Nilson Lattari

Crônica: Um Dia na Vida do Sábio

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Por Nilson Lattari

Como seria um dia na vida de um sábio? Lendo, estudando, diriam alguns. Em parte, acredito que isso seja verdade. Para ser sábio é preciso estudar, ler, aprender a refletir sobre os assuntos para o qual ele se dedica.

Nesse ponto, podemos dizer que a dedicação é a parte principal de tudo. Um sábio não pressupõe alguém que domine todas as matérias, tendo o domínio sobre todo o conhecimento. Ou saiba responder todas as perguntas e esclarecer os dilemas que as pessoas comuns, supostamente, não sábias, não têm a capacidade de responder.

Seria aquele ser que vive recluso e é requisitado para esclarecer dúvidas.

Talvez, na realidade, não seja assim. Nem sempre o sábio é aquele que estuda muito. Se ele não tem a capacidade de discernir sobre as coisas, sua sapiência não serve para nada. Sábia era minha avó, dizem alguns. E as avós de muitos, talvez, não sejam estudiosas dos assuntos ou nunca estudaram, embora possam ter a casa decorada com livros nas paredes.

Um sábio decide a partir de uma reflexão e, principalmente, pelo tempo e experiência de vida. Um sábio ou sábia, vamos colocar as coisas no pé de igualdade dos gêneros, em um dia pode dizer coisas que um ignorante leva uma vida inteira para tentar imaginar e, muitas vezes, concluir errado.

Sábio é aquele que não luta contra o tempo. Que aprende a caminhar com a corrente do vento e da água. Que não luta coisas desnecessárias e não corre perigo apenas por teimosia. Um sábio ou sábia aprendem com a vida. Portanto, um dia na vida de pessoas sábias é a mesma de uma pessoa comum. Sábios são aqueles que vivem o seu dia pensando em vivê-lo com intensidade. Mas, nem sempre essa intensidade deve ser confundida como atarefado. A intensidade é medida de acordo com os limites. Logo, sábios são aqueles que têm a exata dimensão de até onde pode ir. Sábios não sofrem desnecessariamente. Sábios evitam ao máximo o sofrimento e a única certeza que eles têm é de que ele vem e minimizá-lo faz parte do seu dia a dia.

O ignorante, ao contrário, luta contra ele e o procura, porque é pretensioso o suficiente para achar que seus desejos são suficientes para mudar o mundo. Ou melhor, o mundo a partir dos seus pensamentos.

Logo, um dia na vida de um sábio não vale toda a vida de um ignorante.

Sábios ouvem o silêncio. Se calam no momento certo e falam aquilo que conhecem. E, por demonstrar isso, parece que conhecem tudo. E não é verdade. Sábios não sabem tudo porque sabem, exatamente, que esse tudo é impossível de alcançar. O que os diferencia dos ignorantes é esse ponto. O tudo é impossível, e os sábios param no meio da caminhada e os ignorantes zombam achando que vão chegar a algum lugar.

Sábios leem e muitas vezes se cansam e observam o mundo com a tentação de dizer que nada vale a pena. Sábios se isolam porque os ignorantes são ocupantes dos espaços. A luta para o entendimento é árdua. Os sábios buscam a utopia, o sonho impossível, e é essa busca que eles sabem impossível que os tornam cada vez mais sábios.

A vida de um ignorante é vazia de sentido e de propósito coletivo. E ele leva, toda uma vida, a tentar mostrar que o sábio é dispensável. E o sábio… bem o sábio não está nem aí para isso.

Foto de Priscilla Du Preez na Unsplash

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