Tom Jobim na entrada do Adams Hotel
Turismo

Os passos de Tom Jobim pela Big Apple e o seu enorme “quintal” verde inspirador de canções

Se estivesse vivo, Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim faria, em 2022, 95 anos. O jornalista José Roberto Luchetti percorreu os lugares por onde o maestro frequentava em Nova York
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Tom Jobim vivia em Nova York uma vida relativamente diferente da que levava no Rio. Não frequentava bares, restaurantes com tanta frequência, a não ser o bar de ostras que ficava no Plaza da 5ª Avenida, onde se encontrava com amigos que estavam pela Big Apple. Passava muitas horas do seu dia dentro do apartamento, compondo e olhando a vista privilegiada que tinha do Central Park. Em agosto de 2019, a cineasta Ana Jobim, segunda esposa e mãe dos filhos João Francisco e Maria Luiza, lançou o documentário “A Casa do Tom” no Jardim Botânico do Bronx. O longa, disponível no YouTube, mostra, de forma bastante poética, a vida que eles levavam no Rio e em Nova York.

O cinegrafista da TV Globo, Orlando Moreira, mora há décadas em Nova York. Ele participou de várias gravações com Tom Jobim, inclusive o especial “Antônio Brasileiro”, dirigido por Roberto Talma e que marcou o lançamento último disco do maestro em vida. “Tom era um cara muito simpático, gente fina mesmo. No especial sugeriu que gravássemos no Museu de História Natural (um dos locais que mais gostava, provavelmente pela ligação com a natureza) e conseguimos a autorização”, lembra Moreira. “Ele curtia observar os esquilos e pássaros no Central Park e sabia muito sobre a história dos animais”, completa. Em Nova York, Jobim levava uma vida pacata de um cidadão quase anônimo, era um escape do assédio que tinha no Rio. Mas gostava quando alguém o reconhecia pelas caminhadas que fazia pelo East Side, próximo ao apartamento onde morava, unidade 20 da 30 East 85 Street, entre a Madison e 5ª Avenida, uma das áreas mais nobres da Big Apple, a poucas quadras do MET – Metropolitan Museum of Art. “Tom era muito espirituoso, durante as gravações soltou que para conhecer Nova York era bom deitado numa maca para apreciar os arranha-céus, famosos da cidade”, conta o cinegrafista. A tirada foi tão espontânea, que Talma incluiu a sonora no especial.

Apartamento do Tom Jobim perto do Central Park unidade 20 do 30, East 85 Street, entre a Madison e 5ª Avenida

A Big Apple foi tão importante na vida do Tom Jobim que estava reservado a ela ser o capítulo final da história. Foi no hospital, o Mount Sinai, em Upper Manhattan, no lado leste do Central Park, que o maestro não morreu, foi eternizado, em 8 de dezembro de 1994, aos 67 anos. Virou imortal na memória de tantos que o amaram, amam e amarão. Um pouco antes de virar passarinho, confidenciou à sua irmã Helena: “se o Villa-Lobos e o Ary Barroso morreram, eu também posso morrer”. Poder você podia, Tom, mas não devia. “Passarim quis pousar não deu voou, voou, voou, voou, voou”, como na canção. Em 25 de janeiro passado, Tom Jobim faria 95 anos.

Hospital onde Tom Jobim morreu, em 1994 no 1468, Madison Avenue

Além dos dois filhos do segundo casamento, Tom Jobim deixou outros dois, Paulo e Elizabeth, do matrimônio com Thereza Hermanny. Desde os anos 1960, Jobim passou grande parte da sua vida em Nova York, e vivia na “ponte aérea” entre as duas cidades do seu coração. “When I arrived in New York, The immigration officer asked me, Where have you been Mr. Bim, Where have you been, Joe, You’ve been abroad for too long Mr. Bim, Haven’t you been?”, como revelou na letra da canção Chansong.

