A família Bulhosa: Geraldinho (Johnny Massaro), Maria Teresa (Fernanda Torres), Geraldo (Alexandre Nero) e Catarina (Lara Tremouroux)
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Série de humor ‘Filhos da Pátria’

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‘Filhos da Pátria’ é uma crônica cotidiana sobre o Brasil do século XIX, sob a ótica de uma típica família de classe média: pessoas comuns, anônimas, situações que os livros de história não contam, que acompanham a formação da nossa essência e refletem o que somos hoje. A série tem criação e redação final de Bruno Mazzeo, com direção artística de Mauricio Farias e direção de Mauricio Farias e Joana Jabace.  O elenco conta com nomes como Alexandre Nero, Fernanda Torres, Johnny Massaro, Lara Tremouroux, Matheus Nachtergaele, Marcos Caruso, Leticia Isnard, Karine Teles, Saulo Laranjeira, Adriano Garib e Felipe Rocha, entre outros.

 ‘Filhos da Pátria’, estreia no canal internacional da Globo Internacional, nas Américas; quarta-feira, dia 20 de setembro

Estamos no Rio de Janeiro de 1822, quando as vielas cariocas eram tomadas por charretes e o samba ainda nem existia. Muitas coisas mudaram em 195 anos, mas tantas outras continuam da mesma forma e ainda se sofisticaram com o passar dos tempos… O famoso e singular “jeitinho brasileiro” é uma delas. Sua origem será mostrada em ‘Filhos da Pátria’, uma crônica cotidiana do Brasil do século XIX, sob a ótica dos Bulhosa, uma típica família de classe média da época. Com criação e redação final de Bruno Mazzeo e direção artística de Mauricio Farias, a série acompanha a formação da essência brasileira e faz uma interpretação, com humor e crítica, de como tudo o que vivemos e passamos atualmente teve início.

A história começa no dia 08 de setembro de 1822, logo após a proclamação da Independência. Em meio ao bucólico cenário carioca, temos a família Bulhosa, que mora no Centro do Rio de Janeiro e precisa aprender a viver num país em processo de transição administrativa e constituição identitária, onde as mais adversas situações os incitam a hilárias armações e aventuras, pondo constantemente à prova a retidão moral de cada um.

A família é composta pelo ingênuo português Geraldo (Alexandre Nero), sua esposa materialista, a brasileira Maria Teresa (Fernanda Torres), pelo primogênito sem-noção, Geraldinho (Johnny Massaro), e pela caçula feminista e sonhadora, Catarina (Lara Tremouroux). Além deles, a escrava à frente de seu tempo, Lucélia (Jéssica Ellen), e o escravo observador e apastelado, Domingos (Serjão Loroza). É a partir deles que as principais tramas de ‘Filhos da Pátria’ se desenrolam. “Contamos como a Independência repercutiu no povo brasileiro e como começamos a formar esse DNA de querer levar vantagem em tudo. Apesar do contexto histórico, o olhar está sobre os Bulhosa, uma família comum, anônima, que sente as mudanças provocadas por esse momento da história”, explica o autor, Bruno Mazzeo. Em ‘Filhos da Pátria’, fazemos um paralelo divertido entre a Independência e o atual momento brasileiro. Foi um período de grandes mudanças, com a opinião da população dividida entre brasileiros e portugueses, onde a vida foi modificada de maneira abrupta pela política. Mostramos, em tom de comédia, como a sociedade no Rio de Janeiro do princípio do século XIX começou a se organizar e como a política provavelmente afetou o cotidiano das pessoas”, explica o diretor, Mauricio Farias.

‘Filhos da Pátria’ tem criação e redação final de Bruno Mazzeo, com colaboração de Alexandre Machado. A redação é de André Boucinhas, Antonio Prata, Barbara Duvivier, Guilherme Siman, Rosana Ferrão e Tati Bernardi e a direção de Mauricio Farias e Joana Jabace. A direção artística é de Mauricio Farias. A série estreia no canal internacional da Globo na próxima terça-feira, 19 de setembro, nas Américas; quarta-feira, dia 20, no Japão e Austrália; e terça-feira, 26 de setembro, na Europa e África. 

