Espetáculo reuniu 21 artistas no palco com ingressos a menos de US$ 10,00
Brasil José Roberto Luchetti

Apresentação resgata a história do teatro musical brasileiro

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Dramaturga, Fernanda Maia, explica o porquê somos diferentes da Broadway

A cidade de São Paulo sempre se destacou por abrigar grupos teatrais de todos os portes, principalmente, as companhias de vanguarda que promoviam, muitas ainda realizam, espetáculos de altíssimo nível, porém sem o glamour dos grandes palcos, localizados em regiões nobres e até dentro de hotéis luxuosos. A Off Broadway paulistana está em bairros menos concorridos, como o Bixiga e a Barra Funda e têm os seus teatros escondidos atrás de grandes portões de ferro, dentro de galpões ou antigos casarões. Mas a qualidade artística é de deixar grandes produções no chinelo.

Nestes locais, além das montagens, são ministrados grupos de estudos com atores e muita pesquisa na área cênica. Desde 2005, o Núcleo Experimental é uma destas trupes de artistas que se dedica a explorar novos autores e repensar os clássicos. Uma das fundadoras do grupo, junto com o diretor Zé Henrique de Paula, é a dramaturga Fernanda Maia, responsável pelo espetáculo História do Musical Brasileiro.

A apresentação, que ficou em cartaz em curta temporada no final do ano passado, reuniu 12 músicos e 8 cantores no pequeno palco do Núcleo Experimental. Fernanda Maia, idealizadora e roteirista, contou a história do teatro musical do Brasil. Segundo ela, não existe nada mais político do que o teatro musical. “Ele lê o nosso país e propõe um modelo”, resume a diretora durante a apresentação da peça. E Fernanda tem razão, desde Chiquinha Gonzaga, autora das canções que abrem o espetáculo, o teatro musical dá voz aos excluídos e às minorias.

Compositora, maestrina e pianista, Chiquinha Gonzaga foi uma das primeiras mulheres a se destacar na música no Brasil durante uma época em que o ambiente artístico era predominantemente masculino. Ela compôs uma grande variedade de peças musicais, incluindo polcas, tangos, maxixes e, especialmente, suas famosas marchinhas carnavalescas. “O teatro musical foi um dos primeiros lugares onde os pretos tiveram visibilidade podendo demonstrar seu talento artístico”, conta Fernanda Maia que exibe na apresentação outros grandes compositores como Noel Rosa, Pixinguinha, Ary Barroso, Lamartine Babo, Chico Buarque, entre tantos.

A dramaturga lembra que a ideia do espetáculo surgiu da vontade de trazer para o público e, principalmente, para as novas gerações de fãs e estudantes de musicais, uma perspectiva da nossa história e do valor das nossas produções. “Muitos acreditam que o teatro musical veio para o Brasil com as produções trazidas da Broadway, mas isso não procede. O Teatro Musical Brasileiro está entranhado na nossa história e nas nossas tradições”, resume.

Fernanda Maia diz que pesquisa o tema há mais de vinte anos. “Como dramaturga, me interessa estudar os movimentos, estruturas, procedimentos do gênero. É difícil pesquisar porque os registros, textos e partituras, são complexos de encontrar e não estão todos num só lugar”, ressalta. Ela completa que muitas partituras se perderam, algumas canções teve que tirar de ouvido de gravações muito antigas e com pouca qualidade. “Com essa iniciativa, as novas gerações podem conhece-las, o que significaram na época e hoje em dia. É uma pesquisa baseada num interesse pessoal pelo assunto”, relata.

Fernanda Maia durante a apresentação de a História do Musical Brasileiro

São Paulo X Broadway

Questionada pela reportagem da Acontece como conseguiu reunir tantos talentos, em apresentações ovacionadas pela plateia, a preços inferiores a US$ 10,00, Fernanda Maia explica que há vários motivos. “Esses artistas trabalham comigo há anos e gostam muito porque no Núcleo Experimental têm liberdade artística e criativa, o que muitas vezes não acontece numa orquestra sinfônica ou num musical de matriz americana em que, muitas vezes, tudo vem pronto e o artista se torna um mero repetidor”, esclarece e cita durante a apresentação os arranjos feitos por vários dos músicos presentes.

Fernanda conta que o projeto é feito graças a uma política pública de incentivo à cultura, o fomento para o teatro da Cidade de São Paulo, através do qual foi idealizada toda uma programação para o Núcleo Experimental a preços populares. “A ideia é exatamente a democratização do acesso. Muitas pessoas acham que as leis de incentivo servem para que o artista ganhe mais do que deveria ou fique dependente do Estado. Isso não procede”, ressalta a dramaturga que completa: “as leis de incentivo, os patrocínios fazem com que, entre outras coisas, os preços dos ingressos sejam acessíveis a uma boa parte da população que não teria como pagar o que um espetáculo custa”.

Segunda ela, muitas pessoas argumentam que, na Broadway, as produções não vivem de incentivos fiscais públicos, mas da bilheteria. “Há que se entender como isso funciona, em primeiro lugar, os ingressos dos musicais da Broadway não são acessíveis à maioria da população americana. Um cidadão médio dos EUA não consegue ‘frequentar’ os musicais, indo poucas vezes no ano. A população de baixa renda não tem acesso nenhum a esses bens culturais”, contextualiza e acrescenta: “um ingresso para um musical na Broadway pode custar até R$ 2.000,00 e mesmo assim os teatros estão lotados. Isso acontece porque Nova York é um centro turístico e pessoas do mundo todo vão lá para ver às produções”.

A dramaturga conta que teatro na Barra Funda propicia ao espectador uma experiência única porque ele está muito perto do artista. “Nossa companhia se destaca pelo experimentalismo e tem tido um papel relevante na criação de musicais brasileiros originais. Uma iniciativa como essa só consegue sobreviver com políticas públicas de incentivo à criação artística”, finaliza.

Por José Roberto Luchetti

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