A onda da imigração de brasileiros, que vem ocorrendo nos últimos anos, está trazendo muitas pessoas das classes mais altas
Acontece 20 Anos

Curiosidades e números sobre os brasileiros que residem na Flórida nos últimos 20 anos

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A vinda de brasileiros para a América é uma realidade que começou a ganhar força há pelo menos quatro décadas. Durante um bom tempo, a Flórida não foi o destino principal da grande maioria, mas, lentamente, começou a atrair muita gente que vinha do Brasil e se tornou nos últimos anos o seu principal destino. Com milhares de brasileiros vivendo aqui há 10, 20 anos ou mais e outros que chegaram há pouco tempo, existem muitos fatos e números interessantes que nos ajudam a entender melhor a história do povo que decidiu tentar a sorte nesse estado.

Quem veio do Brasil e reside na Flórida já há alguns anos tem a nítida sensação de que a comunidade brasileira não para de crescer e que os dados oficiais (que relatam 260 mil brasileiros vivendo atualmente só no estado) não batem com essa impressão, pois muitos ligados à comunidade brasileira estimam que haja no mínimo 370 mil brasileiros morando aqui. Essa discrepância de números, em parte, pode ser explicada porque há os brasileiros em situação irregular, que por medo de serem deportados, acabam não respondendo a nenhum tipo de pesquisa.

O professor/mestre em Estudos Estratégicos, da Defesa e da Segurança pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e atualmente doutorando em História, Política e Bens Culturais na Fundação Getúlio Vargas (FGV), Alex Guedes Brum, é um profundo pesquisador sobre a comunidade de brasileiros na Flórida, tendo inclusive lançado o livro “Brasileiros no exterior: o caso da Flórida”. Ele explica a dificuldade em encontrar números exatos sobre a imigração brasileira. “O Ministério das Relações Exteriores disponibiliza “estimativas” a partir de 2008. Olhando somente para esses dados, temos a impressão de que não houve mudança no número de brasileiros na Flórida, o que não é necessariamente correto. Já os dados governamentais dos Estados Unidos, o American Community Survey (ACS), não computam os imigrantes brasileiros em situação irregular. Portanto, não deve ser levado em conta se o interesse é no número de brasileiros como um todo. Apesar de eu não ter dados oficiais que cubram todo o período em análise, as entrevistas que realizei com lideranças comunitárias me permitem afirmar que houve um aumento no número de brasileiros na Flórida nos últimos 20 anos, principalmente nos primeiros anos do milênio, até o momento do estouro da crise econômica nos Estados Unidos.”

O diretor de Pesquisa da Prefeitura de Boston (Boston Planning and Development Agency – bpda), Álvaro Lima, explica o crescimento de brasileiros na Flórida. “Os brasileiros, como é comum à maioria dos imigrantes, residem principalmente nas grandes regiões metropolitanas, onde as oportunidades de trabalho são maiores. No entanto, o padrão de assentamento da população brasileira imigrante nos Estados Unidos mudou consideravelmente após 1980. Até então, Califórnia e Nova York eram os estados com as maiores populações de brasileiros – mais de um terço da população brasileira nos Estados Unidos. No mesmo ano, somente 12% dos imigrantes brasileiros viviam nos estados da Flórida e Massachusetts. Em 1990, essa distribuição começa a mudar em favor da Flórida e de Massachusetts (23%), enquanto que a parcela da população vivendo na Califórnia e Nova York diminuiu para 32%, uma tendência que iria acentuar-se nas décadas seguintes. A Flórida, com 21% da população brasileira, era o estado de destino mais popular para os brasileiros em 2000. Em 2014, a Flórida concentrava a maioria dos brasileiros (20%), seguida dos estados de Massachusetts (17%), Califórnia (10%), Nova Jersey (9%) e Nova York (7%). A Flórida, com cerca de 260 mil brasileiros, de acordo com as estimativas do Ministério das Relações Exteriores (MRE) e a distribuição do ACS por estado, é o destino mais popular para quem vem do Brasil. Uma análise da população brasileira por área censitária (census tracts) mostra que há duas áreas primárias de assentamento dos brasileiros na Flórida: Miami-Fort Lauderdale-West Palm Beach e Orlando.”

