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Série Adolescência está fazendo pais repensarem como criam seus filhos

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Por: Patrícia Bernardon

A série toca em feridas reais, e virou alerta para pais e educadores. No Brasil, o juiz André Lacerda usa o conteúdo como ferramenta para debater o impacto do ambiente digital na saúde emocional de crianças e adolescentes

Uma das produções mais comentadas da Netflix nos últimos tempos, a série Adolescência vem despertando intensas reações do público e provocando reflexões profundas em pais, educadores e especialistas. A trama gira em torno da morte de uma menina de 13 anos dentro do ambiente escolar, um episódio trágico que revela, pouco a pouco, os silêncios, as ausências e os conflitos emocionais que cercam muitos jovens atualmente.

Embora o enredo seja fictício, o desconforto que ele gera é bem real. O que vemos na tela espelha questões que muitas famílias enfrentam diariamente: a dificuldade de diálogo entre pais e filhos, o isolamento emocional de adolescentes, os impactos do bullying, os conflitos de identidade e o uso descontrolado de tecnologia.

O personagem central da história, um garoto aparentemente comum e invisível aos olhos dos adultos, não consome conteúdos violentos, mas passa horas conectado a vídeos e fóruns que alimentam sua sensação de inadequação e solidão. Ele representa uma geração inteira que, em vez de buscar apoio nos pais, busca respostas nos algoritmos. Não se trata de um vilão, mas de um jovem desamparado, sem espaço de escuta, sem conexão afetiva real, como tantos adolescentes no mundo real.

A série mostra com precisão como a ausência de presença emocional por parte dos pais pode abrir espaço para o sofrimento silencioso. E como a escola, muitas vezes, falha ao não perceber os sinais.

Outro ponto marcante é o bullying. A crueldade entre colegas, seja explícita ou disfarçada, surge como um dos elementos mais destrutivos da experiência escolar. E quando não há um adulto disponível para acolher o sofrimento que vem disso, a dor se acumula. Somam-se a isso temas como identidade, sexualidade, comparação social e a busca desesperada por aceitação, num mundo onde o valor de um adolescente parece ser medido por curtidas, seguidores e aprovação digital.

O sucesso de Adolescência extrapolou a audiência. Virou pauta de escolas, debates e campanhas em diversos países. No Brasil, o juiz do Tribunal de Justiça do Estado de Goiás, André Lacerda, com forte atuação na área da infância e juventude, tem usado a série como ferramenta de conscientização.

Segundo ele, o que a trama mostra é o retrato de muitos casos reais que chegam aos tribunais.
“A série nos mostra, de forma chocante, o quanto a ausência de diálogo e de supervisão pode ser devastadora. O que vemos ali não é ficção exagerada, é reflexo de casos reais que enfrentamos diariamente no sistema judiciário”, afirma.

O juiz relata ainda que já acompanhou inúmeros casos envolvendo crimes e até suicídios de crianças e adolescentes. Muitos deles, segundo ele, estão fortemente relacionados a influências nocivas absorvidas pela internet.
“A internet, quando não monitorada, pode expor os jovens a conteúdos perigosos, desafios absurdos e relacionamentos abusivos. É um território vasto, muitas vezes incontrolável, onde a vulnerabilidade emocional dos adolescentes pode ser explorada com consequências graves”, alerta.

Apesar da crítica ao uso sem limites da tecnologia, o juiz não defende a proibição, mas sim a presença ativa dos pais, com supervisão, escuta e orientação.

Inclusive, no dia 29 de abril, será realizada uma audiência pública na Assembleia Legislativa de Goiás, convocada por diversos órgãos estaduais e também com participação nacional. Estarão presentes representantes do sistema judiciário, do sistema educativo, da saúde e de outras áreas que atuam diretamente com crianças e adolescentes. A ideia é discutir os impactos das redes sociais e dos ambientes digitais na vida dos jovens, além de pensar em estratégias para proteger emocionalmente essa geração.

Será uma oportunidade importante para ampliar o debate, e um bom momento para pais, mães e educadores assistirem à série Adolescência com outro olhar.

E é exatamente nesse ponto que a série toca mais fundo: não basta amar os filhos. É preciso demonstrar esse amor diariamente, com tempo, atenção, presença e diálogo. Muitos pais confundem presença física com conexão emocional, mas são coisas diferentes. O adolescente precisa sentir que é visto, ouvido e compreendido. Precisa saber que pode confiar.

Como mãe de uma menina de 12 anos, compartilho essa preocupação de forma muito pessoal. Faço questão de acompanhar de perto cada fase da vida da minha filha, de perguntar, de entender o que ela está descobrindo de novo. Acredito que nenhuma família está imune a viver uma situação indesejada, como uma má experiência escolar, por exemplo. Mas com apoio, tudo se torna mais fácil de superar.

Também não acredito que tirar o acesso aos eletrônicos seja a solução. Hoje em dia, o mundo gira em torno da tecnologia, e os adolescentes precisam disso até para se conectar socialmente com os amigos. O que faz a diferença é o quanto os pais estão realmente presentes. Não adianta apenas tirar o eletrônico e deixar a criança sem nenhuma alternativa. É preciso substituir o tempo de tela por momentos reais, experiências verdadeiras, conversas, carinho. Mostrar que o mundo fora da tela também é interessante e, principalmente, seguro.

A série termina, mas o debate está apenas começando. Talvez Adolescência seja exatamente o empurrão que muitos pais estavam precisando para mudar de atitude antes que seja tarde.


Foto: Divulgação/Netflix

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