User Review
( votes)Rio de janeiro, terça-feira dia 30 de abril de 2019
O samba está de luto, morre a cantora Beth Carvalho a Madrinha do Samba.
A cantora Beth Carvalho conhecida como Madrinha do Samba morreu com 72 anos em sua cidade natal, cidade do Rio de Janeiro.
Com mais de 50 anos de carreira e uma discografia de 34 discos e 5 DVDs. A cantora já havia recebido seis Prêmios Sharp, 17 Discos de Ouro, nove de Platina, dois DVDs de Platina, além de centenas de troféus e premiações.
Sobre Beth Carvalho:
Elizabeth Santos Leal de Carvalho nasceu no Rio de Janeiro, no dia 5 de maio de 1946. Filha de João Francisco Leal de Carvalho e Maria Nair Santos Leal de Carvalho, e irmã de Vania Santos Leal de Carvalho. Seu contato com a música foi incentivado pela família, ainda na infância. Aos oito anos, ouvia emocionada as canções de Sílvio Caldas, Elizeth Cardoso e Aracy de Almeida, grandes amigos de seu pai. Sua avó, Ressú, tocava bandolim e violão. Nas festinhas e reuniões musicais dos anos 60, surgia a cantora Beth Carvalho, influenciada por tudo isso e pela Bossa Nova.
Em 1964, seu pai foi cassado pelo golpe militar por ter pensamentos de esquerda. Para segurar a barra pesada que sua família enfrentou durante a ditadura, Beth passou a dar aulas de violão para 40 alunos. Graças à formação política recebida de seus pais, Beth Carvalho é uma artista engajada nos movimentos sociais, políticos e culturais brasileiros e de outros povos. Um exemplo foi a conquista, ao lado do cantor Lobão e de outros companheiros da classe artística, de um fato que até então era inédito no mundo: a numeração dos discos.
Em 1965, gravou o seu primeiro compacto simples, com a música “Por quem morreu de amor”, de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli. Em 66, já envolvida com o samba, participou do show “A Hora e a Vez do Samba”, ao lado de Nelson Sargento e Noca da Portela.
Vieram os festivais e Beth participou de quase todos: Festival Internacional da Canção (FIC), Festival Universitário, Brasil Canta no Rio, entre outros. No FIC de 68, conquistou o 3º lugar com “Andança”, de Edmundo Souto, Paulinho Tapajós e Danilo Caymmi, e ficou conhecida em todo o país. Além de seu primeiro grande sucesso, “Andança” é o título de seu primeiro LP, lançado no ano seguinte.
A partir de 1973, passou a lançar um disco por ano, emplacando vários sucessos, como “1.800 Colinas”, “Saco de Feijão”, “Olho por Olho”, “Coisinha do Pai”, “Firme e Forte” e “Vou Festejar”. Beth Carvalho é reconhecida por resgatar e revelar músicos e compositores do samba. Buscou Nelson Cavaquinho para a gravação de “Folhas Secas”, em 1973, e três anos depois fez o mesmo com Cartola, ao lançar “As Rosas Não Falam”, em 1976.
Diz o poeta que todo artista tem de ir onde o povo está. Esses versos, além de grande verdade, definem com rara precisão a atitude de Beth Carvalho diante da vida. Beth é inquieta. Não espera que as coisas lhe cheguem, vai mesmo buscar. Pagodeira, conhece a fertilidade dos compositores do povo e, mais do que isso, conhece os lugares onde estão, onde vivem, onde cantam, como cantam e como tocam.
Frequentadora assídua dos pagodes, entre eles os do Cacique de Ramos, Beth Carvalho revelou artistas como o grupo Fundo de Quintal, Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Sombra, Sombrinha, Arlindo Cruz, Luis Carlos da Vila, Jorge Aragão e muitos outros. Mais do que isso, a cantora trouxe um novo som ao samba, porque introduziu em seus shows e discos instrumentos como o banjo com afinação de cavaquinho, o tan-tan e o repique de mão, que até então eram utilizados exclusivamente nos pagodes do Cacique.
A partir daí, esta sonoridade se proliferou por todo o país e Beth passou a ser chamada de “Madrinha do Pagode”. Sambista de maior prestígio e popularidade do Brasil, é aclamada também como “Diva dos Terreiros” e “Rainha do Samba”.
Em 1979, Beth se casou com Edson de Souza Barbosa, craque do futebol brasileiro, que participou da Copa do Mundo de 66 e um grande amante do samba. Em fevereiro de 1981, se torna mãe de uma menina linda, a quem Edson deu o nome de Luana. Hoje, Luana Carvalho é atriz e cantora, e ganha aos poucos o seu merecido espaço. Para Beth, ser mãe foi e é a coisa mais importante que já aconteceu em sua vida.