Mudança no perfil dos brasileiros que imigraram para a Flórida
Em um artigo intitulado “A História da Imigração de Brasileiros para o Sul da Flórida”, o professor Alex analisou a mudança no perfil do brasileiro que imigra para o sul do estado. “Percebi que a imigração de brasileiros para a Flórida ocorreu em três ondas: as décadas de 1980 e 1990 (especialmente a década de 1990) trouxeram principalmente a classe média brasileira; a década seguinte (final da década de 1990 e início da década de 2000 até a crise econômica de 2007-2008) trouxe multidões de brasileiros, a maioria da classe trabalhadora brasileira buscando oportunidades de negócios em trabalho manual; e a terceira onda da imigração, que vem ocorrendo nos últimos anos, está trazendo muitos brasileiros das classes mais altas. Ou seja, nas últimas duas décadas, houve uma mudança no perfil da comunidade de brasileiros na Flórida. O estado deixou de atrair majoritariamente a classe trabalhadora para receber crescentemente brasileiros de classes mais altas com o objetivo de investir. Esses brasileiros possuem grau superior de instrução e/ou alta qualificação nas diversas áreas de atuação profissionais.”

Alex Guedes Brum, autor do livro “Brasileiros  no Exterior- O caso da Flórida” - Foto: Acervo Pessoal

Lima também destaca uma mudança: “O perfil dos imigrantes brasileiros que chegam aos Estados Unidos neste período mais recente tem sido relativamente diferente do perfil da maioria que empreendeu a viagem entre 1980 e 2010. Grande parte dos brasileiros imigrantes nesta nova fase busca os meios legais para iniciar o processo migratório. Segundo a Receita Federal Brasileira, entre 2013 e 2015, o número de Declarações de Saída Definitiva aumentou quase 40%, indicando a intenção de emigrar de forma legal”.

Flórida é o estado com mais empresas de brasileiros
Segundo Lima, os empreendedores brasileiros estão espalhados pelo país todo, sendo 15.392 empresas formais, com a Flórida assumindo o primeiro lugar com 36% dessas empresas, seguida pelo estado de Massachusetts (11%) e Nova York (9%). Os estados da Califórnia e Nova Jersey possuem cada um 8%, enquanto Geórgia e Connecticut, 4% cada. Juntos, esses estados agregam 80% dos brasileiros proprietários de pequenas empresas.
A maioria destas empresas está concentrada nos setores de Construção (25%), Serviços Profissionais, Científicos e Técnicos (22%), Outros Serviços (11%), além do Comércio Varejista (7%).

Motivos que levam os brasileiros a escolherem a Flórida
Por meio de seus estudos, o professor Alex também pôde traçar os motivos que fizeram a Flórida se tornar o destino preferido do nosso povo que vem em busca de uma vida nova. “A partir da década de 1980, a entrada de empresas multinacionais “importaram” business men brasileiros. Empresas brasileiras como Vasp, TAM, Odebrecht e Banco do Brasil também transferiram funcionários para Miami. Eles trouxeram suas famílias e contribuíram para o início de uma rede de imigração de seus conterrâneos. Em torno deles, outra rede de imigrantes se formou, pois outros brasileiros imigraram como mão de obra de apoio (babás, motoristas, importadores de bens brasileiros etc.). A crise econômica que o Brasil sofreu a partir da década de 1990 justificou a formação de uma nova rede de brasileiros na Flórida. A proximidade com o Brasil e o clima parecido também influenciaram na escolha pelo estado. O condado de Broward atraiu brasileiros por motivos diversos, como as igrejas evangélicas que enviaram missionários para a região, a força de atração das redes de amigos e parentes e a chegada de imigrantes que viviam em outras partes dos Estados Unidos para abrirem negócios na Flórida. Há outros possíveis vetores de atração brasileira para Broward, como a fraca presença de imigrantes latinos – fortes concorrentes no mercado de trabalho de Miami-Dade – e a diferença de custo de vida em comparação ao outro condado, especialmente no que diz respeito ao mercado imobiliário. Atualmente, inúmeros brasileiros mais ricos (Classe A) estão imigrando para a área de Miami. A explicação predominante é que esses não se sentem mais seguros no Brasil, tanto fisicamente como economicamente.”

