coisas da vida. Blog: www.walreisemoutraspalavras.com.br

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