Wal Reis

A arte de ser só e bem acompanhada ao mesmo tempo, por Wal Reis

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Diferentemente do que cantou Alceu Valença, a solidão nem sempre te devora. Depois que a gente aprende a se curtir, ela desaparece e deixa no lugar uma grande amiga.

*Wal Reis

Vou escrever no feminino não porque acredito que o cenário é exclusivo, mas talvez este seja um processo mais evidente entre mulheres: na adolescência, seguimos a fila, entramos no modo “Maria vai com as outras”, uma vez que ali o que importa é fazer parte de um grupo, ser aceita. Fica um pouco confuso separar o que realmente queremos daquilo que queremos só porque todo mundo quer.

Nessa fase, não nos entendemos muito bem, seja fisicamente, seja emocionalmente e o espelho acaba sendo o outro e evitamos um olhar mais demorado sobre nós: tudo parece ter vindo com defeito de fábrica. O mau humor, recorrente da faixa etária, não é gratuito: tende a ser resultado dessa completa falta de compreensão de si, como se habitássemos uma desconhecida.

Mas, já adultas, temos a oportunidade de começar uma espécie de autoflerte. Uma descoberta preciosa que sinaliza que nossa melhor amiga estava ali o tempo todo. Vamos tirando de letra manias e teimosias, enquanto aprendemos a respeitar limites e a valorizar qualidades pessoais e intransferíveis. Vai caindo a ficha de que estar em grupo é ótimo, mas sentar para tomar um café, acompanhada somente por sua própria xícara, pode ser excelente.

Logicamente é legal estar com a galera, mas agora não lamentamos mais se o churrasco não dá certo por conta do mau tempo. Dá para substituir por um dia de preguiça, com uma panela de brigadeiro na frente da TV, sem precisar compartilhar o doce ou o controle remoto.

A gente constata que está em harmonia com o “eu” não propriamente depois de uma sessão de meditação, mas quando interrompe a faxina para – sem plateia e sem censura – dançar no meio da sala porque a playlist chegou naquela música irresistível, que promove uma limpeza na alma. E fica claro que aprendeu a celebrar a própria companhia se a garrafa de vinho é aberta e uma taça – a mais bonita – sai da prateleira para um brinde justo e merecido.

Solidão: amiga das horas?

Você percebe que dá preferência à solitude quando se aborrece com o barulho da chave abrindo a porta e se escuta pensando em voz alta: “já chegou?” e suspira de alívio ao ver a mesma porta se fechar te deixando novamente só e bem acompanhada. Quando nota que está assentindo com a cabeça, mas que não ouve uma palavra do que é dito porque está tentando desembaraçar os próprios pensamentos. Quando gostaria de ler até mais tarde, mas a luz do abajur incomoda e você desliga contrariada e sem sono, pensando que aquela cama ficou pequena demais para dois.

Quando come sem fome porque está na hora e para de fazer o que estava te entretendo porque não está mais na hora. Porque tem hora que dá vontade de gritar que a hora é sua e quem manda nela é você.

Descobrimos essa autossuficiência saudável ao não desistir de viajar, mesmo sem ninguém disponível para apertar os cintos ao lado, cientes de que, para acompanhar determinados roteiros, é necessário apenas o mapa que leva para dentro da pessoa linda que você está construindo. E dessa viagem você nunca mais volta.

*Wal Reis é jornalista, profissional de comunicação corporativa e escreve sobre comportamento e coisas da vida. Blog: www.walreisemoutraspalavras.com.br

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