Imigrar não é tão fácil quanto há 20 anos
Segundo o professor Alex, apesar do crescimento de brasileiros na Flórida e nos EUA como um todo, o panorama para a imigração não é mais igual ao de duas décadas atrás. “Atualmente está mais difícil imigrar para os Estados Unidos do que há exatos 20 anos, em 1999. Antes dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001, imigrar para a “América” era mais fácil. Desde então, os Estados Unidos mudaram as regras para a entrada e permanência no país e aumentaram a fiscalização nos aeroportos. O país mudou profundamente a forma de encarar imigrantes. Mais recentemente, o crescimento da xenofobia e a chegada de Trump ao poder foram responsáveis por dificultar a vida do imigrante e daquele que aspirava emigrar.”
Apesar das dificuldades, Lima destaca que os brasileiros conseguem se adaptar muito bem à cultura de um novo país. “Por um lado, a integração dos brasileiros tem sido mais fácil do que dos outros imigrantes latino-americanos. Em parte isto se deve ao fato de que a maioria da população imigrante brasileira seja oriunda de cidades grandes ou de porte médio e, portanto, já sabe como viver no meio urbano, como explorar a economia da cidade. Por outro lado, esta integração é fragilizada pela grande proporção de pessoas indocumentadas, o que não lhes permite uma integração compatível com as suas qualificações. Quanto à integração social, ela sempre foi fácil dada a índole do brasileiro. Recentemente, estamos fazendo grandes progressos na área política com a participação maior nas eleições americanas e da conquista nesta eleição passada de vários brasileiros eleitos em pleitos locais.”

Álvaro Lima, diretor de Pesquisa da Prefeitura de Boston
Números dos brasileiros na Flórida
Para analisar o perfil socioeconômico da comunidade brasileira na Flórida, o professor Alex usou o Projeto Mapeamento, realizado pelo Conselho de Cidadãos da Flórida no ano de 2014 e levantou os seguintes dados:
Sobre a sua situação legal: 23% dos entrevistados declararam não dispor de documentação para residir nos Estados Unidos, 10% têm visto (trabalho/estudante/outro), 29% possuem green card e 38% são cidadãos dos Estados Unidos.
Renda familiar: 8% da comunidade brasileira têm renda familiar anual de US$ 5.000 a US$ 20.000, 19% de US$ 21.000 a US$ 35.000, 22% de US$ 36.000 a US$ 55.000, 16% de US$ 56.000 a US$ 75.000, 9% de US$ 76.000 a US$ 95.000, 6% de US$ 96.000 a US$ 105.000, 12% acima de US$ 106.000 e 8% não responderam.
Ocupação: 35% empregados, 37% autônomos, 1% funcionários públicos, 18% empresários e 8% estão desempregados.

Influência econômica dos brasileiros na Flórida
Nesses últimos 20 anos, a influência econômica dos brasileiros na Flórida, especialmente no sul do estado, cresceu muito, ofertando uma grande variedade de negócios de propriedades de brasileiros, incluindo restaurantes, lanchonetes, salões de beleza, agências de viagem e de remessa de dinheiro, companhias de mudança e lojas que vendem artigos do Brasil.
“A área também é lar de muitos profissionais brasileiros – como médicos, dentistas, advogados e contadores – que têm, em grande parte, uma clientela brasileira. Os brasileiros ajudaram a reconstruir a economia da Flórida através do setor imobiliário, desenvolvimento de negócios e do turismo. No entanto, a contribuição vai além da esfera econômica. A comunidade também deixa suas marcas na cultura. Recentemente, aumentou o número de escolas bilíngues, português e inglês, em Miami. Além disso, organizações de brasileiros vêm desenvolvendo programas que buscam impactar a comunidade de imigrantes como um todo”, finaliza o professor Alex.

É importante que tanto o documentado quanto os indocumentados  participem do Census americano que vai acontecer em 2020

A importância de participar das pesquisas e do Census
Para que se possa traçar um perfil cada vez mais detalhado dos brasileiros que residem na Flórida, é importante que tanto o documentado quanto os indocumentados participem do Census americano que acontece a cada 10 anos e que vai acontecer novamente em 2020, pois estes resultados afetam diretamente a maneira como o fundo federal é distribuído nos níveis estadual, local a tribal, e define verbas e programas para auxiliar diferentes comunidades.

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