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( votes)Por Wais Reis
Quem me conhece sabe que eu implico com o Dia da Mulher e este ano não ia passar sem texto no contrafluxo das mensagens fofinhas ou empoderadas. E o motivo é simples: na minha cabeça, tudo o que precisa ser exaltado é porque não está naturalmente equiparado e, por isso, fica aquele incômodo, aquela sensação de que impor datas comemorativas só aumenta o abismo entre os sexos, entre as raças, entre os gêneros. Não dava só para respeitar como ser humano e pronto?
A ladainha do dia da mulher me lembra um pouco discursos de palestras motivacionais: “somos poderosas, multifacetadas, cuidamos de tudo e de todos…” Parece mais aquela história de que uma mentira contada mil vezes vira verdade. Ou ainda um conto da carochinha para que a gente vista a personagem e apenas “se ache” ao invés de “ser”. Eu conheço mulheres que ganhariam o prêmio de melhores do ano. A questão é que conheço outras que não receberiam o convite nem pra sentar na plateia. E conheço homens que também mereceriam a condecoração. Isso porque qualidades e defeitos vêm de fábrica pra ambos os sexos, sem distinção.
Cada vez que recebo – perdoem amigos, sei que mandam na boa intenção – mensagens com aquelas frases manjadas sobre sermos muito mais avançadas do que um reles homem, me sinto aquele vestido encalhado da loja, que a vendedora tenta desovar enaltecendo o tecido, o bordado, o caimento mesmo não botando fé no próprio argumento.
Parabéns?
Em 8 de março recebo parabéns por ter nascido com genitália feminina? Gente, pensa: foi resultado da combinação dos gametas, eu não tive nenhum mérito nisso. Meu mérito – se é que tenho algum – veio bem depois da fecundação, com minha formação, com o que fiz com tudo que a vida me ensinou e graças aos meus valores, que independem de se ter uma xoxota ou um pipi.
Porque se a equidade de direitos civis sempre foi a pretensão – desde o começo do século 20, com a formação do primeiro sindicato feminino nos EUA – qual o objetivo de pender a balança para o outro lado, posando de ser superior, coisa que alguns discursos feministas usam em datas assim?
E mesmo a busca saudável pela igualdade não anula diferenças. Temos sistemas hormonais diferentes, corpos diferentes e, de vez em quando, até nos valemos das diferenças para tirar vantagem lícitas das situações: meninos, podem continuar abrindo a porta do carro, emprestando o casaco no dia frio e mandado flores, mesmo sem data marcada.
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