A família Bulhosa

Geraldo Bulhosa (Alexandre Nero) nasceu em Portugal, é umhomem de bem, solícito e prestativo, de índole pura e boas intenções por natureza. Casou-se com Maria Teresa (Fernanda Torres), que sempre imaginou poder desfrutar de boa situação econômica e prestígio social por ter se casado com um europeu. Ela é classista, materialista e alpinista social confessa. É apaixonada pelo marido, mas sonha com o dia em que ele vai despertar e se impor profissional e socialmente.

Fruto de seu tempo, Maria Teresa é obcecada pelos modos e tradições da alta sociedade e projeta toda sua ansiedade e frustração em Catarina (Lara Tremouroux), sua filha, em quem deposita esperanças de ascensão à elite carioca. Tresloucada, Maria Teresa é responsável pelas mais absurdas badernas e quizombas da família. No fundo, sente inveja da irmã, Leonor (Leticia Isnard), que se casou com o industrial Murilo (Felipe Rocha) e pode ostentar joias e charretes.

Nesta sede por ascensão social, Maria Teresa faz de tudo um pouco. É capaz de, mesmo sem condições financeiras, alugar objetos opulentos para ostentar em casa durante um sarau; se vestir de pobre para adquirir roupas e acessórios em ótimo estado em um bazar de caridade; e doar alta quantia em dinheiro só para ser convidada como destaque em uma festa religiosa.

De outro lado, Catarina (Lara Tremouroux), a filha caçula, é idealista, feminista, sonhadora, e deseja ser dona do próprio sustento e da própria vida numa época em que ninguém vislumbrava essa realidade para as mulheres. Catarina recusa pretendentes e é amiga de “damas de companhia”. Encantada com o desprendimento e a irreverência dos escravos e pela liberdade e autonomia das cortesãs cariocas, ela vive em conflito entre suas aspirações pessoais e suas obrigações familiares.

O primogênito é Geraldinho (Johnny Massaro). Sem-noção, inconsequente e analfabeto, Geraldinho é um amante da subversão ideológica. Ele acredita piamente em suas ideias revolucionárias, mas mal sabe cuidar do próprio nariz. Espertinho por natureza, tenta se dar bem a todo custo, mas vive se metendo em confusões de proporções imperiais ao tentar cortejar e seduzir as donzelas da capital. Mestre dos disfarces, se traveste para conquistar as moças: cigano, maçom, padre, ativista indígena, entre outros.

Lucélia (Jéssica Ellen) é a escrava da família e representa a espinha moral na casa dos Bulhosa. Trabalhadeira, dona de um senso incorruptível de justiça, é amável e compreensiva com os jovens patrões, Catarina e Geraldinho, e também apoia e é prestativa com Geraldo e Maria Teresa. Sagaz, aproveita as aulas particulares dadas a Geraldinho para aprender a ler e escrever. Conformada com o sistema escravocrata, Lucélia não repudia os senhores. Em vez disso, opta por juntar todos os centavos que ganha vendendo cocada nas horas vagas para, um dia, comprar sua alforria e viver de acordo com sua própria vontade. Bem diferente de seu irmão Zé Gomes (Flávio Bauraqui). Depois de tentar a alforria pelos meios legais, em vão, ele consegue a liberdade forjando uma invalidez. Perambula pela cidade, mancando, atrás de bicos e jabás e está sempre a par das novidades da capital e do Império, alardeando em alto e bom som, para quem quiser ouvir, as maiores fofocas da nação.

Domingos (Serjão Loroza) é um antigo escravo da família. Já não dá conta dos serviços braçais que lhe são requeridos, mas detém um lugar cativo no coração dos Bulhosa e permanece no lar. Extremamente observador, é um tanto apastelado e sem brio. Vive sendo alvo de piadas e comentários insensíveis de Maria Teresa (Fernanda Torres), embora obedeça às ordens que recebe sem muito questionamento, frequentemente tornando óbvias as sandices dos senhores. 

