Nilson Lattari

Crônica: ENGANOS

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Por Nilson Lattari

Ser enganado uma vez é falta de experiência, a segunda é ignorância, a terceira, na verdade, não é um engano, é mais uma tentativa em acreditar que pode dar certo daquela vez.

Houve, nos anos setenta e início dos oitenta, um movimento, pelo menos no Rio de Janeiro, de grupos lançarem vendas de produtos agregadas ao ingresso de membros novos, e assim, galgar postos e receber dinheiro, pagos pelos novos membros. Nada mais do que uma pirâmide financeira.

Não há nada de impressionante com esses golpes continuarem a existir. Sempre há carne nova no mercado e gente pronta a ser mais espertas que as outras. Não adianta dizer para os novos e futuros enganados a fraude que está para acontecer. O provérbio que diz que quando a esmola é grande, desconfie, não causa o menor efeito.

Na verdade, fraudes poderiam ser definidas como a combinação entre dois ambiciosos, um esperto vendendo a esperteza para quem se acha muito esperto por estar fazendo um grande negócio.

Fui chamado uma vez para uma dessas reuniões. O ambiente era em um hotel muito elegante na zona sul da cidade. Na sala, um sujeito muito bem vestido, com um terno de um azul belíssimo, uma pulseira de ouro (ouro!) em um dos braços e um Rolex, ou aparentemente um Rolex no outro braço. Na gravata outro bracelete dourado, sapatos elegantes. E o grande ponto de inflexão, um sotaque italiano. Via-se ali um sujeito vencedor que contava a sua trajetória naquela empresa que trazia um jeito único de vender. Pasmem! Eles vendiam sabões, sabões em pó.

Em minhas leituras, havia lido qualquer coisa sobre leitura de sinais. Não era bem a semiótica, mas uma ciência que dava seus passos na universidade no estudo de literatura. Um sinal de alerta se abriu e os sinais eram evidentes. Me deixei levar olhando não para o palestrante, mas para a plateia. Uma das ajudantes do palestrante veio até mim e me perguntou se estava tudo bem. É claro que os olhares estavam fixos na plateia. E, evidente, ela observou aquele sujeito diferente, também vestido de paletó e gravata, exigência para participar da reunião. Sentir-se importante para participar de coisas importantes.

É claro que vi a fraude desfilando diante de mim. Quem enriqueceria vendendo sabões, a não ser o fabricante?

A minha seguinte estratégia seria como sair dali, ao final da palestra. Quando me dirigi até a porta, um porteiro, segurança me reteve. Afinal não poderia sair sem trocar algumas palavras com o Giovanni, o palestrante. Acho que nunca fui tão bom ator como naquele momento. Afinal, eu também sabia emitir meus sinais. Aleguei que estava emocionado vendo aquele sotaque italiano que lembrava meu avô, e precisava respirar um pouco no corredor e voltaria. O segurança então me liberou diante do meu olhar choroso.

Nada como enganar para não ser enganado. No final das contas, é enganado quem quer e tem o direito a isso.

Foto de Rostyslav Savchyn na Unsplash

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