Imigração

Fazer parte sem se perder: pertencer a uma nova cultura e manter as raízes brasileiras

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Imigrar é mais do que atravessar fronteiras físicas. É um processo profundo, muitas vezes silencioso, de reconstrução interna. Ao chegar em um novo país, não apenas se aprende uma nova língua ou se lida com normas diferentes, também se enfrenta, de forma subjetiva, o desafio de responder: quem sou eu agora, neste novo lugar?

Na Psicologia Intercultural, chamamos esse movimento de aculturação: um processo contínuo de adaptação a uma nova cultura, no qual se negocia, consciente ou inconscientemente, o que se mantém da cultura de origem e o que se incorpora da cultura de acolhimento. Segundo John Berry, pesquisador de referência na área, existem quatro estratégias principais de aculturação: assimilação, separação, integração e marginalização. A integração — quando se preservam aspectos da cultura original ao mesmo tempo em que se adota a nova — é considerada a mais saudável para o equilíbrio emocional.

No entanto, alcançar esse equilíbrio é um percurso complexo. Muitas pessoas, no desejo de fazer parte, começam a minimizar aspectos da própria identidade cultural. Escondem o sotaque, adaptam comportamentos, mudam gostos, suprimem hábitos. Outras, em resposta à dor da desconexão, se fecham completamente, mantendo-se isoladas para preservar a familiaridade.

A cultura brasileira, rica em afetividade, espontaneidade e senso de coletividade, permanece viva mesmo em contextos estrangeiros. Ela se manifesta no modo de se relacionar, de expressar emoções, na forma de cozinhar, de acolher. Manter essas expressões não é resistir ao novo, mas sustentar um eixo de identidade que contribui para o bem-estar psíquico.

Carl Gustav Jung escreveu que “ninguém se torna consciente sem dor”. E de fato, o processo de adaptação cultural exige esse confronto: com o que se perdeu, com o que se está se tornando e com o que permanece. O autoconhecimento torna-se, nesse contexto, uma ferramenta essencial para compreender as transformações internas que a experiência migratória impõe.

Fazer parte de uma nova cultura, portanto, não significa apagar a anterior. Significa reconhecer que é possível viver entre mundos, e que essa vivência pode enriquecer a identidade, expandir horizontes e aprofundar a consciência. A sensação de pertencimento se constrói, aos poucos, na medida em que se permite ocupar novos espaços sem renunciar completamente às raízes.

A travessia da imigração é um convite a ressignificar. E embora nem sempre seja fácil, ela pode revelar dimensões internas que talvez jamais fossem acessadas de outra forma. Em tempos de recomeços, manter as raízes não é nostalgia: é sustento.

Patrícia Rigoni D. Baldi
Psicóloga Clínica, Hospitalar e da Saúde, Paliativista e Psico-oncologista no Brasil – CRP 09/7872
Especialista em Psicologia Intercultural | Mental Health Coach
Consteladora Sistêmica Familiar
Criadora e apresentadora do podcast Live Vida de Imigrante
patriciarigoni@gmail.com | (863) 210-9488

Foto: AdobeStock

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