Rodrigo Santoro e o diretor Luiz Fernando Carvalho
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Entrevista com Luiz Fernando Carvalho

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‘Velho Chico’ é uma novela de Benedito Ruy Barbosa, escrita por Edmara Barbosa e Bruno Luperi, com direção artística de Luiz Fernando Carvalho que esta sendo transmitida pela TV Globo Internacional
Diretor de televisão e cinema, com formação em Letras e Arquitetura, Luiz Fernando Carvalho fundou uma linguagem própria. Na televisão, já realizou 26 trabalhos, entre novelas, especiais, minisséries e microsséries. Foi diretor-assistente das minisséries ‘O Tempo e O Vento’, ‘Grande Sertão: Veredas’ e ‘Riacho Doce’. Dirigiu também grandes sucessos da TV brasileira como as novelas Renascer’, ‘O Rei do Gado’ e ‘Esperança’, e seu último trabalho em novelas foi ‘Meu Pedacinho de Chão’, todos em parceria com o autor Benedito Ruy Barbosa. Em 2005, criou, escreveu e dirigiu as duas jornadas da microssérie ‘Hoje É Dia de Maria’. Inspirada nos contos retirados da oralidade popular brasileira. A série recebeu vários prêmios internacionais, sendo inclusive finalista do International Emmy Awards em duas categoriais. Após ter adaptado diversas obras literárias para a TV, como A Pedra do Reino’, de Ariano Suassuna, e ‘Capitu’, uma livre transposição do romance de Machado de Assis, Luiz Fernando Carvalho também dirigiu ‘Alexandre e outros Heróis’, adaptação de contos infanto-juvenis de Graciliano Ramos, e idealizou e dirigiu a série, em oito episódios, de ‘Correio Feminino’, inspirada nas colunas femininas que Clarice Lispector escreveu para jornais cariocas. Seu longa-metragem de estreia, ‘Lavoura Arcaica’, recebeu mais de cinquenta prêmios nacionais e internacionais.

 

Sua metodologia de trabalho coloca toda a equipe de criação em um processo de autoconhecimento para reafirmar e recriar o texto. Quais foram as principais ideias para ‘Velho Chico’ e como elas surgiram?
Luiz Fernando Carvalho: Para um processo de treinamento acontecer é preciso desenvolver técnicas, assimilar e trocar conhecimentos, além de montar um grupo de colaboradores capaz de refletir e desenvolver um processo criativo. Sou um criador que necessita de seu espaço de criação exercido de forma colaborativa. Esta é a real motivação que condicionou minha atividade de diretor ao galpão, onde meu cotidiano de criador busca novos processos e modelos não apenas artísticos, mas, inclusive, de produção, identificando novos talentos em todas as áreas. O texto é um ponto de partida que precisa ser vasculhado e não simplesmente decorado. Nós reagimos a ele, e este processo de escavação não deve ser realizado apenas por mim, e sim pelo grupo todo: atores, cenógrafos, figurinistas, fotógrafos, costureiras, contrarregras, todos, sem exceção. Aprendemos muito todos os dias. Não há ninguém ali que não tenha algo a oferecer ao outro, e, consequentemente, meu olhar se alimenta deste fluxo de encontros. Não saberia mais dirigir de forma convencional.

 

Como foi (e continua sendo) o processo de preparação do elenco para o início das gravações?
Luiz Fernando Carvalho: Desenvolvemos um trabalho de percepção e de sensibilidade voltado para a leitura e improvisação do texto sob um ponto de vista mais atemporal e arquetípico. Utilizo máscaras de comédia del’arte, sem a intenção de aplicar completamente tal vocabulário, meu interesse é alçar os intérpretes a acessarem o campo dos arquétipos. Dia a dia os intérpretes vão passando para o lado do sonho, da imaginação, abandonando pequenas vaidades e medos desnecessários. Também trabalho com máscaras feitas no próprio galpão ou mesmo máscaras balinesas, elas são elementos que aceleram o deslocamento dos intérpretes em direção aos personagens. Todas estas técnicas são ministradas por um grupo de preparadores que segue comigo desde o princípio: Tiche Vianna, Lucia Cordeiro, Antônio Karnewale, Agnes Moço. Sem eles não faria nada. Na preparação de Velho Chico percebemos que já somos um só ser. Isso me tocou muito.

 

Você poderia falar um pouco sobre a estética deste projeto e o que você persegue nesse sentido?
Luiz Fernando Carvalho: “A estética que me interessa é a estética do coração”. Esta frase é do grande escritor Machado de Assis, mas tomo-a para mim na tentativa de explicar um país extremamente passional. Nossas narrativas mais populares serão sempre voltadas a esta ligação arquetípica que o brasileiro tem com suas raízes mais primitivas. Fazendo este percurso, constatamos que, apesar de todos os avanços acorridos nos últimos séculos, ainda somos um imenso quintal. Não há família brasileira que não traga consigo a memória emotiva de uma horta, lençóis estendidos em varais, passarinhos em gaiolas e outros pequenos animais. No fundo, somos todos do interior, por isso nossas novelas de sucesso refletem esta espécie de herança espiritual, retratando tão bem este universo infinito do sentimento nacional. Quanto à definição do que estou buscando, não sei como responder exatamente. Parto do melodrama, pois acredito ser um gênero absolutamente potente e capaz de transpassar todas as classes sociais, mas em Velho Chico atravessamos vários gêneros. Tudo me interessa, desde a tragédia ao realismo fantástico.

 

Como será a trilha sonora?
Luiz Fernando Carvalho: A trilha sonora vai ter Caetano, Alceu Valença, Maria Bethânia, que vai cantar uma música de José Miguel Wisnick, “Mortal Loucura”. Caetano regravou especialmente “Tropicália” para a abertura, com arranjo novo do Tim Rescala. Vou do grande Tom Zé a músicas de Xangai, Elomar, Ednardo, Geraldo Vandre, entre outras.

 

Cerca de 70% do elenco é nordestino. Apresentar novos rostos para o público em geral é uma característica do seu trabalho. Por que essa escolha?
Luiz Fernando Carvalho: Sei a importância que tem a cultura regional e o que esses artistas trazem consigo de bagagem emocional, cultural e de linguagem. Em meus trabalhos estes artistas são colaboradores fundamentais na concepção artística. Eles sempre me ensinaram muito.

 

Como foi feita a escolha do elenco e o que você levou em consideração já que tem uma passagem de tempo na novela?
Luiz Fernando Carvalho: A sensibilidade brasileira, expressa também no tipo físico, nos tons das peles, no temperamento, enfim, procuramos encontrar o país através da escalação, de forma que o conjunto ficasse harmônico e não imitativo, que evocasse a potência excluída do nosso país.

 

Como você define ‘Velho Chico’ e qual a mensagem da novela?
Luiz Fernando Carvalho: Se fosse resumir em uma única palavra a novela, diria: Amor. O amor entre os enamorados da trama, o amor pela terra, pelo rio, pelo sonho de um país melhor, mais belo e mais justo para todos. Na trama teremos várias formas de amor. O amor está presente em tudo.
Foto: Caiua Franco / Divulgação/TV Globo

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