No entorno, nasce a sociedade carioca: a alta classe frequentada por Leonor (Leticia Isnard), irmã de Maria Teresa; as ruas avivadas pela irreverência de Zé Gomes (Flávio Bauraqui); os corredores e escritórios sigilosos do Paço, berço das tramoias de Pacheco (Matheus Nachtergaele) e seus comparsas, colegas de Geraldo; o brechó de modas e devassas da francesa Dechirré (Karine Teles), madame e cafetina da cidade; aqueles que frequentam o bar do Vasco (Luiz Magnelli); entre outros que compõem a alma da nação.

O Paço Imperial

Com a Independência, Geraldo (Alexandre Nero) logo se sente ameaçado de perder o cargo oficial que ocupa no Paço Imperial, uma vez que nasceu em terras lusas e agora o poder está nas mãos de brasileiros. Ele trabalha intermediando as relações entre Brasil e Portugal, sob a chefia de Figueira (Saulo Laranjeira), mas, aos poucos, começa a perder prestígio. De um lado, sofre a pressão de Maria Teresa (Fernanda Torres), que vive eternamente frustrada e anseia por status sociais e bens materiais, e de outro precisa lidar com os novos esquemas que tomam conta do ambiente de trabalho liderados, principalmente, pelo colega Pacheco (Matheus Nachtergaele).   

“Geraldo se vê sugado por esse sistema e a gente vai vendo como é o mergulho nesse universo do poder. Em vez de lutar para organizar tudo, Pacheco tem o pensamento de que ‘agora é tudo nosso e não tem ninguém para dividir com a gente’. Esses caras sempre têm alguém para ser testa de ferro e é aí que Geraldo entra”, explica Bruno Mazzeo. Pacheco vive rondando Geraldo e pedindo – ou melhor, intimando – o pobre coitado a participar das tramoias mais escusas que envolvem os recursos públicos em benefício da “nobreza” carioca. Geraldo, então, encontra uma nova maneira de sustentar sua família.

É aí que o patriarca da família Bulhosa começa a se envolver passivamente em atos questionáveis, que vão desde favorecer obras públicas propostas por amigos de amigos e conferir títulos de nobreza indevidos até a inventar processos burocráticos intermináveis.

O brechó da Madame Dechirré

Madame Dechirré (Karine Teles) é francesa e dona de um brechó no Centro do Rio de Janeiro. A loja é frequentada por mulheres da média e alta sociedade carioca que nem imaginam o outro tipo de serviço que é oferecido naquele mesmo endereço. Atrás de um provador de roupa fechado por uma cortina, uma escada leva a um mundo completamente paralelo.

Secretamente, no andar debaixo da loja, Dechirré agencia as donzelas mais “ousadas” da cidade, que estão sempre dispostas a receber os homens influentes da capital. Chama as moças por nomes de tecido, como Gabardine (Lyv Ziese) e Tafetá (Paula Frascari), para não levantar suspeitas.

Por toda liberdade feminina que Dechirré representa, Catarina (Lara Tremouroux) a admira profundamente. Mas a francesa tenta, com todas as forças, dissuadir e afastar a garota.

De volta ao séc. XIX

‘Filhos da Pátria’ é uma crônica de época com pitadas de humor, drama, romance e crítica. A premissa da caracterização, assinada por Mary Help, é de trazer a essência dos personagens. “O humor está muito presente no texto e na atuação dos atores. Optamos por uma caracterização nada caricata e tentamos trazer o máximo de veracidade. Temos muita referência nas pinturas de Debret, que descreveu o dia a dia desse povo”, explica.

A transição econômica dos Bulhosa fica evidente na conta bancária e também na aparência dos personagens. Na primeira fase, em que a família vive com parcos recursos, Geraldo (Alexandre Nero) tem a barba mal feita e o cabelo oleoso. Maria Teresa (Fernanda Torres) é muito simples e não tem condições de ostentar muitos adereços. A primeira coisa que ela faz quando melhora de condição de vida é comprar joias. Também na fase mais rica, Maria Teresa começa a fazer penteados mais altos e imponentes. Para isso, a equipe de caracterização usou badoches, um coque com enchimento de cabelo para dar volume.

