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( votes)Ainda em 2020, uma campanha publicitária de uma importante seguradora brasileira me tocou. E olha que não sou daquelas que se comovem fácil. Mas a criação da agência AlmapBBDO, com a linda música “Novo Tempo”, de Ivan Lins, sintetizou um pensamento que acalento desde que a pandemia varreu a nossa rotina para baixo do tapete: estes anos emblemáticos de 2020 e 2021 valeram a pena, sim.
A propaganda mostrava pessoas com “feitos” descritos nas famosas máscaras, que passaram a ser nossa marca-registrada: “tive um filho”; “aprendi violão”, “passei na faculdade” e “me formei” eram algumas das frases ilustrativas. A boa sacada publicitária era justamente o fato de sair do lugar comum, sem enaltecer ideias surradas de que o isolamento serviu para praticarmos autoconhecimento, ficarmos mais juntos com nossas famílias, cultivarmos hortas e tentarmos meditação. A mensagem central é ainda mais singela e, por isso, eficiente: a vida não está nem aí se tem vírus ou não. Ela simplesmente acontece. E passa.
Depois deste quase biênio, para quem acordou todos os dias com saúde e seguiu em frente com todos os “apesar de” – apesar das máscaras; apesar da vontade de abraçar e beijar; apesar da falta de festas e viagens; apesar do álcool gel; apesar dos medidores de temperatura opressivos em formato de pistola; apesar das mesas afastadas; apesar dos tempos sem cinema, teatro, shows e jogos com plateia e apesar do grande medo de que a doença chegasse e fizesse estragos em nossos núcleos – o momento é de, literalmente, respirar aliviado porque o pesadelo parece estar no fim.
Seria ótimo se pudéssemos retroceder dois anos e voltar aos fogos de artifício do 31 de dezembro de 2019, impedindo o “ano novo” de decolar: “esperem aí que está com problema em uma das turbinas, vamos tentar resolver o mais rápido possível para poderem embarcar em segurança”.
Roda viva
Mas lá se vão quase 24 meses e, passado o susto inicial, viveu melhor 2020 e 2021 quem optou por não prender a respiração, tomou fôlego e atravessou as águas turbulentas da pandemia: mesmo nestes tempos estranhos, coisas ruins e boas continuaram acontecendo, como acontecem sempre, desde que o mundo é mundo.
Aprender a celebrar desde as grandes conquistas até aquelas mais simples ajuda a aceitar 2020 e 2021 como anos úteis, que não serviram apenas para frustrar nossos planos, mas que agregaram do jeito que deu. Ao invés de reclamar de tudo o que gostaríamos de ter feito, mas não foi possível, vamos tirar os óculos escuros e dar uma olhadinha na nossa capacidade ímpar de ter emprestado um pouco de normalidade a mais este ano que já está ficando velho, mas que, como todo bom ancião, teve muita sabedoria para transmitir.
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