Wal Reis

Me ame pelo meu pior

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Porque pelo meu melhor é fácil

*Por Wal Reis

É muito fácil amar o admirável, aquele que dá orgulho, amar o que deu certo. Difícil é amar os repetentes da vida, quem demora para aprender as lições ou nunca aprende.

Às vezes, sentimos falta de sermos admirados por nossas fraquezas e inoperâncias. Por nossas postergações. Queremos ser recebidos com o beijo da vitória mesmo chegando em último lugar. Ouvir: “fique aqui, não precisa ir lá enfrentar nada, não” ao invés de te chamarem de covarde. Porque tem hora que a gente se acovarda e isso não deveria ser motivo de desamor.

Não há muito mérito em amar os determinados, aqueles que não desviam do alvo e são coerentes. É muito simples apreciar a perfeição ou o que julgamos perfeito. Reconhecer no outro características nossas para nos desmancharmos em amor como se estivéssemos admirando um espelho. Isso é só amor próprio, necessário sim, mas é amando o diferente que este amor transborda. Ninguém precisa ser imagem e semelhança de ninguém para que a paixão entre em modo on.

Amando o imperfeito experimentamos o amor perfeito, aquele que não esvazia. Quem ama de um jeito orgânico, vai amar a comida caprichada para ser saboreada com mesa posta, mas vai amar a refeição chamada às pressas pelo delivery quando o prato principal deu errado porque nem sempre se acerta a receita e não há demérito nenhum nisso. Vai amar a organização, mas vai amar igualmente quem troca os pés pelas mãos e esquece de pagar o boleto. Vai amar o que foi promovido, mas também aquele que aos 30 anos ainda está decidindo entre engenharia e gastronomia.

Vai sorrir ao invés de condenar os potes com tampa mal fechadas, que podem causar acidentes domésticos, e a confusão de tarefas que se sobrepõem porque aquele jeito aparentemente torto de levar a vida tem uma assinatura. E é uma assinatura amada.

Todo mundo está apto a melhorar, claro. Mas geralmente isso deve ser feito por vontade própria e não como uma catequização jesuítica. Quem ama não coloca as mudanças como condição para continuar amando e nem espera que o outro mude para se transformar em outro alguém.

Quem ama, mas ama mesmo, não quer te moldar, como se estivesse diante de uma argila bruta, para criar o que julga ser uma pessoa melhor. Porque quem ama tem certeza que você já é o melhor.

*Wal Reis é jornalista, profissional de comunicação corporativa e escreve sobre comportamento e coisas da vida. Blog: www.walreisemoutraspalavras.com.br

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