Foto: Rogério Alves/TV Senado
Cinema

Brasileiras nos EUA dão voz aos atingidos pela lama

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Após cinco anos do desastre provocado pela mineradora Samarco, na cidade de Mariana, em Minas Gerais, famílias atingidas ainda sofrem com as consequências e se mostram sem esperança. No segundo capítulo do documentário Refugiados da Lama, que foi ao ar na última quinta-feira (12), um dos membros da tribo Krenak revela o alcance desse impacto e a falta de interesse por parte da empresa e do governo pelos atingidos e pelo meio ambiente.

Dirigido e produzido por Paula Park e Barbara Schucko, brasileiras radicadas nos EUA, o filme está sendo lançado ao longo do mês de novembro em quatro episódios. Todas as quintas-feiras, um capítulo é disponibilizado no YouTube, com o propósito deprovocar uma reflexão sobre o desastre industrial que causou o maior impacto ambiental da história brasileira e o maior do mundo envolvendo barragens de rejeitos. O doc também traz à tona a diversidade de grupos demográficos impactados, que revelam a profundidade dos danos humanitários.

Desse modo, a equipe decidiu, intencionalmente, focar em poucos indivíduos, que trouxessem ângulos diferentes e que permitissem aprofundar as experiências e perspectivas de cada núcleo familiar, e assim,  quebrar essa falsa concepção de homogeneidade quando se ouve o termo “impactados”.

A exemplo disso, Douglas Krenak, protagonista da segunda parte, revela que o desastre ocorreu e não foi por falta de aviso, o que tornou uma das revoltas dos povos indígenas, segundo ele. “Nosso contato é direto com o rio (Rio Doce), com a natureza, então a gente sempre procurou alertar, prevenir, buscar apoio de projetos de preservação e recuperação ambiental, porque sabemos que na hora de explorar as riquezas naturais de forma acelerada e sem controle as questões se agravam e tudo se perde com mais rapidez e mais frequência. E foi o que aconteceu. E a cultura indígena é vista como primitiva por pensar dessa forma, quando na verdade só queremos prevenir que coisas assim aconteçam, e que é simples. Basta por em prática esses conhecimentos tradicionais e milenares que o povo indígena tem”, desabafa em trecho do filme.

A respeito da Fundação Renova, criada pela Samarco para implementar os programas de reparação dos impactos do rompimento da barragem de Fundão, Douglas afirma que a entidade é composta por membros da própria empresa e do Governo, cujo interesse é atuar contra os interesses dos atingidos. “Essa fundação pra nós não tem legitimidade nenhuma porque falta experiência e porque não há representação da nossa parte com poder de decisão”, declara, referindo-se também aos ribeirinhos, aos pescadores e a todas as famílias prejudicadas.

Para a diretora Paula Parker ‘o desastre de Mariana’, como ficou conhecido mundo a fora, acabou criando um ruído de comunicação já que a população geral passou a ser ignorante ao fato de que mais de 200 distritos foram atingidos. “Arrisco dizer também que a grande maioria não sabe que tribos indígenas e comunidades ribeirinhas foram impactadas. E é isso que os episódios buscam exibir: a pluralidade e a complexidade do maior crime ambiental do nosso país”, destaca a diretora.

A primeira parte do documentário, lançado em 5 de novembro, retrata a vida de Romeu, Iracema e Zezinho, ex-habitantes de Paracatu de Baixo, 40 km de Mariana, que viram a casa e a sorveteria da família, serem soterradas pela lama. Transferidos para um apartamento alugado pela empresa Samarco, na cidade de Mariana, a família ainda tem que lidar com o preconceito e hostilidade dos moradores da cidade, que acreditam que os atingidos são aproveitadores e os culpados pela crise econômica da região, devido à restrição de atividades da companhia Samarco.

Seguindo a mesma linha de narrativa, o terceiro capítulo vai ao ar nesta quinta-feira (19) com a participação dos ribeirinhos Adeci de Sena e Gilmar Abelina de Jesus que mostram o impacto nos mangues e como isso os afetam. E o último episódio, na semana seguinte,  terá Rosa de Jesus da Silva, também ribeirinha, que abordará o impacto na saúde mental dos pescadores.

O documentário produzido com recursos próprios teve origem na canção tema “Lama”, da cantora, compositora e co-diretoraBarbara Schucko, O brasileiro Pedro Calloni radicado em Los Angeles, participou como engenheiro de som, responsável pela mixagem da trilha sonora do filme, que por sua vez foi masterizada pelo engenheiro Maurício Gargel.

Financiamento coletivo

Devido a pandemia, a previsão do reassentamento das famílias (que estava marcado para 2019, depois 2020, e agora 2021) e a implementação de programas previstos no Termo de Transação e de Ajustamento de Conduta (TTAC) foram todos postergados. 

Sensibilizados pela situação do elenco, Park e Schucko encontraram no financiamento coletivo –  vaquinha online  uma forma de contribuir um pouco mais.  O  objetivo mínimo é de chegar em R$ 2.5 mil para cada núcleo familiar, totalizando R$10 mil. Todo o valor arrecadado será repartido em quatro partes iguais, após as taxas da plataforma serem deduzidas.

O tsunami de lama

Em 5 de novembro de 2015 o rompimento da barragem provocado pela mineradora Samarco soterrou comunidades, deslocou 600 famílias e tirou a vida de 19 pessoas inocentes. A lama de dejetos industriais causou a morte do Rio Doce, seus afluentes e lençóis freáticos, prejudicando moradores de mais de 30 municípios dos estados de Minas Gerais, Espírito Santo e o sul da Bahia.

O impacto percorreu mais 660 km afora até chegar no Oceano Atlântico 17 dias depois, devastando toda a fauna e flora da região, afetando até os dias de hoje o sustento de centenas de milhares de brasileiros.

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