Imigração

Manter o português vivo nos filhos de brasileiros é um ato de amor e identidade

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Com a chegada das férias escolares nos Estados Unidos, muitas famílias brasileiras começam a fazer as malas rumo ao Brasil. Além de reencontrar familiares, rever paisagens conhecidas e recarregar as energias, essa temporada em solo brasileiro é uma oportunidade de ouro para algo ainda mais significativo: reconectar os filhos com o idioma e a cultura de suas raízes.

Para muitos pais imigrantes, manter viva a língua portuguesa dentro de casa é uma missão constante. Em um ambiente onde o inglês predomina, na escola, nos desenhos animados, nos aplicativos e nas conversas com amigos, o português muitas vezes acaba relegado a um segundo plano. O resultado? Crianças que compreendem a língua dos pais, mas se sentem mais confortáveis respondendo em inglês, mesmo em casa.

Juliana Costa, que vive em Orlando com o marido e dois filhos, conta que essa transição acontece de forma sutil. “No começo, meu filho falava português perfeitamente. Mas conforme foi crescendo e se inserindo no ambiente americano, começou a misturar as línguas. Hoje, entende tudo que eu falo, mas responde 90% do tempo em inglês”, relata. “É como se ele tivesse vergonha ou simplesmente não quisesse fazer o esforço.”

Essa realidade é comum entre famílias bilíngues. Mas especialistas alertam: a manutenção da língua de herança, como é chamado o idioma dos pais transmitido aos filhos em outro país, é essencial para o desenvolvimento da identidade cultural da criança. Segundo a professora e pesquisadora em educação bilíngue Beatriz Andrade, da Universidade de Miami, o contato com o português fortalece vínculos afetivos e amplia o repertório cognitivo. “Crianças bilíngues tendem a ter maior flexibilidade mental, raciocínio mais ágil e mais sensibilidade cultural”, afirma.

Além disso, o português é um ativo valioso. Falado por mais de 260 milhões de pessoas no mundo, é o nono idioma mais falado globalmente. Dominar o português pode abrir portas em áreas como comércio internacional, turismo, diplomacia, além de fortalecer laços familiares e permitir que as crianças se comuniquem diretamente com avós, tios e primos no Brasil.

Mas como manter o português vivo em um ambiente predominantemente anglófono?

A resposta está na constância e na criatividade. Pequenos gestos no dia a dia podem fazer grande diferença. Ler livros infantis em português, assistir a desenhos dublados, ouvir músicas brasileiras, promover jogos de palavras, contar histórias da infância no Brasil, tudo isso ajuda a criar um ambiente rico em referências linguísticas e culturais. Aplicativos de alfabetização em português, como o “Khan Academy Kids” com configurações em português, também são boas ferramentas de apoio.

Durante as férias no Brasil, os benefícios se multiplicam. O contato direto com o idioma em situações reais, seja comprando pão na padaria, brincando com primos ou ouvindo conversas no ônibus, promove uma imersão natural que nenhum curso ou vídeo consegue substituir. “Quando estamos no Brasil, meu filho começa a se soltar em português. Ele entende que ali todos falam essa língua, e se sente parte do todo”, conta Renata Melo, que mora em Boca Raton e costuma visitar o país natal todos os verões.

No entanto, nem todas as famílias têm a possibilidade de viajar com frequência. Para esses casos, encontrar uma comunidade local faz toda a diferença. Grupos de leitura, aulas de português como língua de herança, igrejas com programação infantil em português e encontros culturais organizados por brasileiros ajudam a manter a criança conectada com sua origem. Em cidades como Miami, Orlando e Fort Lauderdale, não faltam iniciativas organizadas por pais, escolas e instituições comunitárias.

É fundamental que os pais falem português com naturalidade em casa, mesmo que as respostas venham em inglês. A insistência amorosa e sem imposição é o caminho. “A criança precisa entender que o português é parte do seu mundo, e não uma obrigação escolar. Quando ela associa a língua com afeto, com histórias e com quem ela ama, ela aprende com prazer”, explica a psicóloga infantil Carla Moura.

No fim das contas, manter o idioma nativo não é apenas preservar palavras. É preservar memórias, tradições e uma parte importante da história familiar. É permitir que os filhos sejam não apenas fluentes em duas línguas, mas também em duas culturas. Que cresçam com raízes fortes e asas prontas para voar entre diferentes mundos.

Foto: AdobeStock

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