Beth Carvalho já fez inúmeras apresentações em cidades ao redor do mundo. Na Europa, representou o Brasil em Atenas, no festival “Olimpíada Mundial da Canção”, cantando em um teatro de arena construído há 400 anos a.C., onde recebeu um busto em homenagem à sua passagem. A cantora também se apresentou em outros países europeus, como: Alemanha (Berlim, Frankfurt e Munique), França (Paris, Nice e Toulouse), onde participou do famoso festival em 87, 89 e 2005), Itália (Milão e Pádova), Espanha (Madri), Portugal (em Espinho e Lisboa, no show do jornal comunista “Avante”, para um público de 300 mil pessoas), Áustria (Viena) e Suíça (Montreux e Zurique).
A cantora se apresentou em palcos nos Estados Unidos, em Nova York (no Carneggie Hall, considerado um dos palcos mais importantes do mundo), Boston (na Universidade de Harvard), São Francisco, Miami, Chicago, Los Angeles e New Jersey. E também levou seu show para os palcos na América do Sul, como Uruguai (Montevidéu e Punta del Este) e Argentina (em Buenos Aires se apresentou no Luna Park, projeto “Sin Fronteiras” da cantora e amiga Mercedes Sosa). Beth ainda se apresentou por algumas cidades africanas, como Johannesburgo, Lobito, Luanda e Soweto.
Beth Carvalho também já levou sua música para Cuba (em Varadero), país com o qual a cantora tem uma forte ligação afetiva. No Japão, embora nunca tenha feito shows, vende milhares de CDs e tem sua carreira musical incluída no currículo escolar da Faculdade de Música de Kyoto.
Em 1984, Beth foi enredo da Escola de Samba Unidos do Cabuçú, “Beth Carvalho, a enamorada do samba”, com o qual a escola foi campeã e subiu para o Grupo Especial. Como o Sambódromo foi inaugurado neste mesmo ano, Beth e a Cabuçú foram as primeiras campeãs no novo local. Dentre todas as homenagens já feitas à grande cantora, Beth considera esta, a maior de todas. E declara: “Não existe no mundo nada mais emocionante do que ser enredo de uma escola de samba. É a maior consagração que um artista pode ter”. Em 1985, Beth foi enredo novamente. Dessa vez, da escola de samba Bohêmios de Inhaúma. Em 2010, foi a vez da escola Imperatriz Dona Leopoldina, de Porto Alegre, ter a “Madrinha do Samba” como enredo. A escola gaúcha foi a campeã deste ano. E em 2013, a Acadêmicos do Tatuapé, de São Paulo, levou para o Anhembi, o enredo “Beth Carvalho, a madrinha do samba”.
Em 1997, viu a música “Coisinha do Pai”, grande sucesso de seu repertório, ser tocada no espaço sideral, quando a engenheira brasileira da NASA, Jacqueline Lyra, programou a música para ‘acordar’ o robô em Marte.
Beth Carvalho gravou o 25º disco, “Pagode de Mesa ao Vivo”, em apresentação na gravadora Universal Music. Max Pierre, então diretor artístico da Universal, traduziu o que ela costuma fazer sempre: cantar o samba de raiz em torno das mesas de quintais, terreiros e quadras, nos pagodes que reúnem os melhores partideiros, músicos e poetas do gênero.
Embora mangueirense de coração, Beth foi homenageada pela Velha Guarda da Portela com uma placa alusiva ao fato de ser a cantora que mais gravou seus compositores.
Em junho de 2002, recebeu das mãos de Dona Zica, viúva de Cartola, o Troféu Eletrobrás de Música Popular Brasileira, no Teatro Rival do Rio de Janeiro.
Carioca da gema e amiga de Cuba, foi solicitada pela presidência da Câmara Municipal do Rio de Janeiro para entregar a Fidel Castro, o título de Cidadão Honorário da cidade.
Seu 26º disco, “Pagode de Mesa 2” (2000), concorreu ao Grammy Latino na categoria “Melhor Disco de Samba”. O 27° foi o CD “Nome Sagrado – Beth Carvalho canta Nelson Cavaquinho”, seu compositor preferido, disco que contou com participação do afilhado Zeca Pagodinho, além de Wilson das Neves e Guilherme de Brito (parceiro mais constante de Nelson). Este projeto foi tirado de uma gravação caseira do arquivo de Beth e vendido em bancas de jornal. A cantora obteve grande repercussão pela ousadia da empreitada e concorreu ao Prêmio TIM de Música como “Melhor Disco de Samba”.
Seu 28° álbum, “Beth Carvalho canta Cartola“ (2003), foi uma compilação idealizada pelo jornalista e grande fã de Beth, Rodrigo Faour. Beth foi a intérprete preferida de Cartola e responsável pela volta desse grande mestre à mídia.
Em 2004, a cantora gravou seu primeiro DVD, “Beth Carvalho, a Madrinha do Samba”, que lhe rendeu um DVD de Platina. O CD, que teve lançamento simultâneo ao DVD, recebeu Disco de Ouro e foi também indicado ao Grammy Latino de 2005, na categoria “Melhor Álbum de Samba”.
