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Mercado Global de Energia: buscando equilíbrio na adversidade

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Por Felipe Kury

A OPEP (Organização de Países Exportadores de Petróleo) anunciou, recentemente, a redução de 2 milhões de barris/dia na oferta de petróleo para o mundo. Segundo a instituição, este movimento faz parte de um esforço contínuo para equilibrar o mercado e estimular novos investimentos na exploração e produção de petróleo. Entretanto, o anúncio não foi bem recebido pelo ocidente e provocou mais tensão no mercado, agravando a crise energética e aumentando a possibilidade de uma recessão econômica.

O mercado global de energia tem sofrido diversos choques na última década, iniciando com a crise financeira, de 2008, passando pela crise sanitária do Covid-19 e, mais recentemente, com a guerra entre Rússia e Ucrânia. De fato, a Rússia tem importância significativa no mercado, sendo o terceiro maior produtor de petróleo e outros líquidos, com 10.7 Mb/d (milhões de barris por dia), depois dos Estados Unidos, com 18.8 Mb/d, e Arábia Saudita, com 10.8 Mb/d. Além disso, a Rússia é o segundo maior produtor de gás natural do mundo, com cerca de 762 bcm (bilhões de metros cúbicos), atrás apenas dos Estados Unidos, com 934.2 bcm, de acordo com dados de 2021, da EIA – Energy Information Agency.

Não há dúvidas de que o conflito entre Rússia e Ucrânia vem provocando enormes perdas humanitárias, além de criar a maior crise energética das últimas décadas. Quase um terço da produção de gás natural da Rússia é exportado por gasoduto. Em 2021, o país exportou aproximadamente 210 bcm por gasoduto, sendo que cerca de 150 bcm para a União Europeia (UE).

As sanções econômicas aplicadas à Rússia vêm causando restrição na oferta de petróleo e gás natural para o mundo ocidental, em especial, tem provocado uma redução significativa no suprimento de gás natural para a UE. Estima-se que esta redução seja de cerca de 50 bcm no volume exportado, o que resulta em maior instabilidade e incerteza no mercado global de energia – ao invés de restringir a oferta, seria melhorar acelerar a redução da dependência energética em relação à Rússia.

Um estudo do FMI (Fundo Monetário Internacional) mostrou que os preços de energia elétrica subiram significativamente, saltando 287.32% na França, 123.45% na Alemanha, e 87.46%, na Inglaterra, apenas nos últimos 12 meses. Outro dado do estudo, diz respeito aos preços da gasolina que, em grande parte da UE, chegaram à marca de oito vezes a média dos últimos dez anos. Ainda segundo o FMI, estima-se que os países da UE investiram, de setembro de 2021 até julho de 2022, cerca de USD 276 bilhões em políticas públicas, regulação e subsídios para conter a escalada de preços de energia na região, demonstrando a instabilidade do setor que reverbera ao redor do mundo.

Como resultado da crise, uma nova conjuntura geopolítica, econômica e energética se estabelece. Os países da União Europeia buscam diminuir a sua dependência da Rússia, ao mesmo tempo em que tentam restringir o fluxo de petróleo russo para o mercado através de sanções econômicas. Este movimento, combinado com o corte na produção da OPEP, torna o mercado – já limitado em sua oferta – ainda mais vulnerável e instável, dificultando os esforços dos países em busca de fontes alternativas de suprimento de energia. Desta forma, o mundo – que já enfrentava pressões inflacionárias crescentes, aumento da taxa de juros, e, ainda, uma combinação de alta nos preços do petróleo e redução da atividade econômica – encontra-se em um ambiente de tempestade perfeita, que pode resultar em uma recessão global mais profunda e prolongada.

Em especial os países com maior dependência do gás natural da Rússia, como Alemanha e Itália, buscam importar GNL (Gás Natural Liquefeito) de outras regiões, como os Estados Unidos e países do Oriente Médio. De fato, para garantir a segurança energética, todas as opções estão na mesa. Alguns países na UE, inclusive, já estão em racionamento, e retomam práticas mais antigas, como a utilização de termoelétricas à carvão e/ou diesel, tentam reverter o processo de descomissionamento de usinas nucleares, e ampliar a utilização de energias renováveis.  Adicionalmente, é importante destacar que os Estados Unidos vêm utilizando suas reservas estratégicas de petróleo SPR (Strategic Petroleum Reserve) para enfrentar a limitação da oferta e garantir preços acessíveis dos derivados no mercado doméstico. Desde 2021, o SPR diminuiu cerca 35%, saindo de um total de 638 para 416 milhões de barris.

Neste contexto global adverso e incerto, onde persiste a crise energética, guerra na Europa, política de Covid-19 zero na China e possibilidade de recessão global entre outras adversidades, podem surgir oportunidades importantes, em especial para o Brasil. Precisamos continuar em ritmo acelerado as reformas no setor elétrico e no setor de petróleo, gás natural e biocombustíveis. Ou seja, é preciso manter um ambiente favorável para atrair novos investimentos, em especial do setor privado, com políticas públicas e regulação adequadas, e principalmente com garantia da segurança jurídica. Com a abertura do mercado de energia e atração de novos investimentos, o Brasil pode criar um mercado competitivo e dinâmico, garantindo a sua segurança energética, mas também se tornar uma alternativa importante para contribuir com a segurança energética de outros países.

O mercado de energia enfrenta um momento delicado, que requer muita habilidade e cautela dos países para construir uma nova ordem econômica e geopolítica que estabeleça maior cooperação e canalize os esforços para mitigar os efeitos econômicos do mundo pós-pandemia e da crise energética. Somente com os investimentos adequados, previsibilidade e estabilidade, o Brasil conseguirá conquistar o protagonismo, podendo, inclusive, contribuir com uma nova ordem mundial de cooperação para o setor de energia.

Felipe Kury é ex-diretor da ANP.

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