O acarajé do Carlinhos já foi tema de estudo em universidades americanas
Entrevistas

O sabor da Bahia em Miami

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O nome dele é Antônio Encarnação, mas todos o conhecem como o Carlinhos do Acarajé, “aquele que faz o melhor acarajé de Miami”. O elogio, vindo logo após o apelido, faz jus ao trabalho desse baiano, que ganha a vida nos Estados Unidos há quatorze anos vendendo acarajé e hoje, além de ter seu próprio negócio, é convidado para grandes eventos culturais, onde o seu “bolinho de feijão frito” (como ele mesmo define) é adorado.
“Essa é a única maneira de definir o que é o acarajé, para os americanos”, diz Carlinhos com um tom de quem sabe o que faz. Nascido na ilha de Encarnação, na Bahia, em um povoado fundado por seu avô, João Manoel Gonçalves (um ex-escravo beneficiado pelo lei do Ventre Livre), Carlinhos aprendeu a fazer o acarajé tradicional com as avós, sob os preceitos da religião do Candomblé.
Enquanto saboreava um acarajé tradicional, descobri um pouco dos segredos dessa iguaria e histórias de vida de Carlinhos. Confira o papo “saboroso” do baiano com a Acontece Magazine.

Por que você deixou a Bahia para vir morar nos Estados Unidos?
Carlinhos do Acarajé – Foi uma missão religiosa. Vim para Boston para cuidar espiritualmente de um dos filhos do professor baiano Augusto Soledade. Mas para que tudo desse certo, segundo a minha religião, todos os meus recursos tinham que ser tirados da rua, do ato de doar e sob os costumes baianos. Então como eu já sabia fazer o acarajé e senti uma grande carência da comida baiana na comunidade brasileira, juntei o útil ao agradável. E foi aí que eu comecei a fazer o acarajé em Bostom. Em Nova York, participei de eventos culturais, dei palestras e me tornei conhecido. Daí decidi viver na Flórida, onde estou há dez anos.

E o que te fez escolher a Flórida?
O clima parecido com o da Bahia. Também senti que o povo baiano que morava aqui era “órfão” da sua comida. Tinha comida mineira, tinha a feijoada carioca, mas não tinha comida baiana. E isso, sem dúvida, foi um gancho para eu viver e trabalhar por aqui, fazendo o que amo e o que sei fazer de melhor.

De onde vem essa paixão pelo acarajé?
A tradição do acarajé vem de família. Vim do interior da Bahia, de uma família que tinha o candomblé como religião. Aprendi com meus avós todos os segredos para fazer o acarajé tradicional, desde o seu início. Eu plantava o feijão, depois colhia, quebrava o feijão na pedra, lavava, e até hoje eu faço o acarajé da forma mais tradicional possível. Não uso máquinas, é tudo na mão!

O acarajé tem fama de ser trabalhoso para preparar. Isso é verdade?
Sim, e muito! Não dá pra passar a receita inteira, mas basicamente você primeiro tem de catar o feijão fradinho todo (que aqui é vendido sob o nome de pinto beans), para checar se não tem pedras. Depois você tem que quebrar o feijão e lavar. É todo um processo, que dura de 2 a 3 horas, no mínimo. Depois você deixa ele por mais duas horas hidratando. Então escorre o excesso da água (mais uma hora e meia). Enquanto o feijão escorre, você já prepara o vatapá (um dos acompanhamentos do acarajé) que é feito com castanha, amendoim, pão dormido ou farinha de guerra, nunca farinha de trigo. Depois prepara a pimenta que pode ser a seca desidratada ou a pimenta fresca. Só então você vai preparar a massa, passar no processador (ou no moinho), bater a cebola, misturar a massa e fritar no azeite de dendê. É mole? E uma curiosidade: o vatapá não é uma iguaria afro-baiana. Ele vem de Portugal.

Por que nem todo mundo consegue fazer o acarajé?
Você tem que ter a mão. O acarajé é uma iguaria muito especial e trabalhosa. O feijão fradinho é muito sensível. Tem também a temperatura da panela, que deve ser uma panela mais fria, de barro ou inox (nunca de alumínio), e até a colher de pau que você vai misturar a massa tem que ser do pau do Cajueiro branco. Não pode ser envernizada, nem de Pau- Brasil, ou seja, tem todo um processo, ligado à religiosidade, para o acarajé sair perfeito.

Como você explica ou define o acarajé para os americanos?
Eles gostam do acarajé?
Isso é tão difícil quanto fazê-lo (risos). Em Massachussets eles chamam o acarajé de Brazilian Muffins. Mas acho que a explicação mais próxima seria uma pasta de feijão frita. Eu sou uma pessoa de sorte. Os americanos adoram o acarajé e nos eventos culturais eles comem até mais que os baianos, acreditem! Uma vez, professores de uma universidade em Massachussets chegaram a estudar as propriedades do acarajé e me convidaram para contar todo o histórico dessa iguaria baiana.

A gente te vê sempre vestido de branco. Por quê usar o branco?
Qualquer pessoa que trabalha com comida deve trabalhar de branco. Para observar inclusive se a roupa está suja. Quando se trata da comida afro-baiana ou da cultura africana usamos o branco porque ele está diretamente ligado à religião. O branco no candomblé significa a continuidade da vida, a procriação. Vestimos o branco no sentido de procriar e prosperar. E isso está diretamente ligado ao sucesso nas vendas: vender muito mais acarajé e prosperar na vida.

Onde as pessoas podem comprar o acarajé do Carlinhos?
As pessoas podem me encontrar nas redes sociais (facebook.com/antonio.encarnacao.948) onde tem as datas e informações sobre eventos que participo e o happy hour de acarajé na minha casa todo sábado a partir das 7 PM. Como todo bom baiano, adoro uma festa!

Carlinhos

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