Nilson Lattari

Crônica da semana: ONDE SERÁ A FESTA?

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Por Nilson Lattari

Foto de Adi Goldstein na Unsplash

Ninguém aprende a dançar se fica diante do espelho repetindo os mesmos gestos errados, julgando que faz o certo. A dança, mesmo aquela que é apresentada de forma individual, necessita de uma plateia para estabelecer o aplauso ou o apupo, demonstrando alegria ou descontentamento. Para dançar é preciso uma mão com duas vias. Em todas as danças existe a parceria.

Ninguém consegue imaginar, a menos que seja tão egoísta ou egocêntrico, que é capaz de realizar as coisas sozinho. Questionar-se é muito importante, mas tudo tem um limite porque ninguém é sozinho no mundo. Necessitamos de referências para estabelecer um senso crítico em ou sobre nós mesmos.

Para dançar é preciso ir às festas, procurando alguém que queira partilhar dos nossos anseios ou para que sejamos convidados por alguém para partilhar os seus. Existem alguns que têm ciúmes de suas coisas, de seus conhecimentos, como se eles fossem os mais originais do mundo e o medo de serem copiados os tornam anônimos por toda a eternidade.

Alguns escrevem, outros pintam, outros compõem ou, simplesmente, têm aqueles que guardam suas elucubrações no fundo de uma gaveta.

Para aprender a dançar é preciso ir à luta, questionar e ser questionado. Nós nunca saberemos o que somos se não nos comparamos com o outro. Somos referências cruzadas dos nossos anseios.

E onde será a festa?

O grande salão da festa é o mundo onde vivemos. Na mistura de sentimentos, peles e rostos nos encontramos. Parece imperceptível, mas quando colocamos uma roupa para ir à rua, muitas vezes, nossa aparência estará em confronto. Sendo assim, não saímos de qualquer maneira porque as críticas podem ser ferinas. E nos defendemos delas também.

É uma constante dizer que, na vida, criticar e ser criticado faz parte do nosso cotidiano. E nosso cotidiano é o confronto, não só da estética como dos pensamentos. Se estamos em alguma aglomeração onde pessoas comungam os mesmos sentimentos somos uma bolha que julgamos ser o centro do universo, do mundo conhecido.

Em uma festa, de verdade, as misturas são muitas. E é nesse confronto de diferentes que crescemos e nos agigantamos. O principal crítico do dançarino é ele mesmo. Ter a noção que não dançamos bem leva as pessoas normais a pedir pelo aprendizado. Aprendemos com o outro e essa é a grande lição que a festa nos proporciona.

Sair para dançar deveria ser um mote de vida. Sair para aprender aquilo que julgamos, nos nossos esconderijos secretos, ser o melhor. O mundo é bem maior do que os nossos desejos e é necessário estabelecer-se no senso comum da equidade. E para disseminá-la temos que nos portar com igualdade, abandonando os nossos desejos mais mesquinhos.

Vá dançar!

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