Wal Reis

Desculpe, maturidade, mas vou continuar sem noção – Crônica

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Porque um pouco de inconsequência também faz bem à saúde mental.

*Wal Reis

Uma de minhas amigas, daquelas que vão morrer com 13 anos mesmo vivendo até os 90, me mandou uma música em um domingo de manhã e ordenou: “sai dançando pela sala porque essa merece”. Conhecendo meu gosto musical e minha total falta de compromisso com obrigações dominicais de dona de casa, ela sabia que era exatamente o que eu ia fazer. E eu, o Wilson Simonal e a Sá Marina descemos uma rua da ladeira imaginária, enquanto as panelas me esperavam no fogão.

Eu tenho dificuldade para entender que algumas práticas não deveriam mais caber no meu dia a dia. Porque sou adulta. Porque hoje me chamam de senhora.

Mas a senhora ainda gosta de jogar futebol na praia, tem ímpetos de encher de gelo as costas dos colegas que tomam sol impunemente, de salgar a caipirinha e jogar a carcaça do caranguejo na barriga do cervejeiro desavisado que dorme sob o guarda-sol.

Eu sei que não deveria, mas ainda escondo bolsas, celulares e chaves só para ver o desespero dos proprietários. Aperto todos os botões do elevador quando sei que minhas visitas estão esperando lá embaixo. Faço ratos com Bombril e os posiciono estrategicamente. E sacaneio minhas amigas com imagens de velas fálicas nas mensagens de aniversário.

É penoso me manter séria em missas quando o padre começa a cantarolar como se falasse latim. Eu me belisco para conter a gargalhada ouvindo o palestrante sisudo proferir palavras que, para mim (e, na maioria das vezes, só pra mim mesmo), têm conotação sexual.

Paro tudo para jogar Imagem & Ação e sim: sou desleal há anos para beneficiar meu time.

É difícil me controlar quando vejo amigos e parentes adormecidos: tiro fotos com garrafas de vinho emoldurando o inocente. Paramento com tiaras e flores e passo batom nos garotos, geralmente uma turminha acima de 50.

Amarro cadarços. Mas passei da fase do chiclete e das tachinhas nas cadeiras por ter sido eu mesma a vítima por tantas vezes.

Ainda coloco o volume do rádio do carro no máximo quando toca a música anos 90 predileta e canto mais alto que o cantor. Também é complicado manter a parte de baixo do corpo parada quando escuto funk, mesmo sabendo que aquela letra é escrota e que uma senhora de respeito não deveria descer até o chão.

E continuo fazendo planos para quando eu crescer. Esperando que esse dia nunca chegue para a vida não perder a graça.

*Wal Reis é jornalista, profissional de comunicação corporativa e escreve sobre comportamento e coisas da vida. Blog: www.walreisemoutraspalavras.com.br

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