Foto: Globo/Estevam Avellar
Entrevistas

Letícia Colin: a magia de interpretar diferentes personagens

Apesar de ter apenas 32 anos, Leticia Colin já coleciona inúmeros trabalhos de destaque na TV, cinema e teatro, dando vida desde princesa até vilã. Atualmente, ela brilha no papel da vilã Vanessa em Todas as Flores. E foi para falar sobre a sua carreira e um pouco de sua vida pessoal, que a atriz aceitou bater um papo com a Revista Acontece.
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Acontece: Você começou ainda criança na TV. Como surgiu a ideia de ser atriz e como foram os seus primeiros projetos que trabalhou?

Letícia Colin: Eu sempre fui uma criança muito comunicativa, muito bem-humorada e muito aberta para ouvir, trocar. E as pessoas botavam essa pilha nos meus pais. “Poxa, ela é muito comunicativa, vocês deviam levá-la para fazer alguma coisa”. E foi assim. Meus pais me levaram em uma agência. Eu fiz meu primeiro book, comecei a fazer alguns testes em São Paulo, e fui pegando comerciais de TV. Na época era propaganda que eu fazia muito. E eu adorava o compromisso de ir ao set gravar, de contar a história daquele ‘micro’ personagem. Mas estar diante das câmeras, do ambiente do set, do figurino, da maquiagem. Tudo isso eu lembro que me encantava profundamente. Até hoje, eu não perco isso. Da mesma maneira que no teatro também, estar no palco, ver a parte de dentro, refletores, camarim, microfone, a luz, enfim, sempre gostei dessa parte.

Depois eu fiz um teste para ‘Sandy & Junior’ que era um seriado da época de sucesso, além de eu ser fã. Na época eu já tinha 10 anos e passei para o meu primeiro personagem, que tinha uma história, tinha um nome. E aí foi incrível porque meus pais toparam que a gente se mudasse para Campinas, pois as gravações eram lá. E assim virei uma pessoa com o pé no mundo. E depois disso emendei em ‘Malhação’, no Rio de Janeiro, para fazer a personagem Kailani, que as pessoas lembram até hoje, fico emocionada com isso. Era uma personagem com personalidade forte e eu uma paulista no Rio, aprendendo a neutralizar o sotaque, aprendi a surfar.

Créditos: Globo/João Miguel Júnior

Apesar de jovem, você já tem uma lista longa de novelas e séries que participou. Sabemos que todos os papéis são importantes, mas quais você considera os mais marcantes na sua carreira?

Eu realmente acredito que um personagem, por mais difícil, complicado ou pequeno, ou aparentemente “menos importante” que ele seja, ele é fundamental para a trajetória. A gente vai se construindo a partir de cada um.

Mas eu acho que a Leopoldina (Novo Mundo), ter feito uma personagem com essa complexidade de composição, uma personagem muito importante para a história do nosso país, onde se tem muitos registros verdadeiros, ela era uma personagem que escrevia muito, deixava muitas pistas sobre quem ela era, representações na pintura, de retratos, então tinham muitos desafios. Uma princesa, uma personagem que sofreu muito. Ali muita gente passou a conhecer o meu trabalho e a valorizar, pelo nível de exigência emocional que tinha. Foi uma mulher que morreu antes dos 30 anos, que teve 10 filhos, que era muito infeliz e muito solitária. Então eu destacaria ela e a Amanda de ‘Onde está meu coração’, que foi pro mundo, eu fui indicada ao Emmy Internacional, fui para Nova York ao lado de atrizes do mundo inteiro. Foi uma série que foi muito vista, tanto no streaming como depois que foi para a TV aberta também. As pessoas adoram ver obras intensas e o retorno que eu tenho é muito gratificante. Além de tudo isso que aconteceu, mas a gente conseguir colocar um trabalho dessa importância. Um tema tão relevante, muitas vezes espinhoso, mas que a série conseguia abordar com muita humanidade, com muita dignidade e respeito a quem vive a doença da dependência química e que é possível o tratamento, é possível a reabilitação. E que trazia o sofrimento da família, conseguia ilustrar bem o tamanho do abismo e da dor que é, e ao mesmo tempo humanizando e tirando o preconceito, fazendo a gente amadurecer o olhar pra esse assunto, aprofundando essa discussão na sociedade, criando coragem pra gente ter uma nova abordagem em relação à política de drogas, uma coisa que seja menos hipócrita e mais real.

Além da TV, você já atuou também no teatro em alguns musicais e no cinema. Agora, também em uma novela feita para o streaming. São linguagens e modos de atuação diferentes na sua opinião?

Essa questão da linguagem realmente me encanta. Encanta-me conseguir desvendar e me adaptar pra cada formato, porque realmente se você está no palco, a maneira como você pode atuar e os recursos que você pode lançar mão são diferentes.