O figurino da família Bulhosa também acompanha a ascensão econômica deles. “Nessa época, as roupas eram usadas até acabar, literalmente, sendo passadas de pai para filho ou para parentes. Os tecidos eram caros e a confecção, também”, explica o figurinista Antonio Medeiros. Desta forma, quando a família Bulhosa melhora financeiramente, consegue investir em roupas novas ou de melhor qualidade. Antonio esclarece que também usou cor e estampa como signo de enriquecimento nas mulheres. “A cor e a textura do figurino ajudam a imprimir essa nova fase. O vermelho e o veludo, por exemplo, denotam essa ascensão financeira”, diz. Quanto mais rica a família, mais enfeitados e bem-vestidos eram os escravos. Para isso, a equipe de figurino se apropriou de alguns tecidos africanos para enriquecer visualmente as roupas de Lucélia, a escrava da família Bulhosa.

Para reproduzirem o séc. XIX, assim como a caracterização, as equipes de cenografia e produção de arte buscaram muitas referências em ilustrações de Debret, mas também ousaram. “A gente pesquisou muito sobre o Rio antigo e tivemos muitas inspirações em Debret. Mas também lançamos mão de algumas licenças poéticas para brincar e ousar. Essa liberdade de criação contribui para enriquecer a história”, explica a cenógrafa Cris de Lamare.

Uma das licenças adotada foi o uso de cor no interior das casas. Na residência dos Bulhosa, por exemplo, a cor predominante é o azul. A produção de arte, assinada por Angela Melman, também traz elementos em tom de azul e meio estonado a fim de trazer vivência ao ambiente. Aliás, a casa acompanha a transição econômica da família. No início, o lar é desleixado e com pouca decoração. Com o passar do tempo, Maria Teresa adquire objetos para enfeitar os ambientes, como castiçais e cortinas com chale, franjas e adamascados. Mas a parte estrutural continua decadente. “Maria Teresa vai virando uma nova rica e só compra supérfluos. Ela não manda pintar a casa, consertar a infiltração. Ela só pensa nas aparências”, explica Cris. 

A casa, então, sempre conta com alguma desordem. “As camas estão meio desfeitas, as toalhas de mesa estão amassadas. Sempre vai ter um cantinho de bagunça”, explica Angela. A produção de arte também fez uma minuciosa pesquisa sobre os hábitos alimentares no séc. XIX, pois muitas cenas da família Bulhosa acontecem durante as refeições. Os principais pratos que compõem a mesa são: canja, frango, cordeiro e ave de caça.

Lugar frequentado pelas mulheres em busca de modista e pelos homens em busca de damas de acompanhamento, o brechó da madame Dechirré traz realidades paralelas em um mesmo endereço. Um elemento que conduz o público a cada um desses universos é a cor. “O térreo, onde as mulheres vão para encomendar roupa, é todo rosa. Ao descer as escadas, o vermelho, o vinho e o terra dominam o espaço. O brechó em si não tem muito glamour, diferentemente do bordel”, explica Cris. Nas paredes do lugar, a cenografia traz tecidos e texturas dos veludos, dos bordados e dos adamascados, como uma parede de patchwork 3D.

A cidade cenográfica de ‘Filhos da Pátria’ reproduz o Centro do Rio de Janeiro, com a Praça XV, o Arco do Teles, a igreja e o Paço Imperial. As ruas ganham vida com as barraquinhas repletas de frutas penduradas e as janelas das casas cheias de vendinhas.

No Paço Imperial, onde Geraldo (Alexandre Nero) trabalha, há diversos jornais, documentos, livros e carimbos confeccionados pela produção de arte. Para representar teatralmente toda burocracia que envolve o órgão, há vários documentos empilhados pelas mesas. E a equipe também confeccionou uma bolsinha em couro para o marido de Maria Teresa usar quando recebe o dinheiro dos esquemas.