Em 21 de novembro de 1962, o Carnegie Hall, principal sala de concertos da cidade, abriu as portas para a bossa nova e os seus precursores, Tom Jobim, que junto com Gilberto Gil, Sérgio Mendes, Luiz Bonfá, entre outros, hipnotizaram o público com a novidade. “A bossa nova era amplamente desconhecida nos círculos da música popular fora do Brasil – nem mesmo era particularmente conhecida em seu país – quando uma formação de superestrelas brasileiras se juntou ao saxofonista americano Stan Getz para rolar a fusão cadenciada do samba brasileiro em um dos maiores palcos de concertos do mundo”, descreve o próprio site do Carnegie Hall sobre a histórica apresentação. Nova York foi não só a porta de entrada da bossa nova para o mercado americano e mundial, mas a segunda pátria do ritmo, depois do Rio.

Carnegie Hall, onde Jobim se apresentou em 1962 no 881, 7th Avenue

Já no ano seguinte, em março de 1963, “Garota de Ipanema” foi interpretada em inglês por Astrud Gilberto, no mesmo Carnegie Hall, e o saxofonista de jazz Stan Getz também executou a canção por cinco minutos. Tinha sido composta no mesmo ano em parceria com Vinicius de Moraes. É possivelmente a música brasileira mais tocada no exterior e, em alguns rankings, considerada a segunda mais exibida, somente atrás de Yesterday dos Beatles.

Repertório de show de Tom Jobim no Carnegie Hall em 1985 – Crédito Instituto Antonio Carlos Jobim – Foto Ana Lontra Jobim

Tom se auto definia como “o eruditinho”, “porque amava Villa-Lobos, mas queria fazer música que estivesse ao alcance de todos”, como tão bem descreveu Felipe Cotta em Discotindo, página do Instagram sobre música, e Nova York fomentava esse lado do maestro, onde fomentavam os clássicos e as apresentações populares. Stone Flower de 1970 é um exemplo disso, LP instrumental, com a versão clássica de Children’s Games que anos mais tarde ganharia letra e seria eternizada na voz de Elis Regina e se transformaria em Chovendo na Roseira. Três anos antes o maestro soberano lançava Wave, LP e canção instrumentais, onde “o resto é mar é tudo que eu não sei contar”.

The Adams Hotel onde Tom Jobim se hospedou até 1987 no 2, East 86th Street

O antológico Samba do Avião foi composto em 1962, certamente inspirado, em um dos retornos ao Rio, depois de alguma das viagens a Nova York. A descrição de um pouso no Galeão é de uma sensibilidade poética e melódica incríveis. Por meio das notas musicais, Tom Jobim conseguiu descrever a dupla sensação do olhar, quando mira o horizonte e tem-se a impressão de estar em suspense – avião parado e quando consegue avistar a terra percebendo a velocidade da aeronave. Esses dois tempos – mais lento e mais rápido – são perfeitamente descritos nas linhas melódicas. Até ter o seu próprio apartamento, nos anos de 1980, Tom Jobim se hospedava em The Adams Hotel, que ficava no 2, East 86th Street, esquina com a 5ª Avenida. Atualmente é um edifício de apartamentos de luxo, não mais um hotel, mas mantém as características originais da fachada e o famoso toldo verde na calçada de entrada.

Apartamento do Tom Jobim perto do Central Park unidade 20 do 30, East 85 Street, entre a Madison e 5ª Avenida

As verdadeiras respostas que encantaram o maestro na Big Apple, que os críticos diriam que tivessem sido os dólares dos americanos, vão muito além das visões de curto alcance. O próprio contador de Tom, nos Estados Unidos, disse para Ana Jobim, quando ele decidiu “torrar uma grana” para comprar o apartamento em andar mais alto com vista para o Central Park, muito próximo do Adams Hotel. “Ele deve dar menos importância ao dinheiro do que eu”. E talvez desse mesmo, ele amava o canto dos passarinhos e pouco se importava com o que estava no banco, queria ver o verde do parque para inspirar canções. E nas ruas que ficam no East Side, onde viveu o maestro, é por onde caminhava feliz para chegar, em menos de uma quadra, no Central Park, seu quintal.

Portal de entrada do Central Park para Tom Jobim, no mesmo trecho entre a 85 Street e a 86 Street, na 5ª Avenue
Calçada por onde caminhava no Central Park, entre a East 85 Street e a East 86 Street, na 5ª Avenue

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