Sempre curti esse desafio. Para mim sempre foi muito prazeroso de mudar. Por exemplo, o cinema tem uma coisa do encaixe da voz, porque a captação é diferente, o jeito de filmar é diferente, a lente do cinema ela tem outra característica muito diferente da televisão, mas tem muitos momentos que há um cruzamento de linguagem. A gente está vendo assim uma coisa muito conectada entre esses espaços dramatúrgicos. A gente vê peças de ‘stand up’ filmadas, vemos novelas que são mais ‘serializadas’ como ‘Todas as Flores’, por exemplo, que tem uma pegada de ganchos e de viradas, essa coisa de lançar semanalmente para gente ficar naquela ansiedade, naquela expectativa de ver cinco capítulos, de personalizar a maneira de se assistir ao streaming, vendo em qualquer hora e qualquer lugar. Fico muito orgulhosa de ter conseguido passar por vários lugares tão diferentes.

Mas eu sempre quis atrair esse desafio de estar a frente de qual câmera, qual público. Misturando as plateias. Fazendo com que uma pessoa que goste de televisão vá ao teatro e de quem gosta de teatro que assista a um filme. Como tem cada vez mais produções e conteúdos no mundo inteiro e a gente tem acesso, isso é maravilhoso. Há conteúdos da Ásia, da Europa, da Oceania. A gente tem cada vez mais que prezar pela excelência, pela criatividade, pela autenticidade das nossas criações. Eu gosto dessa sensação de ter que merecer, ganhar, chamar atenção daquela pessoa para te assistir, porque é um menu gigante. É um restaurante com pratos infinitos, as nossas opções dramatúrgicas hoje em dia.

E falando de teatro mais ainda, né? Fazer a pessoa sair de casa, se deslocar, comprar ingresso, então eu acho que consegui realizar esse sonho de poder conhecer e ir desabrochando um pouquinho em cada uma dessas áreas. Mas ainda tem muito caminho, ainda tem muito pra aprender. Eu amo trabalhar, já estou pensando qual vai ser o meu próximo personagem, qual vai ser meu próximo encontro, na expectativa do que eu vou descobrir ali na frente.

Créditos: Globo/Maniella Mello

Em ‘Todas as Flores’ você viveu a Vanessa. Conte-nos como foi a experiência de viver essa vilã que tinha diversas faces.

O humor dessa personagem se mostrou essencial para gente poder se relacionar com ela de uma maneira mais empática, porque A Vanessa é muito agressiva, muito egoísta e manipuladora. Então eu acho que para gente conseguir trazer o público pra se conectar com ela e torcer por ela, ela tinha que ser engraçada. E me veio muito isso da coisa patética, dos planos saírem errados, dela não conseguir dar conta de tudo.A gente a vê perdendo o controle, que ela parece muito fria e calculista, mas mete os pés pelas mãos, briga com a própria mãe, que é a grande parceira dos crimes e das armações. Acho que ela mesma se atrapalha nessa trajetória de ambição. Porque é muito delicado trazer uma personagem que maltrata a própria irmã que é uma pessoa tão carismática, forte, madura, então para humaniza-la, acho que o humor ajudou bastante. Eu me diverti muito porque nós somos também patéticos e risíveis, então gosto quando a gente traz essa humanização do personagem, traz mais camadas.

Para complementar, é uma dupla de vilãs, acho que isso é muito importante e bacana dessa novela do João Emanuel Carneiro. Ele trouxe essa parceria, essa cumplicidade, uma é cumplice da outra. Elas se desentendem, brigam Zoé (Regina Casé) e Vanessa, e a Vanessa foi criada para o mal. É interessante que a gente pode ver o quanto ela sente falta, o quanto faltou amor, valores éticos consistentes. Ela fica sempre pensando que tem que estar com o cara de uma empresa, que é o Rafael (Humberto Carrão), que tem grana, para poder se sentir pertencente daquele grupo, daquelas pessoas. E o quanto ela tem ciúmes da Maíra (Sophie Charlotte), então essa construção é bem importante, ter essa triangulação dessas três mulheres que se encontram. E, por conta do amor que a Maíra desperta na Zoé, pela qualidade de pessoa que ela é, a Maíra é uma pessoa sincera, verdadeira, conectada com seus próprios sentimentos, a Vanessa fica ainda mais coléricadiante de alguém tão preparada para vida e tão autônoma no mundo.

A carreira de atriz é bem competitiva, além de talento e determinação, o que você considera fundamental para se destacar?

