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De mãos dadas

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Crônica por Nilson Lattari

As mãos dadas são dadas a cada um que se proponha a conduzir alguém. De mãos dadas, um homem e uma mulher saem do altar, uma mãe conduz, emocionada, um filho no primeiro dia de aula, ou pode, bastante irritada, trazer de volta o filho que fez uma travessura na mesma escola onde estava.

De mãos dadas um jovem casal, ou mesmo outro já na idade mais madura, se vão entre as vitrines, as cadeiras do cinema, pelas calçadas, alguns trazendo o segredo do corpo que já viram desnudo, como se fossem os únicos no mundo portadores dos percorridos caminhos que as mãos descobriram.

E quando um deles, afastado, sorri para uma vitrine e para o ser amado, tentando descobrir o que o outro pensa, talvez não imagine que aquele olhar intenso é apenas o relembrar o corpo conhecido. E insistem em continuar olhando apenas para que o sorriso do outro se prolongue, até que uma interrogação se forma sobre o olhar iluminado, como se perguntasse o que o outro estará pensando ou sentindo.

De mãos dadas duas crianças saem para brincar, outros para apertar as mãos e finalmente se prepararem para conhecer o que cada um pode dizer.

De mãos dadas dois seres podem conversar em surdina, podem se entregar dormindo, imaginando que seguirão em seus sonhos como continuação da vida que o sono interrompeu brevemente.

De mãos dadas podem se interessar por um objeto em comum, podem apontar em uma direção, e as mãos vão se procurando, são ímãs que se atraem e com o passar do tempo não se podem imaginar, se conduzindo por qualquer lugar, e as mãos vazias já não se contentam em ficar sozinhas, querem e sentem a falta do calor do outro nos dedos, no leve contato do corpo. As mãos se embalançam no andar, porque é uma dança que somente seus ouvidos podem ouvir, de uma música sem som.

As mãos dadas são segurança, são apoios, são um abraço que espera complemento, são resquícios do que está por vir, ou a satisfação do que se fez, pouco tempo atrás.

As mãos que se tocam são escritas, são cartas que não se precisa escrever, são códigos, pequenos apertos, pedindo atenção, ou dão ênfase no dizer. Podem estar bravas, separadas significam distância, e juntas são relações de confiança, são selos que não podem se romper.

A primeira mão dada, para uma mãe e um pai é a realização de um compromisso de responsabilidade com o futuro. Para os primeiros enamorados é o sinal de que um beijo está vindo. 

Photo by Roman Kraft on Unsplash

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