Com ilustrações exclusivas, abertura de ‘Filhos da Pátria’ mostra que o “jeitinho brasileiro” e a malandragem vem desde a época do Império

Uma verdadeira confusão, que só poderá ser resolvida quando o morcego doar sangue e o saci cruzar as pernas. A provocação, presente na música “Quando o Morcego Doar Sangue”, de Bezerra da Silva, justifica sua escolha para ser o tema da abertura de ‘Filhos da Pátria’. A canção, que discute as dificuldades enfrentadas pelo Brasil e pelo brasileiro, dita o ritmo do passeio da câmera em imagens que retratam situações comuns ao chamado “jeitinho brasileiro”, a malandragem no levar a vida, que sempre revela algo de errado, de “bagunçado”. Com ilustrações do artista Rodrigo Borges, criadas exclusivamente para o trabalho, a abertura mantém o clima de humor crítico, característica marcante da série.

Tendo como referência documentos, selos e cédulas antigas (livremente inspirados em materiais de uma época próxima a da representada na série), o estilo das ilustrações é uma mistura entre o realista e o gráfico, resultado conquistado graças ao trabalho construído do zero e em parceria entre a equipe de criação da Globo e Rodrigo Borges. A inspiração em elementos mais sérios, como as cores e traços de documentos oficiais, tem como objetivo mostrar que as situações retratadas, que em um primeiro olhar remetem à nobreza e imponência, trazem sempre um bastidor com algo fora do lugar, de desordem. Depois de prontas e aprovadas, as ilustrações passaram por um processo de composição gráfica para montagem da abertura e receberam um tratamento para que parecessem documentos reais envelhecidos, desde as cores até detalhes “amassados’’. No total, o desenvolvimento da abertura durou cerca de 3 meses, entre criação e pós-produção.  

Entrevista com o autor Bruno Mazzeo

Bruno Mazzeo possui trabalhos como ator e roteirista. Assinou a redação final de diversos humorísticos, como ‘Escolinha do Professor Raimundo’ (1991 a 1994), ‘Chico Total’ (1996)’, ‘Sai de Baixo’ (1997 a 2000), ‘Vida ao Vivo Show’ (1998 a 1999), ‘A Diarista(2004 a 2007) e o especial ‘Carol & Bernardo’ (2003). Além disso, escreveu e protagonizou a série ‘Cilada’, que se tornou um quadro do ‘Fantástico’ (2009), e depois ganhou as telas de cinema com o título ‘Cilada.com’ (2011). Como ator, integrou o elenco da série ‘Sob Nova Direção’ (2006), e participou de novelas como ‘Beleza Pura’ (2008), ‘Cheias de Charme’ (2012) e ‘A Regra do Jogo’ (2015), e dos filmes ‘Muita Calma Nessa Hora’ (2010), ‘E aí… Comeu?’ (2012), ‘Vai que dá certo’ (2013), ‘Muita Calma Nessa Hora 2’ (2014) e ‘Vai que dá Certo 2’ (2016). Desde 2015, Mazzeo faz parte da nova versão da ‘Escolinha do Professor Raimundo’, dando vida ao personagem que foi vivido por seu pai, Chico Anysio.

Como você define ‘Filhos da Pátria’?

‘Filhos da Pátria’ se passa no Rio de Janeiro, a partir do dia 08 de setembro de 1822, ou seja, a partir do primeiro dia em que o Brasil ficou independente de Portugal. É uma crônica bem-humorada que fala sobre o brasileiro, de onde surgiu o famoso ”jeitinho brasileiro”, abordando o dia a dia de uma família cujo patriarca é funcionário público, a mãe é dona de casa e eles têm dois filhos jovens. Esse pai de família é um homem ingênuo, bom, que sucumbe à corrupção e muda a vida de todos ao seu redor.

Como surgiu a ideia de tratar do cotidiano do Brasil do século XIX?

