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A arte de Kobra chega mais uma vez a Miami

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A bailarina brasileira Itzkan Barbosa,  estudante do Miami City Ballet, será pintada porKobra na torre do Carnival Theatre em Downtown Miami no mês de novembro

Ele nasceu na cidade de São Paulo e começou na clandestinidade como pichador e, depois, como grafiteiro. Daí ganhou notoriedade com um trabalho inovador na capital paulista, “O Muro das Memórias”, onde reproduzia fotos antigas da cidade, em tons sépia ou preto e branco, seguido de vários outros projetos que foram levando o artista a pesquisar imagens históricas e criar a sua marca registrada. Hoje ele ocupa o posto de um dos mais respeitados muralistas no cenário da arte mundial. Com mais de 500 obras no Brasil e diversas pinturas em cinco continentes, Eduardo Kobra ou apenas “Kobra” é um daqueles artistas sobre o qual a gente tem orgulho de dizer: “Ele é brasileiro!”. Principalmente quando nos deparamos com um dos seus murais coloridos e inspiradores, em alguma cidade cosmopolita pelo globo. Entre elas, o Rio de Janeiro, que ostenta o mural “Etnias – Todos Somos Um”, produzido para os Jogos Olímpicos e que atingiu o recorde de maior mural do mundo. Ou em Amsterdam, na Holanda, onde ele pintou o rosto da jovem Anne Frank, além de muitos outros trabalhos, inclusive em Wynwood, com seus famosos murais coloridos. 

E neste mês de novembro o artista volta a Miami para pintar um mural especialmente importante, a torre do Adrienne Arsht Center For The Performing Arts, um dos maiores teatros dos Estados Unidos. Este projeto urbano partiu da gestora cultural e curadora brasileira Jade Matarazzo, grande incentivadora e promotora da arte brasileira nos EUA. A ideia nasceu com o objetivo de deixar um legado da arte brasileira espalhada pela cidade e, ao mesmo tempo, conectar instituições e pessoas que oferecem um intercâmbio cultural, criando oportunidades para artistas locais e estrangeiros. Kobra é o primeiro de um seleto número de artistas a chegar.

Jade Matarazzo contou com o apoio fundamental do amigo, empresário e filantropo brasileiro Miguel Perrotti, que patrocinou o projeto em homenagem à avó Acácia, sua mentora e constante inspiração, a mulher que apresentou o menino Miguel à arte, desde pequeno, levando-o a Óperas em Paris, espetáculos de balé na Rússia e a outros importantes museus de arte ao redor do mundo. Quem teve o privilégio de conhecer Perrotti, falecido em agosto em Miami, sabe que este mecenas das artes deixou sua marca em várias instituições, incluindo o New World Symphony, Brazilian Film Festival em Miami, ArtBrazil e Miami City Ballet, contribuindo também com várias bolsas de estudos para jovens músicos e bailarinos brasileiros. A bailarina Itzkan Barbosa, estudante do Miami City Ballet, será pintada por Kobra na torre do teatro em Downtown Miami, simbolizando a tenacidade e a esperança de todos os jovens artistas que sonham em conquistar seu lugar ao sol. A realização desse projeto também foi possível por meio do apoio do Consulado Brasileiro em Miami, da Acontece Magazine e do Centro Cultural Brasileiro. Um agradecimento especial a Yara Mangini, esposa e companheira de Miguel, no Perrotti Family Fund e na filantropia durante mais de 26 anos, continuando agora esse belo legado.

O mural de Kobra vai colorir e trazer mais beleza para Miami. E que ele sirva de inspiração à arte e também de incentivo a mais projetos filantrópicos, como sonhava Miguel. O artista está na cidade neste mês para a pintura do mural do Arsht Center e concedeu esta entrevista exclusiva para a Acontece Magazine. Confira.

Kobra, você começou a pichar aos 12 anos e é um autodidata. Como aconteceu esse processo de trazer a arte para sua vida e fazer dela sua profissão?
Não foi algo programado. Eu não imaginava o que poderia acontecer seguindo esse caminho, porque na realidade tudo era contrário a isso, ou seja, eu tive vários impedimentos pra continuar fazendo o que eu queria, que era pintar. Tive impedimentos da família, de pessoas nas ruas, que me chamavam de vagabundo, então foi uma trajetória complicada, até porque venho de um bairro na periferia de São Paulo e naquela época era um bairro violento, com pessoas envolvidas no crime, nas drogas, e eu tinha amigos nesse caminho. Mas tive que desviar de tudo isso para simplesmente realizar meu sonho de pintar. Nunca pensei em transformar isso numa profissão, mas sim num hobby, num prazer. Pintar pra mim é uma diversão. E foi um privilégio quando pude entrar com meu trabalho em vários países, com convite de galerias e pessoas interessadas em adquirir essas obras.

