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( votes)Crônica por Nilson Lattari
De pão vive o homem para buscar a alimentação do corpo. Mas, não só de pão vive o homem, mas vive do alimento da arte, do alimento do olhar, do alimento da vontade.
Qual aquele que, estando diante do ser amado, mesmo depois de desprezar a poesia como arte menor, de pouca importância, produto de fraquezas humanas, não se torna capaz de fazer promessas, fazer comparações de belezas, dizer amorosas frases, inconscientemente, se valendo das amarguras, dos desamparos daqueles mesmos poetas?
Quando se descobre o amor, ou no êxtase de um descobrimento, são as palavras de sensíveis seres, que eternizaram em papéis largados nos cantos das mesas, nas brochuras de livros velhos, nas epígrafes, que descobrimos que o alimento de que nos servimos foi dado por um artista da palavra.
Descobrimos as belezas das cores quando elas se juntam e formam uma figura que não sai da nossa lembrança. Nos alimentamos da organização das cores ao organizar nossa casa, nossa mesa de trabalho, nossas roupas, na combinação da cortina; um artista nos deu na boca a fina expressão de um pensamento na forma da cor, e nos disse, sem sabermos, o que não pode permanecer junto e aquilo que é inseparável.
E as formas curvas, retas, aplicadas com maestria nos alimenta no percurso com que a avidez do nosso olhar percorre paisagens. Sensuais nas ondulações, na correção do raciocínio em célere encontro pelo caminho mais rápido, ditos pelos artistas dos números, nos desenhos incontroláveis dos arquitetos. Como nos alimentamos do certo, do plausível dito por outros!
Nem só de pão vive o homem, porque a alma não se alimenta de corpos vivos, de matéria. Nossa alma se alimenta do frescor do mundo, das ideias novas, dos projetos, daquilo que fazemos e daquilo que não fazemos, mesmo as decepções da nossa alma a enriquecem e, fortalecida, está sempre pronta para alavancar nosso futuro.
Nossa alma se alimenta da energia proporcionada por outras almas, outros seres; nossa alma se alimenta daquilo que aprendemos, daquilo que ensinamos, ir e vir contínuo do fluxo temporal, sangue a correr rápido, alimentado pelos incentivos; pela nossa história.
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