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 Do fogão ao coração: o poder da presença nos negócios que alimentam corpo e alma

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➤ Por: Rebeca Macedo

Tem coisa que a gente não explica, mas sente. Tipo aquele arrepio ao provar um feijão com gosto de infância, mesmo do outro lado do oceano. Ou o suspiro que vem antes da primeira garfada de um pão de queijo quentinho depois de um dia difícil.

Agosto chegou com o tema “Sabores que Conectam” e não tem como não se emocionar. Porque não estamos falando só de comida. Estamos falando de afeto, de identidade, de pertencer. Estamos falando de estar presente, de corpo, alma e memória.

A verdade é que comer, quando é de verdade, não é um ato automático. É um ritual. É quando a gente se reúne, mesmo em silêncio, e sente que ainda tem algo que nos liga. E no meio dessa rotina que vive correndo e atropelando tudo, especialmente o emocional, a mesa vira um porto. Um abraço. Um lembrete.

Quando o prato carrega mais do que sabor

Por trás de cada restaurante brasileiro aqui fora tem alguém que ousou sonhar longe de casa. Que enfrentou medo, saudade, papelada, e decidiu colocar no mundo não só uma receita, mas um pedaço do próprio coração.

A jornada de quem empreende na gastronomia longe do Brasil exige muito mais do que habilidade na cozinha. Exige inteligência emocional. Aquela força silenciosa que faz a gente continuar mesmo quando tudo parece difícil. Que ensina a respirar fundo quando o cliente reclama. Que ajuda a manter o sorriso, mesmo quando a saudade aperta ou o caixa não fecha.

Um estudo da Harvard Business Review já apontou que líderes com alta inteligência emocional são até 70% mais eficazes em lidar com adversidades e mudanças. Isso se aplica, claro, também a líderes de pequenos negócios, como nossos empreendedores da gastronomia brasileira espalhados pela Flórida e pelos Estados Unidos.

Daniel Goleman fala que inteligência emocional é saber lidar com as próprias emoções e com as dos outros. E eu arrisco dizer: quem serve comida afetiva já faz isso o tempo todo, mesmo sem nomear.

Além disso, a pesquisa “State of Hispanic Entrepreneurship 2023”, do Stanford Latino Entrepreneurship Initiative, revelou que mais de 40% dos empreendedores latinos disseram que a maior dificuldade é lidar com o estresse emocional e com a solidão no processo. Cozinhar virou sobrevivência, mas também resiliência.

Porque enquanto o cliente vê o prato bonito na mesa, o dono está ali por dentro tentando administrar o estoque, as contas, os filhos na escola e os boletos vencendo em duas línguas. Mas ele segue. Porque sabe que, ao alimentar o outro, também alimenta a si mesmo.

E quem se senta à mesa também tem um papel

A gente fala tanto de consumo consciente, mas e o comer consciente?

Meu convite é simples, mas direto: da próxima vez que for a um restaurante brasileiro, se desconecte para se conectar. Desligue o celular. Olhe nos olhos de quem te atende. Agradeça com o coração. Pergunte a história por trás daquele prato. Saboreie com presença.

Parece pouco, eu sei. Mas não é. Estudos já mostram que quem pratica atenção plena (mindfulness) ao comer experimenta mais prazer, menos ansiedade e se relaciona melhor com o corpo e com os outros. Comer com presença é cuidar da saúde emocional também.

E mais: você nunca sabe o quanto um gesto simples seu pode ser o bálsamo que aquele empreendedor precisava pra seguir em frente naquele dia.

Presença virou luxo

Nesse mundo de pressa, a presença virou artigo de luxo. Todo mundo com fome de afeto, mas saciado só com distração. A mesa virou cenário para selfie. A comida virou conteúdo. E a conversa, legenda.

Mas a gente ainda pode voltar. Voltar a estar inteiro, voltar a sentir. A comer devagar. A agradecer. A ver no restaurante não só um serviço, mas uma extensão do lar de quem teve coragem de abrir portas fora do Brasil.

Sabores conectam, sim. Mas só quando a gente está presente o suficiente pra sentir.

Finalizo com esse lembrete, do tipo que a gente dobra e guarda no bolso:

Da próxima vez que você sentar-se à mesa de um restaurante brasileiro aqui no sul da Flórida, experimente algo diferente: desligue o celular, respire fundo, observe os detalhes, ouça a história do chef, sinta os aromas sem pressa. Seja presença. Seja corpo inteiro. Porque talvez o verdadeiro sabor esteja justamente aí, no reencontro com o que realmente importa.

Comer fora pode ser mais do que uma refeição. Pode ser um reencontro com a vida, com as raízes, com a gente mesmo. E, quem sabe, com essa presença real, a comida se torne ainda mais gostosa.

Não porque mudou o tempero, mas porque você voltou a sentir.

Rebeca Macedo – Empresária, palestrante internacional e especialista em inteligência emocional
Instagram: @rebecacmacedo

Foto: AdobeStock

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