É importante estar comprometida com o ofício da atriz, ofício desse trabalho, de dedicação, de entrega e de uma percepção das imperfeições, das vulnerabilidades, que me levam a ter que viver isso na prática. Então quanto mais eu vivo uma vida humana e lidando com as frustações e com os vazios, e quanto mais eu investigo isso e me aproximo disso, quanto mais eu encaro essa questão da imperfeição, acho que isso ajuda a trazer mais camadas e complexidades aos personagens.

Isso me levou a um autoconhecimento, uma busca, uma valorização da terapia, da psicanálise, desses estudos mentais das emoções, da percepção, dessa observação das relações. Porque o tempo todo eu estou trabalhando, me alimentado disso, guardando e aumentando o meu banco de memória, minha biblioteca emocional. Quando estou observando, vivendo. Digo isso porque muita gente às vezes refuta, quer se afastar. E acho que nossa sociedade às vezes diz que a gente tem que ser alguma coisa.

Essa percepção me levou a estudar meditação, coisas muito especiais, por isso que eu amo essa profissão. É uma profissão de estudo, de conhecer nosso país, de ter essa consciência também de quando a gente ganha uma visibilidade a gente tem um compromisso social de caminhar para uma sociedade que valorize as diferenças, que valorize as singularidades, uma sociedade que consiga se perceber como nação, se fortalecendo culturalmente. Por isso os ritos, as nossas tradições, o folclore, as nossas músicas, as nossas festas, conhecer o Brasil, olhar para ele, viajar, conhecer os sotaques, as comidas, as pessoas. Tudo isso é atuação, é cultura. Ler livros, ler os clássicos, acessar todo o material que a gente tem de um cinema importantíssimo e muito potente brasileiro, ser feminista, isso é o que eu acredito. Que esse caldeirão todo que forma uma artista interessante.

Créditos: Globo/Paulo Belote

Para o futuro, já tem algum projeto no horizonte?

Eu e Michel (Melamed) queremos fazer um trabalho juntos, que a gente pensou nisso há muito tempo, e levantar um espetáculo com direção e dramaturgia dele. Esse é o nosso movimento, fazer um monólogo, guiado pelo Michel. Acho que vai ser muito interessante porque ele é um dos artistas que eu mais admiro. Eu já admirava antes da gente ser casado então eu acho que chegou o momento da gente fazer uma coisa juntos. Nossa, do nosso jeito.

Aqui nos EUA temos o verão em junho. Sobre essa estação, você costuma ter alguns cuidados especiais em termos de alimentação e treinos para se manter em forma?

O verão é sempre momento de mais energia, porque o sol energiza a gente, né? O sol convida a gente a sair, a se expor, asorrir, tirar as camadas de roupa, perceber mais a nossa própria pele, nosso próprio corpo. Eu adoro o verão, tem a questão da hidratação que temos que ficar mais ligados. Tenho bebido muito mais água nos últimos anos, tenho tentado ser aquela pessoa que sempre sai com uma garrafa d’água. E protetor solar, eu já uso sempre, no verão mais. E tenho tentado ter uma regularidade de atividade física, porque como a minha rotina é muito instável, acho que de todo mundo, mas, às vezes, muda o personagem, muda muito o universo que eu estou pesquisando e o tipo de atividade física que eu vou fazer para me preparar para aquele personagem.

Cada personagem tem uma energia diferente, uma vibração diferente, que pede um trabalho físico exclusivo, então eu fico mudando bastante. E isso é muito bom, porque eu aprendo várias coisas. Eu já aprendi a subir no tecido, a correr em mais velocidades, porque o exercício físico leva a gente a alguns estados emocionais. Então quando eu preciso mexer com essa energia, eu calibro através do exercício. Mas também é um desafio manter alguma coisa a longo prazo.

Então o meu plano agora é continuar o fortalecimento muscular e corridas leves, hoje em dia eu gosto de fazer. Remo também eu acho muito maneiro quando eu consigo fazer.

Já esteve em Miami? Em caso afirmativo, conte-nos como foi a experiência e quais os locais que gostou de ir.

Eu estive aí quando pequena, tinha 6 anos. Me lembro muito dos pelicanos em Miami Beach. Lembro dessa cena, de ver aqueles bichos imensos, ainda mais que eu era pequena, então acho eles eram maiores ainda, né, na minha cabeça (risos).

E aquelas praias com aquelas casinhas de madeira, praia diferente, areia diferente da areia da praia do Brasil. Até as roupas de banho, tudo me encantava. Eu fico observando as coisas. Talvez isso seja estar em um lugar estrangeiro, a gente se encanta com coisas triviais, que a gente passa e não repara mais no nosso cotidiano, aí você viaja e ganha uma lupa.

Eu fui com meus pais, a gente foi pra Disney, depois fomos visitar a casa de um amigo do meu pai em Tampa.

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