Antes de começar a pesquisa para poder escrever, eu já vinha lendo coisas sobre o Brasil, por prazer mesmo. Foi interessante porque, de três anos pra cá, li muitos livros sobre histórias de escravos e alforriados, outro sobre casos de polícia e da imprensa daquela época, entre outros. Juntando com o que vemos nos jornais de hoje em dia, percebemos que as coisas não mudaram tanto ou, se mudaram, entendemos de onde viemos e o porquê de tudo que vivemos hoje em dia. Esse é o lugar que a gente tentou chegar.

De que forma o contexto histórico está inserido na série?

Sabemos pouco acerca da nossa história e certamente o que acontece hoje em dia é reflexo do que teve início lá atrás. Nós quisemos falar sobre como a sociedade reagiu diante dessa transformação. Os personagens históricos são citados, mas não fazem parte da série. Queríamos entender como o brasileiro se portou em mais um recomeço. O Brasil vive recomeçando: recomeçou quando foi descoberto, quando a Corte chegou, com a Independência, com a República, com a Era Vargas, com a Ditadura, com as Diretas… É a sensação do “agora vai”.

Na obra, os escravos têm uma visão mais crítica da sociedade. Acabam fazendo um contraponto aos patrões. Como são esses personagens?

Os nossos personagens escravos vivem numa época em que não havia ainda  o sentimento do abolicionismo. Durante toda a temporada, a Lucélia vai batalhar pela liberdade. Ela sonha em ser uma pessoa livre, inserida na sociedade, e não à margem dela. Domingos já está mais cansado e se sente velho demais para ser livre. São os personagens que têm a visão crítica e que fazem comentários tão pertinentes que, se tivéssemos ouvido lá atrás, talvez não seríamos o que somos hoje.

 

Como está sendo a parceria com Mauricio Farias?

Eu e Mauricio somos parceiros há muito tempo, mas não trabalhamos tanto quanto gostaríamos. Fizemos ‘Juntos & Misturados’ e o filme ‘Vai que dá certo’. É facílimo ser parceiro do Mauricio. Ele é muito respeitoso com o trabalho do autor, tem um entendimento muito bom de roteiro e teceu comentários superpontuais sobre o texto. Acho fundamental essa parceria. Nós confiamos plenamente um no outro e sempre batemos bola.

Qual foi o maior desafio e o que o público pode esperar da série?

Eu já tinha falado sobre história no quadro “O Baú do Baú do Fantástico”, no ‘Fantástico’. Para escrever sobre esse tema, você tem um trabalho muito grande de leitura e pesquisa, e é muito prazeroso transportar isso para uma linguagem mais leve, que permite algumas licenças poéticas. Acho que é uma série superinteressante para o momento em que vivemos e acho importante que, através das diversas formas de arte, a gente fale sobre a gente. Junto com isso, tem romance, comédia, melancolia, emoção… Vamos ver se estamos preparados pra falar sobre nós mesmos.

Entrevista com o diretor Mauricio Farias

Mauricio Farias tem longa trajetória como diretor na televisão e também no cinema. Ele dirigiu os filmes ‘O Coronel e o Lobisomem’ (2005), ‘A Grande Família – O Filme’ (2007), ‘Verônica’ (2008), ‘Vai que dá certo’ (2012) e ‘Vai que dá certo 2’ (2016). Na televisão, assinou a direção das novelas ‘Quatro por Quatro’ (1994), ‘A Viagem’ (1994), ‘Cara e Coroa’ (1995), ‘Salsa e Merengue’ (1996), ‘O Amor está no Ar’ (1997), ‘Pecado Capital’ (1998) e ‘Esplendor’ (2000), além das minisséries “A Máfia no Brasil” (1983), “Tenda dos Milagres” (1985), ‘Hilda Furação’ (1998) e ‘Pastores da Noite’ (2002), os seriados ‘A Grande Família’ (2001 à 2010) e “Aline” (2009 e 2011) e o humorístico ‘Junto & Misturado’ (2011 e 2013) e ‘Tapas & Beijos’ (2011 a 2015). Atualmente, Farias ainda assina a direção de ‘Zorra’ e ‘Tá no Ar: a TV na TV’.

Como surgiu a ideia de ‘Filhos da Pátria’?