Você já pintou murais em diversos países e muitas vezes compartilhando o espaço com outros artistas. Como é feita a delimitação de espaço e a liberdade de criação?
Eu já pintei em cerca de 30 países, só nos EUA já foram mais de 50 murais. Tive muitas experiências em cidades diferentes, lugares onde a arte de rua nunca tinha entrado, como no Japão e Emirados Árabes, onde fui um dos precursores da arte de rua, e sempre colaborei com alguns artistas desses países. É sempre muito bom compartilhar com artistas locais, porque temos uma boa troca de experiências. Eu até criei um projeto chamado “Envolva-se”, pra dar oportunidade de as pessoas participarem comigo em cidades onde estou pintando, para aqueles que se interessam em saber mais sobre a arte de rua, em aprender. Elas fazem um cadastro e quando estou no país onde elas vivem, eu as convido pra pintar comigo.

Conte-nos um pouco sobre esse convite da curadora Jade Matarazzo para pintar o mural no Adrienne Arsht Center.
Um convite interessantíssimo da Jade, porque trata-se de um espaço no centro histórico de Miami, uma área preservada, um patrimônio histórico da cidade e eu já tenho um trabalho sobre a memória e preservação do patrimônio. Sou um admirador de arquitetura e, como um bom colecionador de livros, tenho muitos livros sobre a arquitetura de Miami. Então, esse convite foi inusitado porque a própria torre, que será pintada, também é tombada, mas a Jade e sua equipe descobriram que naquele espaço poderia ser executada uma obra de arte e, obviamente, fiquei muito motivado para realizar essa obra, que acima de tudo vai exaltar uma menina brasileira, além de ser um espaço de arte e cultura em Miami.

Esse mural reflete também um projeto filantrópico, que ajuda jovens bailarinos do Brasil. Qual a sensação de saber que a sua arte também pode ajudar e incentivar as pessoas para o bem?
Eu já venho fazendo uma série sobre bailarinos em São Paulo. Existe um balé numa comunidade carente em São Paulo, o Balé Paraisópolis, e eu doei meu trabalho pra fachada dessa escola, retratando uma menina de 12 anos que vive na comunidade e tem o sonho de ser bailarina. Depois criei um outro espaço em São Paulo, “Escadaria das Bailarinas”, onde voltei ao tema das bailarinas de Paraisópolis, em que algumas foram retratadas nessa escadaria, além da bailarina Mel, que perdeu uma das pernas em um acidente e mesmo assim ela tem se esforçado no balé e tem uma história muito bonita. Além de outras, como a bailarina Maya do Balé Bolshoi, na Rússia. E agora a bailarina brasileira em Miami, como tantas outras que estão conseguindo o seu espaço aqui nos EUA. Posso trazer visibilidade pra elas, com meu trabalho.

Como é o seu processo de criação de um mural? E quantas pessoas estão envolvidas em um projeto como esse?
Eu comecei em 1987, sozinho, mas devido às proporções que meu trabalho tomou, com pinturas em laterais de prédios, alguns meninos da periferia me procuraram pra ter uma oportunidade, pra seguir esse trabalho, e dei oportunidade pra alguns deles. Dois permanecem comigo, o Marcos e o Aguinaldo, que vão trabalhar nessa pintura da torre do Arsht Center.

Entre tantos murais, qual deles mais te desafiou ? E por quê?
A questão do desafio não é exatamente a pintura, mas sim a logística, porque às vezes são mais complicados a organização, a viagem, os planos, tudo isso. Muitas vezes isso toma tempo, existem regras, restrições, políticas, questões religiosas e leis em diferentes países, muitas questões envolvidas na produção de murais públicos. Todos são complicados, desde o mural que fiz para o governo da Índia, até o mural que fiz na África, com a Madonna. E até realizar o maior mural do mundo, com certa de seis mil metros quadrados, em São Paulo. Todos esses trabalhos têm uma dificuldade especial e é isso que me move, que faz o projeto ter sentido, como essa sequência de 15 murais que acabei de realizar em Nova York.

Além do projeto do Arsht Center, você também vai participar de outras exposições neste mês de Art Basel?
Fui convidado para expor em pelo menos duas galerias durante a Art Basel, mas não estou nesse momento com produções de telas. Apesar de que, para cada mural que eu realizo no mundo, faço uma obra original desse painel e algumas outras obras, com pequenas alterações. Mas neste ano me dediquei muito aos murais e resolvi não produzir muitas obras em tela. Mas devo fazer algo no Wynwood Walls, onde estou fechando um acordo pra ocupar uma das paredes. Ainda não posso afirmar 100%, mas é muito provável que aconteça.

Para conhecer mais sobre as outras obras do muralista, visite o site oficial: eduardokobra.com.
E para saber mais sobre este e outros projetos de Jade Matarazzo, visite o site oficial: jadematarazzo.com.

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