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( votes)Raquel Afonso Ferreira reside em Orlando há mais de duas décadas e por vários anos trabalhou no setor aéreo onde teve contato com pessoas de várias nacionalidades e falantes de inúmeras línguas. É frequentadora da biblioteca da cidade, pouco conhecida por quem passa apressado pela Flórida Central somente atrás de parques temáticos e compras. Ela é uma ótima “contadora de casos” e de situações pitorescas envolvendo a língua portuguesa, os demais idiomas e os brasileiros. Ela argumenta que língua materna é a fonte de/para tudo o que vem pela frente: “principalmente argumentar”. E deixa claro que “esse argumentar não é discutir”.
É também uma crítica, como tantos, da limitação dos recursos que utilizamos do português. Mas a crítica da Raquel é ao seu modo, repleto de inteligência, jogo de palavras e uma pitada de ironia. “Não sejamos mesquinhos nem façamos economia com pontuação: pontos, vírgulas, dois pontos, ponto e vírgula e demais caracteres encontrados no outro teclado dos celulares…” lembra e completa: “felizmente a última flor do Lácio – atualmente mais inculta, porém sempre bela, nos permite deambular noutras tantas línguas vivas por esse mundão afora: brasileiros, somos andejos”! Para quem está com preguiça de ir ao dicionário… andejos = caminhantes, andarilhos, viajantes.
Raquel conta que, certa vez, conhecidos dela, ainda jovens, há décadas, embarcam num avião da companhia aérea francesa, ainda em Viracopos, em São Paulo. “Ao se acomodarem, leram os sinais luminosos vermelhos como se fossem escritos em português: EXIT/SORTIE. Ficaram felicíssimos pois não imaginavam como fizeram avisos especiais só para brasileiros e, principalmente, lhes desejavam: ÊXITO & SORTE”. Quando na verdade era a palavra “saída” em inglês e francês, respectivamente.
Raquel também lembra de joalheiros que comentavam que, frequentemente, clientes queriam opções de escolha para anéis de noivado: “CHUVEIRO ou SANITÁRIO”. Ela também conta que crianças flexionavam a palavra sofá, criando ‘sofadas’, ao se referirem as almofadas dos sofás.
É dela também o resgate da memória de um jornalista e poeta curitibano, Emílio de Meneses, também extremamente perspicaz. Contam que ele viajava num bonde quando teria sido abordado por uma atriz que o assediava e saiu com essa indicando outro local no coletivo para que ela se sentasse: “atriz, atroz, atrás há três”.
E, por fim, não menos importante, Raquel que viaja bastante por esse mundão, quando abordada por uma amiga, dessas que querem saber demais da vida alheia e perguntou: “onde você está?”. Raquel tangenciou com um “estou bem”.
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