Esse projeto faz parte da história da minha parceria com Bruno. Ele surgiu depois de ‘Junto & Misturado’. Bruno me contou da ideia de falar sobre coisas que representam o jeito incorreto de alguns brasileiros de resolver muitos problemas do dia a dia. Começamos a pensar sobre como poderia ser uma série que falasse sobre isso. Por exemplo: você está num engarrafamento e avança pelo encostamento; ou já é noite e você avança o sinal. Essas pequenas infrações que as pessoas vão se permitindo e que geram muitas vezes o caos coletivo. Bruno começou a trabalhar no texto, mas no meio do caminho a política no Brasil começou a ferver. Bruno propôs então mudarmos o tempo da história para logo após a Independência do Brasil. Concordei imediatamente. Assim, ‘Filhos da Pátria’ começou a ganhar sua forma final.

Como você define a série?

‘Filhos da Pátria’ é a historia de um português, funcionário público, que vive com a família, no Brasil. Com a Independência, ele se sente ameaçado de perder o emprego e começa a ser assediado por colegas de repartição para aceitar a proposta de fazer parte de um esquema que cobra taxas sobre o serviço público. A série trata, com humor, a história da corrupção no Brasil, como ela afetou (e afeta) a vida dos brasileiros, mostrando seus personagens, hora de maneira crítica, hora com carinho. Em alguns momentos eles são vilões e em outros são heróis. Um pouco como a vida é, vista com humor.

Como é para você dirigir uma comédia tendo como pano de fundo um momento histórico?

Quando a gente olha para a história, percebe que ela parece andar em círculos, que está sempre se repetindo. Muitas das questões que vivemos hoje no mundo são seculares, milenares. No Brasil, muitas questões éticas, morais, de justiça, ainda são praticamente as mesmas desde o Brasil Colônia … Em ‘Filhos da Pátria’, de uma maneira muito bem-humorada, falamos sobre problemas de hoje, que podem ter começado há 100, 150 anos atrás. É muito prazeroso fazer uma comédia assim.

Como é trabalhar com o Bruno Mazzeo?

O Bruno é um autor com um talento muito grande, com uma enorme sensibilidade para observar pequenas coisas do dia a dia. O paralelo entre a história que ele criou e o que acontece no Brasil de hoje é muito interessante. Ele teve a percepção de antever o momento delicado na vida política e social do brasileiro que estávamos entrando há três anos e escreveu uma série passada há mais de 150 anos, que trata de questões que ainda mexem com o Brasil de hoje.

Qual é a linguagem visual da série?

‘Filhos da Pátria’ tem um sutil tom de fábula, inspirado nas gravuras de Rugendas, de Debret, nas aquarelas de Thomas Ender. A fotografia da série, a arte, a computação, a direção, todos trabalharam para reconstruir um Rio de Janeiro possível, ao mesmo tempo interessante na sua beleza e no seu aspecto ainda selvagem. Os Arcos da Lapa, o Pão de Açúcar, o Corcovado, o Paço Imperial, as ruas e as praias, os morros, as florestas, aparecem tratados sobre esse filtro.

O que o público pode esperar da série?

O público pode esperar muita diversão, atuações incríveis de um elenco maravilhoso e uma proposta de reflexão. ‘Filhos da Pátria’ faz um convite para o público pensar um pouco sobre o Brasil de hoje, olhando de uma forma bem humorada sobre o Brasil de outros tempos.

Perfil dos personagens

Geraldo (Alexandre Nero)  Patriarca dos Bulhosa, Geraldo é umhomem de bem e solícito. Sente-se ameaçado de perder o emprego no Paço Imperial pós- Independência do Brasil por ter nascido em Portugal. Face às incertezas econômicas que ameaçam a estabilidade da família, ele é incapaz de resistir às pressões de nobres e colegas por favores burocráticos que, pouco a pouco, corroem o país, mas que o mantém em posição de prestígio e dão origem a incontáveis e hilárias saias-justas. É casado com Maria Teresa (Fernanda Torres) e pai de Geraldinho (Johnny Massaro) e Catarina (Lara Tremouroux).

