Vida de vidro

Uma morte. Um acidente. A perda de um emprego. Uma doença grave. Uma história de amor pela metade. Quando isso acontece, nos damos conta de como somos frágeis, de que nada é inesgotável ou seguro e que objetivos são aquilo que gostaríamos que acontecesse. Mas que podem não acontecer.

Geralmente, não estamos preparados para rupturas, para recalcularmos rotas, para recomeços. Ao contrário, passamos a maior parte do tempo nos preparando para o que vai durar, para o “felizes para sempre”, para comprar o que vai resistir mais como se só a perenidade tivesse valor. Porém, ao sermos expulsos da zona de conforto do que parecia ser imutável, tomamos um susto e ficamos sem saber qual rumo seguir. Perdidos e tristes nos agarrando ao que não existe mais, ao que partiu – nos dois sentidos –, buscando porquês cujas respostas nem fazem mais sentido.

Descobrimos, na prática, que tão pouco depende de nós. Que nosso arbítrio é subjugado por questões soberanas e pisamos em ovos. O que fazer então? Como equilibrar essa balança e pensar no futuro mesmo sabendo que ele pode escapar?

Simplesmente vivendo. Seguindo como se a estrada fosse segura, cientes de que caminhamos no fio da navalha. Por mais que a gente coloque a vida em ordem, com cuidado para não quebrar tudo, a todo momento a bagunça se instala. Não é muito diferente daquele armário que arrumamos, jurando que vai permanecer arrumado, mas que, vira e mexe, fica caótico de novo e requer novo empenho. Pois é isso: a vida é um eterno organiza e desorganiza e temos que saber lidar com os planos estilhaçados, sem nos ferirmos nos cacos.

Esta fragilidade deve nos motivar a saborear o eterno enquanto dure quando os ventos sopram a favor e a ter resiliência para formar um novo mosaico com os estilhaços recolhidos de sonhos que não vingaram.