Imigração

Opinião: Adeus, América: como Trump está gerando uma evasão de cérebros nos EUA?

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Por Alexandre Pierro

O que acontece quando uma nação que, historicamente, já se beneficiou fortemente da diversidade e do talento estrangeiro em sua economia e inovação, começa a fechar suas portas para essas mentes brilhantes? Em breve, poderemos ter essa resposta, diante de tantos perigos que as ações do atual presidente Donald Trump, está seguindo, buscando mecanismos que barrem a permanência de imigrantes no país – o que, não apenas levará a uma evasão de cérebros excepcionais, como também permitirá o avanço de outras nações como novas referências no comércio global.

A promessa de liberdade, oportunidades econômicas, e a busca por uma vida melhor impulsionaram um movimento intenso de imigrantes à terra do Tio Sam, em um ideal impresso durante sua independência há mais de 200 anos visando o desenvolvimento nacional e sua reconstrução em meio a grandes conflitos existentes à época.

Com a Segunda Guerra Mundial, como exemplo, foi instituído o Projeto Manhattan, um programa de pesquisa e desenvolvimento que trouxe grandes físicos e cientistas mundiais ao país para que pudessem estudar em suas renomadas universidades. Em troca, explorariam seus conhecimentos no desenvolvimento de inovações que lhes permitissem sobreviver ao conflito – o que ocasionou na produção das primeiras bombas atômicas estadunidenses.

Após esta guerra, mais uma iniciativa ganhou destaque, a fim de obter vantagem militar dos EUA na Guerra Fria Soviético-Estadunidense e na Corrida Espacial. Estamos falando da Operação Paperclip, em que cientistas renomados globalmente foram levados ao país, conquistando realizações históricas como os Programas Apollo, conjunto de missões espaciais conduzidas pela NASA. Werner Von Braun, inclusive, foi um dos engenheiros alemães que vieram por este projeto, protagonista e desenvolvedor do Saturno V, foguete que deu a oportunidade de o homem pisar na lua.

Esses são apenas alguns exemplos que mostram quanto a inteligência estrangeira foi essencial para alavancar os Estados Unidos em termos de inovação e tecnologia desde seus primórdios, o que está sendo, preocupantemente, ameaçado agora.

De acordo com a última Pesquisa da Comunidade Americana (ACS) do US Census Bureau, em 2023, havia 47,8 milhões de imigrantes residindo nos Estados Unidos, sendo, hoje, um dos países que mais abriga estrangeiros. Agora, reassumindo a presidência, Trump vem estabelecendo medidas fervorosas contra a imigração em seu território, o que vem gerando conflitos intensos em diversas regiões. Em Los Angeles, na Califórnia, local com grande presença de comunidades latinas, protestos tomaram conta de suas ruas contra essa política de imigração, repreendidos pela Guarda Nacional com cenas fortes de confrontos.

As próprias universidades estadunidenses, além de terem tido verbas cortadas pelo governo, também foram intimadas a não aceitarem mais estudantes estrangeiros, com as embaixadas ordenadas a não agendarem mais entrevistas de vistos. Harvard foi a instituição que mais se posicionou, publicamente, contra a decisão, uma vez que afetaria cerca de 7 mil de seus estudantes – tendo entrado com uma ação judicial contra o governo e solicitando a suspensão da medida após acusá-la de cometer uma “violação flagrante” da lei, ao impedi-la de matricular estudantes estrangeiros.

Todas essas medidas demonstram quanto o atual governo está expulsando seus grandes talentos estrangeiros que, há anos, foram a força motriz para alavancar o país tanto como mão de obra (tendo alavancado suas indústrias e demais serviços), quanto em termos de inovação e tecnologia.

O resultado disso? Podemos ter uma mudança enorme em centro de inteligência e tecnologias que, até então, relacionávamos ao Vale do Silício. Diversas big techs podem migrar para outros países abertos para recebê-las e investir em seus talentos, como a China e demais regiões da Europa – desencadeando um fluxo e evasão de cérebros que, dificilmente, poderá ser revertida a curto e médio prazo.

A própria China, como exemplo, ganhou mais de uma empresa unicórnio por semana em 2023, segundo o Índice Global de Unicórnios 2024. Foram 56 novas startups que valem, ao menos, US$ 1 bilhão dos EUA e, ainda, não listadas em uma bolsa de valores públicas que surgiram na potência asiática durante o ano passado. Imagine, agora, recebendo tantas mentes brilhantes que podem deixar os Estados Unidos em busca de um local que tenham um ambiente de incentivo para continuar estudando e inovando.

É preocupante ver a nação que, antes, reforçava a vinda de mão de obra estrangeira para construir, desenvolver e inovar, expulsando essas pessoas que podem migrar para países que podem se tornar novas referências e polos econômicos internacionais, redefinindo as regras deste grande jogo do comércio. Restam, agora, algumas dúvidas: quem assumirá essa frente inovadora nos EUA? E, quais crises (ou, talvez, oportunidades) essa possível nova dinâmica econômica trará ao resto do mundo?

Alexandre Pierro é mestre em gestão e engenharia da inovação, engenheiro mecânico, bacharel em física e especialista de gestão da PALAS, consultoria pioneira na implementação da ISO de inovação na América Latina.

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