Maria Teresa (Fernanda Torres)  Materialista, classista e alpinista social, Maria Teresa é apaixonada pelo marido, Geraldo (Alexandre Nero), mas sonha com o dia em que ele vai se impor profissional e socialmente. Fruto de seu tempo, é obcecada pelos modos e tradições da alta sociedade. É mãe de Geraldinho (Johnny Massaro) e Catarina (Lara Tremouroux).

Catarina (Lara Tremouroux)  Idealista, feminista e sonhadora, Catarina deseja ser dona do próprio sustento e da própria vida. É filha de Geraldo (Alexandre Nero) e Maria Teresa (Fernanda Torres)  e irmã de Geraldinho (Johnny Massaro)

Geraldinho (Johnny Massaro)  Sem-noção, inconsequente e analfabeto, Geraldinho é amante da subversão ideológica e espertinho por natureza. Filho de Geraldo (Alexandre Nero) e  Maria Teresa (Fernanda Torres) e irmão de Catarina (Lara Tremouroux).

Lucélia (Jéssica Ellen) – Escrava doméstica dos Bulhosa, Lucélia é a espinha moral da família. Divide as funções da casa com Domingos e é irmã de Zé Gomes (Flávio Bauraqui). É batalhadora e sonha com o dia em que vai comprar a alforria.

Domingos (Serjão Loroza)  Velho escravo da família Bulhosa. Divide as funções da casa com Lucélia (Jéssica Ellen).

Zé Gomes (Flávio Bauraqui) – Alforriado por “invalidez” e irmão de Lucélia (Jéssica Ellen).

Padre Toledo (Marcos Caruso) – Padre da Igreja da cidade. Acaba se envolvendo nos mesmos esquemas de Geraldo (Alexandre Nero).

Pacheco (Matheus Nachtergaele)  Trabalha com Geraldo (Alexandre Nero) no Paço Imperial. Conduz o amigo aos esquemas que tomam conta do ambiente de trabalho.

Figueira (Saulo Laranjeira) – Chefe no Paço Imperial.

Neiva (Ranieri Gonzalez) – Trabalha com Geraldo (Alexandre Nero) no Paço Imperial.

Matoso (Adriano Garib) – Intendente da cidade.

Delorges (Aramis Trindade) – Redator de jornal.

Seu Vasco (Luiz Magnelli) –  Dono da taberna local, o português é anfitrião das rodas de conversa dos homens da classe média carioca e sempre tem informações quentes sobre a comunidade.

Dechiré (Karine Teles)  Madame francesa, dona de um brechó e do bordel da cidade.

Leonor (Letícia Isnard) – Irmã de Maria Teresa (Fernanda Torres) , é esnobe, rica e casada com Murilo (Felipe Rocha).

Murilo (Felipe Rocha)  – Industrial, é marido de Leonor (Letícia Isnard).

Olegário (Candido Damm) – Barbeiro português e pai de Juca (Bruno Jablonski).

Juca (Bruno Jablonski) – Filho do barbeiro português Olegário (Candido Damm), melhor amigo de Geraldinho (Johnny Massaro) e seu fiel companheiro de aventuras.

Participações especiais

Padre Elano (Emiliano Queiroz) – Padre da Igreja da cidade.

Padre Adão (Ricardo Pereira) – Padre da Igreja da cidade.

Gabardine (Liv Zieze) e Tafetá (Paula Frascari) – Damas de companhia que trabalham no bordel de Dechirré (Karine Teles).

Paulo Roberto (Vitor Thiré) – Um dos pretendentes de Catarina (Lara Tremouroux).

Texto: Aline dos Santos Ferreira – Fotos: Globo/Estevam Avellar/Mauricio Fidalgo

Maria Teresa (Fernanda Torres), Geraldo (Alexandre Nero), Lucélia (Jéssica Ellen) e Catarina (Lara Tremouroux) passeiam pela cidade 

Geraldo Bulhosa (Alexandre Nero) já vestido e caracterizado na fase mais rica

Geraldo Bulhosa (Alexandre Nero)

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