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Idosas brasileiras – mulheres independentes e ativas

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Especial ‘Falas da Vida’ terá entre seus cinco personagens, três mulheres

 Com apresentação de Zezé Motta, o especial ‘Falas da Vida’, que será exibido no canal internacional da Globo, no dia 1º de outubro, Dia Internacional dos Direitos da Pessoa Idosa, traz cinco personagens que pretendem representar um grande grupo, cerca de 20% da população brasileira. Entre eles, três mulheres com histórias de vida bem diferentes, mas que se encontram em dois pontos importantes: independência e trabalho. Poderíamos cair no erro de dizer “são idosas e ainda trabalham”. Mas não é sobre isso. É sobre complementar a renda de uma aposentadoria muitas vezes insuficiente; ou ainda optar por trabalhar para manter o convívio social, que tantas vezes é restrito aos idosos por preconceito. Gracinda Mendes da Silva Senna, Regina Maria Leite Pereira e Albertina Silva Rocha são de locais diferentes – Rio de Janeiro, Minas Gerais e Maranhão, respectivamente –, têm idades diferentes – 72, 62 e 75 – mas todas trabalharam a vida toda e continuam ativas. Elas são o ponto central financeiro e emocional de suas famílias.

Albertina Silva Rocha, mais conhecida como Bebel, divide a casa e a renda com um filho, a nora, três netos e um bisneto. Em Barreirinhas, onde mora, ao lado dos Lençóis Maranhenses, Bebel atuou a vida inteira como professora, sendo responsável pela alfabetização de sua comunidade. Já próxima de se aposentar, prestou concurso público para a área de Saúde e continuou trabalhando por muitos anos, tornando-se uma figura central no apoio às necessidades do seu povoado. Hoje, aposentada, Bebel continua extremamente ativa.

“Acordo cedo, cuido da minha cozinha, molho os meus canteiros, vou para minha roça, ao chegar ajudo fazer a comida se não estiver pronta. Depois do almoço descanso um pouco, se tiver marcada reunião compareço, se for época de frutas vou apanhá-las para produção. Faço doce de buriti, caju, acerola, bacuri, seriguela, goiaba, abacaxi, murici etc. O que mais vendo é o doce de buriti”, diz orgulhosa. Para Bebel, conquistar sua independência é o melhor presente que a maturidade lhe trouxe. Da juventude, sente falta da coragem e força de vontade para enfrentar as dificuldades. Ainda assim, ela sabe que essas características ainda lhe acompanham, mesmo que em menor dose. “Hoje posso dizer que tenho mais garra e força de vontade, mesmo com certos limites. Sou uma pessoa independente. Meus cabelos brancos me dizem que a idade chegou, mas não só isso. O conhecimento que passo para meus filhos, de tudo o que já passei, também”, diz Bebel, cheia de orgulho.

Para a educadora, essas conquistas têm um valor ainda maior diante das dificuldades que os idosos passam no país. “Ser idosa no Brasil é algo difícil por causa do preconceito. Não me sinto respeitada enquanto idosa. Todos nós, mais velhos, sofremos muito, não temos nossos direitos respeitados”, lamenta Bebel.

A três mil quilômetros de distância de Bebel mora Gracinda. Carioca, ela se orgulha de ter conquistado há poucos anos o terceiro lugar no concurso ‘Miss Jacarepaguá’. Gracinda se tornou modelo da terceira idade há poucos anos, e além de tirar deste ofício parte de sua renda, ela também a complementa como faxineira.

“Tenho muita vitalidade, mas tenho bem a quem sair. Minha mãe era assim, morreu com 92 anos, nunca usou cadeira de rodas, ia ao banheiro sozinha, tinha uns problemas de esquecimento, mas era uma pessoa cheia de saúde”, diz Gracinda, que trabalhou parte de sua vida como bancária. Hoje, apenas uma neta mora com ela, mas já foram três. Diz que a casa vive cheia e que se considera, sim, um ponto de apoio para os filhos e netos, que estão sempre entrando e saindo. “Eu falo para meus filhos e netos que tudo nessa vida passa e depois depende muito do seu querer. Você não deixa de fazer uma coisa que quer olhando para seu passado. Você tem que olhar para frente e principalmente para o presente”, compartilha.

Há cerca de 20 anos, ela viu sua vida mudar após uma separação difícil. Entrou em depressão e ganhou muito peso. Uma amiga a convidou para morar um tempo fora do país e foi quando sua vida começou a mudar. “Quando cheguei lá ela me arranjou um emprego para fazer faxina. Fiquei seis meses e voltei outra pessoa. Lá mesmo arrumei um namorado, e quando voltei todo mundo viu que eu tinha mudado pra valer. Eu fiz essa promessa a mim mesma, que eu ia vencer. Minha mãe me ensinou que tudo nessa vida passa, e foi o que ensinei para os meus filhos”, celebra a modelo.

A mineira Regina Maria Leite Pereira viveu situações completamente diferentes de Gracinda e Bebel, mas é igualmente grata ao trabalho e à sua independência. Ela é terceira de 15 irmãos e sempre ajudou os pais nos cuidados com os menores. Na adolescência, nunca saía sozinha com o namorado, que viria a ser seu marido até os dias atuais. Sempre estava rodeada de crianças, às quais muitas vezes cuidava como mãe. Casada e com dois filhos – um casal –, Regina teve mais uma menina. Um pouco mais velha que eles, e adotada. Hoje, todos são adultos e donos de suas próprias vidas. Mas Regina continua no papel de cuidadora. Há alguns anos sua sogra mora com ela e o marido. Ela tem Alzheimer e Esquizofrenia, e é Regina quem lhe dá os remédios, cuida dela em casa, a leva às consultas e sessões de tratamento.

“Você vai adquirindo resistência com a experiência do dia a dia. Às vezes, uma coisa pequena pela qual você brigava não tem mais importância. Uma vez eu vi uma entrevista da esposa do Jorge Amado, uma repórter perguntou sobre a toalha molhada que ele deixava em cima da cama. Ela respondeu que isso era tão pequeno diante de todas as grandes coisas que os envolviam… E eu levei isso para mim. Quanto menos a gente brigar, melhor. Os maiores ensinamentos que a vida me deu são, sem dúvidas, resistência e resiliência”, diz a mineira.

Há algum tempo Regina trabalha com a venda de óleos essenciais. “A pandemia foi muito ruim em muitos sentidos, mas eu não posso reclamar, pois com a venda dos óleos consegui ajudar muitas pessoas nesse período. Tenho mais de 100 clientes, ajudei pessoas a respirarem melhor na recuperação da doença, com aromaterapia. Esse trabalho fez a maior diferença na minha vida”, relata.

O especial vai ao ar no canal internacional da Globo, em simulcast no Globoplay, no dia 1º de outubro, logo após ‘Império’. ‘Falas da Vida’ tem direção geral de Patrícia Carvalho, direção de Ivone Happ e roteiro assinado por Ines Stanisiere, com produção de Beatriz Besser. Rafael Dragaud é o diretor executivo e Mariano Boni, diretor de gênero. 

Foto: Dona Bebel

Crédito:  Globo/João Miguel Júnior

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