Em dezembro de 2005, a cantora abriu o Theatro Municipal do Rio de Janeiro para celebrar o Dia Nacional do Samba e seus 40 anos de carreira. Foi um show antológico que reuniu grandes sambistas da atualidade, como Dona Ivone Lara, Monarco, Nelson Sargento, Zeca Pagodinho, Dudu Nobre, entre outros. O registro desse show foi lançado em CD/DVD no fim do ano seguinte, inaugurando o selo da cantora, “Andança”. Em 2007, o álbum foi indicado ao Grammy Latino, na categoria “Melhor CD de Samba”.
Ainda em 2007, a cantora lançou, também pelo selo Andança, o CD/DVD “Beth Carvalho canta o Samba da Bahia”, com um repertório de sambas de compositores baianos de diferentes gerações. O DVD foi gravado pela Conspiração Filmes em agosto de 2006, no Teatro Castro Alves, em Salvador. Dentre outros, Beth teve como convidados Gilberto Gil, Maria Bethânia, Caetano Veloso, Margareth Menezes, Carlinhos Brown, Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Olodum, Riachão e Danilo Caymmi. O DVD traz ainda um histórico documentário sobre o samba de roda da Bahia. O álbum foi novamente indicado ao Grammy Latino 2008.
No dia 28 de abril de 2009, o novo presidente da GRES. Estação Primeira de Mangueira, Ivo Meirelles, formalizou, em nome da escola, um pedido de desculpas à cantora, pelo incidente ocorrido no Carnaval de 2007, no qual Beth fora impedida de desfilar em um dos carros da agremiação. Em 1º de maio de 2009, Beth Carvalho se apresentou para mais de 100 mil pessoas, na Quinta da Boa Vista, RJ, em evento que celebrou o Dia do Trabalho. Nessa ocasião, a cantora recebeu o título de Comendadora (embaixadora cultural do Brasil no mundo) das mãos do Ministro do Trabalho e do Emprego, Carlos Lupi. O ministro entregou para Beth a Ordem do Mérito do Trabalho Getúlio Vargas, em reconhecimento aos serviços que a cantora prestou na divulgação da cultura e da música brasileira.
Beth Carvalho foi homenageada na edição 2009 do Grammy Latino, no dia 5 de novembro, em Las Vegas. Na ocasião, a cantora recebeu um dos reconhecimentos mais importantes do Grammy, o prêmio “Lifetime Achievement Awards”, pelo sucesso em toda a sua carreira (Beth foi a primeira sambista a receber esse prêmio).
No final de dezembro de 2009, a cantora precisou fazer uma pausa no trabalho, em função de uma fissura na região sacra, que a obrigou a permanecer em repouso absoluto. Nesse período em que esteve afastada dos palcos, Beth Carvalho recebeu algumas homenagens e reconhecimentos importantes. Em setembro de 2010, foi lançada pelo selo Discobertas a caixa de CDs “Primeiras Andanças – Os 10 primeiros anos”, com cinco discos, contendo 71 gravações feitas pela cantora entre 1965 e 1975, reunidas pelo jornalista e pesquisador Marcelo Fróes. Também em setembro, um de seus afilhados mais famosos, Zeca Pagodinho, lançou o CD “Vida da Minha Vida”, dedicado à “Madrinha”.
A cantora voltou oficialmente aos palcos no dia 19 de fevereiro de 2011, quando encerrou, numa apresentação memorável, o evento SESC Rio Noites Cariocas, RJ, show que colheu inúmeros elogios do público e da crítica especializada. Em novembro do mesmo ano, promoveu o lançamento do seu 33º álbum de inéditas, “Nosso Samba Tá na Rua” (Andança/EMI Music), projeto que foi marcado pelo reencontro com o produtor musical Rildo Hora, que assinou a produção dos mais importantes discos da cantora na década de 70.
Em 2012 voltou a ser hospitalizada, o que não a impediu de participar da gravação dos CDs de Leo Russo e Lu Carvalho. Além disso, foi vencedora do Grammy Latino 2012 por “Melhor Álbum de Samba/Pagode”, com o “Nosso Samba Tá na Rua”, que também foi premiado como melhor disco de samba no Prêmio da Música Brasileira. Em 2013 foi enredo da Acadêmicos de Tatuapé com o tema “Beth Carvalho, a Madrinha do Samba”.
Após um período de hospitalização de aproximadamente um ano, Beth regressou aos palcos no dia 7 de setembro de 2013, no Vivo Rio lotado, voltando com a turnê do álbum “Nosso Samba Tá na Rua”, se apresentando em seguida em várias cidades brasileiras. No réveillon deste ano, se apresentou na Praia de Copacabana no show da virada. Em março de 2014, foi homenageada com uma exposição de fotos, vídeos e áudios que recontam a sua trajetória no Imperator – Centro Cultural João Nogueira e gravou seu quinto DVD, “Beth Carvalho Ao Vivo no Parque Madureira”, para um público de 50 mil pessoas, com a participação de sua sobrinha, a cantora Lu Carvalho e do afilhado Zeca Pagodinho. O lançamento do DVD foi em novembro de 2014, através de parceria do selo Andança com a gravadora Som Livre e com o Canal Brasil.
Fotos: http://bethcarvalho.com.br/
Comente