User Review
( votes)Ah que saudade de “pular Carnaval”! Nos meus tempos de criança, eu ia à matinê do Clube Atlético Paulistano com fantasias que minha mãe mesma costurava. Ela me levava um dia só, mas nos outros dias íamos ver a competição de fantasias que o Clube organizava. Quem não se lembra do saudoso Clovis Bornay nos anos 70 (sim, sou daquela época) com suas fantasias caríssimas e maravilhosas? Eu ficava de boca aberta, pensando sobre arte e as maneiras como essas fantasias eram feitas. Depois que me mudei para a terra do Tio Sam nunca mais participei e “pulei”.
Sempre vi o carnaval como uma obra de arte. A quantidade de criatividade investida nos temas das escolas de samba e nas confecções das fantasias e carros alegóricos não poderiam sair de alguém sem talento e dons artísticos. Sem dúvida, o Carnaval está literalmente ligado às artes visuais.
Nós brasileiros temos vários artistas plásticos que nunca confeccionaram uma fantasia, mas sim retrataram em suas obras, o tema do carnaval.
Se você me perguntar qual a primeira vez que o carnaval foi retratado por um artista, eu vou dizer que foi há muitos e muitos anos. O primeiro artista que pintou uma cena carnavalesca (não do Rio de Janeiro) foi Pieter Bruegel em 1559, intitulado “Luta entre o Carnaval e a Quaresma”. O quadro retrata a desordem e a euforia dessa festa popular.
Outra curiosidade que vocês não devem saber foi que lá pelos meados do século XVI o pintor Jean Baptiste Debret, artista oficial do Império e o responsável por ter criado nossa Bandeira Brasileira (foi ele que criou a forma verde com o losango amarelo) também pintou cenas carnavalescas intituladas “Carnaval” e “Marimbas” que agora estão em exposição no Museu da Chácara do Céu, no Rio de Janeiro.
Di Cavalcante, patriarca da arte moderna brasileira, foi um pintor que sempre retratou a comunidade e as festas populares do Rio de Janeiro. “Carnaval”, pintada em 1965, foi uma das obras desse mestre tão querido.
Outra artista modernista foi Tarsila do Amaral que pintou “O carnaval em Madureira”, depois de ter vivenciado o carnaval do Rio, em 1924.
Candido Portinari ficou famoso por suas festas juninas, e procissões, mas também com sua obra “Carnaval”, pintada em 1960, retratando a festa carioca com suas baianas tradicionais, fantasias e blocos diversos.
Nos anos 60 e 70, Hélio Oiticica teve uma forte conexão com o carnaval carioca, onde foi passista da Mangueira. Nessa época, por volta de 1964 ele começou a produzir seus “Parangolés” –anti-obras de arte como ele os definiu, que surgiram dessa conexão. Parangolés eram capas, faixas e bandeiras feitas de tecido e plástico que continham dizeres políticos ou pura poesia. Pessoas vestindo os Parangolés deixavam de ser passistas para se tornarem obras de arte.
-Beatriz Milhazes também já retratou o carnaval por meio de suas obras brilhantes, cheias de movimento, cor e curvas, com imagens estilizadas de carros alegóricos de escolas de samba, fantasias, saias rodadas das baianas e elementos decorativos dos famosos bailes dos clubes. Dizia Beatriz: “Toda a selvageria e liberdade da cor, que tem critérios abertos de como vão se encontrar, seja na fantasia, nos adereços, na relação entre eles. Tudo é selvagem. Eu não sou carnavalesca. Sempre falo que sou uma carnavalesca conceitual. Assistir aos desfiles me dava vontade de ser artista. A cor vem desse universo da arte popular, mas também da natureza no Rio, dos contrastes. Você tem o azul do céu, o verde das montanhas.”
E você? Vai “pular” o carnaval ou vai fazer arte por aí?
Comente