Nilson Lattari

Crônica da semana: Super-herói

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Por Nilson Lattari

Uma das coisas que o padre Lobato fazia em seus sermões era misturar as coisas do Evangelho com os heróis da garotada. Explica-se que a missa era no domingo de manhã, a plateia de crianças, os adultos em volta do barracão de madeira, embaixo dos alicerces da imensa igreja* que ele, engenheiro por formação, subia com força e determinação, apesar dos dízimos pequenos que recebia.

Eu imaginava lá, Jesus, como o super-homem, humildemente abrir mão de sua força avassaladora em prol de fracos e oprimidos, optando apenas pela força das ideias do que dos músculos que possuía.

Esses heróis eram emoldurados, cada um com o seu superpoder sendo sustentado pelo discurso do então jovem pároco. Eu continuava imaginando lá, dentro dos meus pensamentos, que a Bíblia não era uma fonte de ensinamentos, mas de histórias de seres fabulosos, já que tinha o testemunho e a veracidade dos fatos atestados pelos sermões do padre.

Saía fascinado e de bochechas vermelhas imaginando que a qualquer momento um anjo com uma capa vermelha, mas no caso poderia ser azul, mais condizente com a hierarquia e o exército celeste, terminaria, em um ímpeto, de erguer a igreja que o padre, a muito custo, construía.

Nunca vi minha mãe ou meu pai fazerem nenhuma crítica à postura do padre, misturando, magistralmente, os nossos heróis infantis com os heróis verdadeiros da era cristã.

Tempos depois, quando já não frequentava as missas do padre Lobato, passei pelo bairro e, no lugar daquele barracão envolto por pilares de concreto, havia um templo majestoso e surpreendente. Quanto tempo ele levou para ser construído? Decerto depois de muitas e misturadas histórias de falsos heróis em quadrinhos com os heróis bíblicos.

Resolvi conhecer o templo e era digno de morada de super-heróis. Parecia como uma fortaleza da solidão, ou fortaleza da alegria, do comprometimento, da sabedoria e da persistência.

No altar, terminando uma de suas missas, um verdadeiro super-herói ainda reinava absoluto. Apesar de idoso, ainda encontrava motivos para misturar os heróis da Cristandade com os heróis modernos. O manto que ele vestia no momento da missa me pareceu capa de super-herói.

* O templo em questão é a Igreja de São Braz em Madureira, no Rio de janeiro

Por Nilson Lattari

Uma das coisas que o padre Lobato fazia em seus sermões era misturar as coisas do Evangelho com os heróis da garotada. Explica-se que a missa era no domingo de manhã, a plateia de crianças, os adultos em volta do barracão de madeira, embaixo dos alicerces da imensa igreja* que ele, engenheiro por formação, subia com força e determinação, apesar dos dízimos pequenos que recebia.

Eu imaginava lá, Jesus, como o super-homem, humildemente abrir mão de sua força avassaladora em prol de fracos e oprimidos, optando apenas pela força das ideias do que dos músculos que possuía.

Esses heróis eram emoldurados, cada um com o seu superpoder sendo sustentado pelo discurso do então jovem pároco. Eu continuava imaginando lá, dentro dos meus pensamentos, que a Bíblia não era uma fonte de ensinamentos, mas de histórias de seres fabulosos, já que tinha o testemunho e a veracidade dos fatos atestados pelos sermões do padre.

Saía fascinado e de bochechas vermelhas imaginando que a qualquer momento um anjo com uma capa vermelha, mas no caso poderia ser azul, mais condizente com a hierarquia e o exército celeste, terminaria, em um ímpeto, de erguer a igreja que o padre, a muito custo, construía.

Nunca vi minha mãe ou meu pai fazerem nenhuma crítica à postura do padre, misturando, magistralmente, os nossos heróis infantis com os heróis verdadeiros da era cristã.

Tempos depois, quando já não frequentava as missas do padre Lobato, passei pelo bairro e, no lugar daquele barracão envolto por pilares de concreto, havia um templo majestoso e surpreendente. Quanto tempo ele levou para ser construído? Decerto depois de muitas e misturadas histórias de falsos heróis em quadrinhos com os heróis bíblicos.

Resolvi conhecer o templo e era digno de morada de super-heróis. Parecia como uma fortaleza da solidão, ou fortaleza da alegria, do comprometimento, da sabedoria e da persistência.

No altar, terminando uma de suas missas, um verdadeiro super-herói ainda reinava absoluto. Apesar de idoso, ainda encontrava motivos para misturar os heróis da Cristandade com os heróis modernos. O manto que ele vestia no momento da missa me pareceu capa de super-herói.

* O templo em questão é a Igreja de São Braz em Madureira, no Rio de janeiro

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