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( votes)Postergamos a hora de ser feliz para priorizar os outros como se isso fosse o certo a fazer.
*Wal Reis
Adiamos muito o momento de ser feliz. Tanto que, às vezes, nem dá para fazer isso no tempo regulamentar do jogo. Esperamos a formatura, o emprego estável, o dinheiro sobrar, o casamento engrenar, o crescimento dos filhos e – pasmem – até a morte dos pais para só então implementar algo que seja verdadeiramente por nós mesmos.
Mas é tanta espera que, não raro, esses projetos vão perdendo a força ou ficando impossíveis de serem executados, dado o avançado da hora. É como se estivéssemos atrasados para a própria festa, chegando quando a orquestra já entoa os acordes finais e, cansados e sem ânimo devido a longa viagem, nem nos animamos a dançar a última música.
Mesmo sem querer, passamos a vida dando satisfação aos outros, numa ânsia frenética de corresponder às expectativas terceiras. Quanto talento desperdiçado, quanto sonho abortado em prol de “ser certinho”, de se encaixar em padrões e não ser taxado de filho ingrato, de desmiolado ou irresponsável. Andando na trilha já pisada, você até escapa de ser apontado como a ovelha negra, mas não se esquiva de uma angústia crescente por sempre ir na contramão de suas próprias vontades, sujeito a morrer atropelado por planos que nunca foram os seus. São inúmeras âncoras que prendem nossos pés, impedindo a navegação. Ficamos ali, em mar calmo e, com o passar dos anos, deixamos de olhar o horizonte.
Em nome da moral e dos bons costumes, mantemos relacionamento ocos, nos dedicamos cuidando dos mais velhos e dos mais novos. Até que os velhos se vão e os novos também. E ficamos no meio do rio, sem saber para onde nadar, perguntando se é tarde demais para ir para um lado ou demasiado cedo para alcançar a outra margem.
Escreva sua própria história
No começo você até tenta acreditar que vai mudar. E fala isso em voz alta, para todo mundo ouvir, na esperança de que o sonho ganhe tons de realidade: uma viagem de mochilão por meses pela Europa, mudar para uma casa simples na praia, largar o emprego que paga suas contas, mas te reprime, por uma ocupação mais incerta, porém promissora no quesito realização pessoal.
Criar cavalos. Tocar violão. Escrever poesia. Um trabalho social. Porque nem sempre o que te completa precisa ser revolucionário. É só tomar para si um pouco do próprio tempo para fazer um uso legítimo dele e treinar ser a pessoa que você nasceu para ser.
Não adianta nada ler todos os manuais de autoajuda se, na hora do vamos ver, nos colocamos em segundo plano, esperando receber uma medalha de cidadão exemplar de quem só julga o livro pela capa e não está nem aí com a biografia que deveria estar escrita lá dentro. Porque, enquanto a gente não tomar conta da caneta, essa história corre o sério risco de não passar do primeiro capítulo.
*Wal Reis é jornalista, profissional de comunicação corporativa e escreve sobre comportamento e coisas da vida. Blog: www.walreisemoutraspalavras.com.br
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