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( votes)Por Dr. Ana Gouvea
No meu trabalho com crianças e adolescentes percebo que a reclamação de 99% dos pais é que o filho/a passa muito tempo no celular e nas redes sociais. Os pais têm a intuição de que o excesso de tempo no celular prejudica não só a saúde física das crianças por causa do sedentarismo, mas também a saúde mental. Mas as redes sociais são realmente perigosas para crianças e adolescentes? Várias pesquisas mostram que as redes sociais tem um impacto negativo na saúde mental dessa população.
O documentário ‘O Dilema das Redes’ (The Social Dilemma em inglês), recém lançado pela plataforma de streaming Netflix, discute os perigos das redes sociais não só para crianças e adolescentes bem como para a democracia e a sociedade em geral. O filme explora como as redes socias podem disseminar desinformação e teorias da conspiração, ser viciante e manipular o comportamento humano.
No documentário, os efeitos desses aspectos negativos das redes sociais para a saúde mental das crianças e adolescentes fica claro quando o psicólogo social Jonathan Haidt menciona que a partir de 2011, 2013 a ansiedade e a depressão tiveram um “aumento gigantesco” entre os adolescentes nos Estados Unidos. E as estatísticas são estarrecedoras…
Dr. Haidt cita que a partir de 2010/2011 o número de meninas adolescentes que foram hospitalizadas porque se cortaram ou tentaram algum tipo de auto-mutilação (self-harm) aumentou 62% em meninas de 15-19 anos e 189% em meninas de 10-14 anos. Sim! 189%… O mesmo padrão aparece em taxas de suicídio. Entre meninas de 15-19 o cresimento nas taxas de suicídio foi de 70% e entre meninas de 10-14 anos o crescimento foi de 151%! Sim! 151%… Dr. Haidt sugere que esse aumento está correlacionado à disponibilidade das redes sociais nos telefones celulares e que a geração Z é mais ansiosa, mais frágil e mais deprimida.
O documentário também menciona um fenômeno conhecido como Dismorfia do Snapchat (Snapchat Dysmorphia em inglês). Nesses casos adolescentes buscam alterar a aparência física através de cirurgias plásticas para parecerem com suas imagens usando os filtros do Snapchat!
No meu consultório vejo esses efeitos também. Adolescentes ansiosos, deprimidos e com problemas de auto-estima e disfunções alimentares porque se sentem feios e gordos por causa dos padrões de beleza impostos pelas redes sociais. Meninas magras que se sentem gordas, que se sentem feias quando se olham nos espelho, que queriam ter a cintura mais fina, o nariz mais delgado, etc, etc.
É muito importante que os pais prestem atenção e regulem o tempo que as crianças passam no celular e que existam regras claras sobre o uso de redes sociais e celulares. Algumas sugestões de regras: celular fora do quarto 1 hora antes de dormir, evitar o uso de redes sociais antes do ensino médio e estabelecer um tempo diário para o uso do celular que não exceda 2 horas. Se você acha que o seu filho/filha precisa de ajuda, procure um professional de saúde mental qualificado.
Dr. Ana Gouvea é terapeuta (Conselheira de Saúde Mental, LMHC). É também profissional certificada no tratamento clínico do trauma (Certified Clinical Trauma Professional, CCTP), certificada em Atenção Plena (Mindfulness) no tratamento de crianças e adolescentes e um Ph.D. em linguística. Contatos: www.anagouvea.com, dranagouvea@gmail.com, (305) 918-2533. Instagram:@dranagouvea
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