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Neto de Benedito Ruy Barbosa, Bruno Luperi de 27 anos encara a autoria de uma novela e ainda estrear no horário nobre da Globo é para poucos. Mas Bruno Luperi não está sozinho nessa empreitada, ele divide a autoria de “Velho Chico ” com a mãe, Edmara Barbosa, e o texto é supervisionado pelo avô, Benedito Ruy Barbosa, com direção artística de Luiz Fernando Carvalho
Como é o processo de trabalho de vocês?
Bruno: O processo acontece de maneira muito orgânica, de forma que parece até difícil definir fronteiras de onde termina um e começa o outro. Essa dinâmica é meio visceral, como se espera de uma relação familiar e profissional entre três gerações de escritores, defendendo diariamente suas crenças e verdades em busca da melhor ideia, melhor fala, melhor ação e por aí vai.
O que as visitas ao São Francisco acrescentaram a ‘Velho Chico’?
Edmara: Encantamento. O cenário e os personagens da trama foram crescendo, ganhando vida à medida que eu corria pelo rio buscando imagens, conhecendo e convivendo com o povo ribeirinho que nasceu e cresceu mergulhando em suas águas.
Qual a simbologia do rio na trama?
Bruno: O rio é a linha que tece o destino de cada personagem. É também a grande serpente, a natureza em toda sua dicotomia, ao mesmo tempo que fornece a vida, tem força de acabar com ela num só instante.
Como você define ‘Velho Chico’?
Bruno: Um resgate. O resgate de um rio. O resgate da consciência do homem na relação com a natureza. De um povo, de suas tradições, de sua cultura, do seu orgulho… O resgate do ser para o ser.
Edmara: É uma saga de duas famílias rivais que vivem à beira do São Francisco. Na primeira fase, pelo chamado do rio, duas crianças nascidas no seio de cada uma dessas famílias se conhecem, se apaixonam, e se separam. Na segunda fase, os dois se reencontram e lutam para resgatar esse grande amor que os uniu. Eles terão que cumprir seu destino, que é trazer a união e a prosperidade, através desse amor.
Como você define a briga familiar que é o estopim para a história?
Edmara: Temos um embate entre duas forças antagônicas: Capitão Rosa (Rodrigo Lombardi) é um idealista que, ajudado por Belmiro (Chico Diaz), luta pelo bem estar e pela igualdade de direitos e de oportunidades para todos. Afrânio (Rodrigo Santoro/ Antonio Fagundes), ao contrário, luta para preservar o poder e o dinheiro de sua família em detrimento do povo. Tereza (Isabella Aguiar/ Julia Dallavia/ Camila Pitanga) e Santo (Rogerinho Costa/ Renato Góes/ Domingos Montagner) nascem predestinados a unir essas duas famílias, provando que é pela união das forças opostas que nasce a paz e a prosperidade.
A saga tem início no final dos anos 1960 e se estende até os dias de hoje. Como foi a construção desses momentos da novela?
Bruno: Na primeira fase se vê o coronelismo imperando na região e as raízes de um amor proibido que nasce às margens do Rio São Francisco. Tudo sempre regado e permeado por arroubos de coragem e valentia, comuns aos homens daqueles tempos. A segunda fase é marcada por um intenso conflito de gerações, que começa quando o fruto desse amor proibido volta para viver ao lado do avô, o último grande coronel da região, representante de um mandonismo decadente que não parece fazer o menor sentido para as gerações futuras.
Qual a principal mensagem da trama?
Edmara: O amor e a natureza. Só o amor é de fato capaz de transformar as pessoas e conceitos arcaicos. E sendo bem simplista, precisamos voltar nosso olhar para nosso modo de produzir e de viver sobre esse planeta. Os recursos naturais estão se esgotando, e cada um de nós é responsável pelo quinhão que destrói e pelo que salva.
Os autores: Edmara Barbosa e Bruno Luperi
Edmara Barbosa era criança quando presenciou o pai, Benedito, derramando lágrimas e sorrindo sozinho enquanto escrevia um capítulo de novela. Aquela emoção não saiu da memória. E, através dela, Edmara e o filho, Bruno, navegam para colocar no papel a história de ‘Velho Chico’. “Essa novela nasceu dessas três gerações e do conceito que meu avô sempre prezou em suas histórias: o respeito e o amor pela natureza”, acredita Bruno.
A história começou a ser concebida por Benedito Ruy Barbosa. Ele é o leme e o comandante deste texto, segundo sua filha e neto. O trabalho de pesquisa empírica realizado por Edmara e Bruno ao longo do rio São Francisco também foi fundamental para dar o tom realista e, ao mesmo tempo, lúdico da novela. “Encontrar com as pessoas que vivem lá, estar em contato com esse rio tão gigante mudou muita coisa. Fizemos, ao todo, quatro viagens, ficando quase seis meses”, lembra Edmara.
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