Entrevistas News

Constelação familiar entre a cura, a ciência e a controvérsia

Sending
User Review
0 (0 votes)

Zaquie C Meredith fala sobre a expansão, os debates e os desafios da prática no Brasil e nos Estados Unidos

A constelação familiar há muito deixou de ser desconhecida e hoje movimenta discussões que envolvem saúde pública, práticas terapêuticas, regulamentação e o interesse crescente do público. Desde 2018, a abordagem integra a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares do SUS. Alguns municípios e estados passaram a incorporá-la em programas locais de atenção básica, sempre de forma descentralizada. Levantamentos oficiais registram milhares de sessões nessas iniciativas regionais, sem um protocolo nacional padronizado. A oferta varia conforme cada gestão e permanece em revisão contínua.

O Judiciário também adotou a constelação em programas de conciliação familiar em diferentes estados, ampliando a visibilidade pública da técnica. Paralelamente, o tema passou a ser debatido por entidades profissionais. O Conselho Federal de Psicologia publicou nota técnica questionando a compatibilidade da constelação com a prática psicológica e apontando limitações nas evidências científicas atuais. No Senado, propostas ligadas ao uso da constelação em serviços públicos foram debatidas e rejeitadas recentemente. O cenário mostra uma prática presente em iniciativas locais, alvo de críticas, mas também de forte interesse popular.

Nos Estados Unidos, a constelação se desenvolve em workshops, atendimentos privados e centros de bem-estar, com procura constante, embora não faça parte de políticas nacionais de saúde.

Para aprofundar esse cenário e revisitar a trajetória da prática no Brasil, Antonio Martins conversou com Zaquie C Meredith, socióloga, psicoterapeuta, escritora e pioneira das constelações familiares desde o ano 2000.

ENTREVISTA

Zaquie, como era o cenário quando as constelações chegaram ao Brasil no ano 2000?
Naquele período, praticamente ninguém conhecia a constelação familiar. Era um tema novo e pouco discutido. Quem trouxe essa linha de trabalho foi Bert Hellinger, filósofo, teólogo, psicanalista, terapeuta e ex padre. Eu vinha de quatro anos de formação em healings nos Estados Unidos e, quando conheci a constelação, me encantei pela profundidade do método. Passei a estudar, praticar e defender a abordagem como uma ferramenta capaz de ajudar pessoas em sofrimento real. Anos depois, recebi uma homenagem do Senado Federal pelo trabalho desenvolvido.

Uma das maiores dúvidas de quem ouve falar do método é sobre o fenômeno dos representantes. Como pessoas que não conhecem a família envolvida conseguem sentir emoções tão específicas?
Essa sempre foi uma questão que despertou curiosidade. Em constelações, representantes que não conhecem a história da pessoa constelada começam a sentir emoções e tensões semelhantes às relatadas pelos membros reais da família. Isso acontece de maneira espontânea e impressiona quem presencia. Não se trata de religião nem espiritismo. O que percebíamos era um campo de informação sendo acessado ali. Na minha visão, isso tem relação com princípios da física quântica e com campos relacionais que conectam profundamente as pessoas.

Ao longo da sua trajetória, quais foram os impactos mais marcantes que você testemunhou?
Acompanhei reconciliações entre pais e filhos, casais recuperando o afeto, pessoas inseguras financeiramente encontrando estabilidade e mudanças profissionais importantes após uma única sessão voltada ao tema. A constelação ilumina vínculos, lealdades e dores ocultas entre gerações. Quando isso é reconhecido, algo se reorganiza dentro da pessoa e no sistema familiar.

Para quem nunca participou, como você explica de forma simples o que é a constelação familiar?
Eu diria que a constelação é um método que busca resolver conflitos familiares, relacionamentos, questões financeiras, aspectos da personalidade e temas relacionados à vida profissional. Ela revela o que está oculto nos vínculos e mostra o quanto estamos conectados à família ao longo de várias gerações. É uma terapia breve, que ajuda a destravar processos que estão parados.

Nos últimos anos, a constelação cresceu, entrou em debates públicos e virou tema de disputa institucional. Como você enxerga esse movimento?
Quando uma prática ganha visibilidade, passa por fases de entusiasmo, expansão e questionamento. Conselhos profissionais falam a partir de suas normas éticas e atribuições legais. Na minha visão, a constelação é uma terapia complementar que pode ser usada por profissionais sérios de diferentes formações e nunca pretendeu substituir a psicologia. Existem pesquisas, dissertações, teses e inúmeros relatos de clientes que descrevem benefícios reais. Ainda assim, é fundamental manter rigor ético e seguir estudando, porque a evolução da prática faz parte da responsabilidade de quem trabalha com ela.

Qual é hoje o maior desafio das constelações?
O desconhecimento. Muitas pessoas criticam algo que nunca vivenciaram em um ambiente profissional. A circulação de vídeos curtos e recortes descontextualizados cria ruídos. Quando alguém participa de uma constelação séria e consegue olhar sua família com respeito, algo profundo acontece. Essa experiência costuma mudar percepções e quebrar resistências.

E qual é, na sua visão, a grande batalha da constelação neste momento?
Mostrar que a constelação não é moda nem solução mágica. É um trabalho que envolve temas sensíveis como pertencimento, exclusão, perdas e reconciliações possíveis. A constelação ajuda a trazer clareza e ordem num mundo onde muitas pessoas se sentem desconectadas de suas raízes. Quando alguém se reconecta ao seu sistema familiar, encontra força, paz e uma base sólida para seguir a vida.

Você ainda se emociona em sessão depois de tantos anos?
Sim. Eu me emociono quando vejo um filho se reconectando com o pai, quando uma mãe é reconhecida pela filha que antes se afastava, quando alguém reencontra sentido no trabalho e a vida começa a caminhar. A paz que surge quando a pessoa honra a própria história é muito tocante. São histórias que se repetem, mas, no fundo, são histórias de todos nós.

Serviço
Site: www.zaquiecmeredith.com


Instagram: @zaquiecmeredith

Advertisement

Agenda de Eventos Acontece

Taxa de câmbio

Taxas de câmbio USD: ter, 23 dez.

Advertisement

Advertisement

Categorias

Media of the day

You cannot copy content of this page