Wal Reis

2022: hora de levantar e sacudir a poeira

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Vamos decolar?

*Wal Reis

Na minha rotina, apesar de não recomendar, costumo fazer 56 coisas ao mesmo tempo: cozinho e falo no telefone, tomo café da manhã enquanto seco o cabelo, escovo os dentes guardando as toalhas, passo roupa enquanto vejo o noticiário. Além disso, ainda imprimo uma velocidade de atleta queniano em tudo o que faço. Nada é devagar e quando alguém de casa quer me contar algo, minha frase geralmente é: me segue e vai falando.

A justificativa do meu corre diário não é nada incomum: como a grande maioria dos adultos modernos, tenho muita coisa para fazer nas míseras 18 horas em que estou acordada e uma necessidade imensa de corresponder a tudo. Uma ânsia de dar conta, de cumprir horários e metas até que…

Até que em uma manhã, enquanto eu arrumava a bolsa para sair, colocava água na planta, estendia a toalha na lavanderia e fazia maquiagem uma gotinha traiçoeira do meu óleo pós-banho, que havia caído no chão do banheiro, encontrou meu pé descalço e cumpriu seu papel de tentar me derrubar. Foi um belo escorregão até minha canela encontrar o gabinete da pia e aparar a queda iminente. Para quem joga futebol, foi mais ou menos como se o zagueiro tivesse entrado numa dividida com o atacante do time adversário. Só posso dizer que a dor foi digna de sair de campo de maca. E então escutei o juiz apitando a paralisação da partida.
Toda a minha pressa agora se resumia em encontrar a pomada para aliviar a dor. E fiquei ali, fora de ação por uns bons 15 minutos, chorando menos pela perna roxa e dolorida e mais pela raiva de mim mesma, pensando que podia ter me arrebentado por uma correria insana, que me leva para onde mesmo?

Para onde a gente ia com tanta pressa?

2020 foi como este grande escorregão no meu banheiro. Um tropeço, que tirou a gente do prumo e obrigou a repensar as rotas. Do dia para noite, home-office deixou de ser uma opção de empresas moderninhas para se transformar numa realidade até para companhias conservadoras. A máscara que víamos os japoneses usando pela televisão achando um exagero estampa rostos nos sete continentes.
A vida entrou rapidamente em modo off: foram meses em que a afobação deu lugar a uma sensação de incredulidade, de paralisia. Como se nos transformássemos em personagens de uma série de ficção científica. E o único controle que tivemos nesses tempos de pandemia foi o controle remoto da TV.

As resoluções de ano novo, feitas de 2019 para 2020 e mais timidamente de 2020 pra 2021, já não dependiam exclusivamente de empenho individual, mas de fatores coletivos, provando que nossa existência depende de um complexo sistema falível e que um microrganismo, como um vírus ou uma gotinha de óleo no chão, podem nos deixar fora de combate, independente de para onde íamos com toda aquela pressa. O fato é que mesmo os tropeços, que trazem algum dano, também funcionam para sair do piloto automático e repensar propósitos.

Ao final deste segundo ano, estamos mais calejados e com mais medos, mas entendendo que o desejo de saúde não é apenas uma retórica escrita em uma mensagem de boas festas. E, para quem chegou até aqui mesmo com as sequelas do último biênio, a ideia não é lamentar o que não conseguiu empreender, mas entender que depois de alguns tombos e passado o susto, a gente presta mais atenção no caminho e passa a andar devagar, aproveitando melhor a paisagem. Feliz ano novo! E que seja novo!

*Wal Reis é jornalista, profissional de comunicação corporativa e escreve sobre comportamento e coisas da vida. Blog: www.walreisemoutraspalavras.com.br

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