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( votes)Crônica por Nilson Lattari
A gente sente o gosto das mães antes mesmo de conhecê-las, quando suas mãos acariciam o rosto adormecido do filho esperando a hora de encontrar com ela. A mãe da gente nos conhece sem nem mesmo conhecer o rosto que toma forma dentro de si.
A gente nem sabe o nome delas, mas reconhece a sua voz antes da imagem, porque mãe tem uma linguagem própria, e mesmo de olhos ainda fechados sabemos, com certeza, que tem uma mãe ali do lado.
A gente conhece o olhar da mãe antes mesmo de chegar em casa, depois do fracasso ou da estrepolia na escola. A gente já chega cabisbaixo porque o olhar da mãe já está gravado, justo e registrado. É um ente que ameaça chuvas e tempestades, mas como ele a natureza agradece a feliz chegada.
A gente sente a mão da mãe quando nos abraça e deixa no rosto o alento, até quando estamos a sós e as lembranças, os cheiros e os carinhos nos refrescam. É uma amante que deixamos em casa, mesmo que muitas outras amantes nos encantem.
A gente quando chega em casa o olhar é de perguntas, mesmo antes da voz fazê-la. Parece uma bruxa adivinha que vê nos nossos olhos e no rosto, exatamente, o acontecido. As perguntas? Bem, as perguntas são só praxe. E até quando queremos contar uma novidade boa o seu olhar se abre como se a esperasse. Já pressentia quando conversava com a mãe celeste por onde andava o filho errático.
A gente não escolhe a mãe da gente. Nem mesmo ela nos escolhe. Alguns até prefeririam escolher a mãe, mas uma mãe decepcionada jamais escolheria outro filho, só para consertar toda a história dele.
A gente não mexe com mãe que cuida do seu canto e dos seus rebentos. Ninguém toca em uma leoa guardando os seus. Mãe é loba, mãe é guerreira, mãe é sempre mãe, mesmo para aqueles que a ameaçam. Todo mundo tem uma mãe, todo mundo tem uma lembrança ou uma história dela para contar. Ela não é nossa primeira namorada porque mãe é coisa sagrada e ninguém pode tocar.
A gente não deve deixar a mãe ir embora, e muito menos ir embora dela. Ela é um ímã que nos atrai e é o grito do prisioneiro que a chama como último apelo ao verdugo e ao inimigo. Porque até eles têm mãe, só que esqueceram dela.
A gente, algumas vezes, acha que as mães não choram quando veem a decepção que a gente causa. É porque as lágrimas são importantes, elas são guardadas para os momentos das nossas vitórias. A esperança é a mãe de todas as coisas, e a última esquecida na caixa de Pandora. Se todo o mal do mundo aparece, ela, a esperança, como a última mãe, pode ser o refresco para o mundo.
A gente olha para mãe e vê uma santa, um ser especial, alguém que é capaz de se comunicar com o Divino e pedir por nós. Muitas coisas assim caem no esquecimento. Vivemos a vida até que um dia não voltaremos a ver mais seu olhar a nossa espera.
A gente sempre acha que as mães serão eternas, e que sempre serão o último alento. Esquecemos que as mães sofrem porque existe, dentro delas, uma mulher por dentro.
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