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A indústria cultural e a Quarta Revolução Industrial: o futuro dos artistas em um mundo de IA

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O impacto da inteligência artificial sobre a criação artística e o valor da autoria humana

Vivemos um momento de transição profunda. A chamada Quarta Revolução Industrial, marcada pela inteligência artificial, automação e big data, está redefinindo os limites da criação humana. No centro desse debate está a arte, ou melhor, o lugar do artista em um mundo onde algoritmos são capazes de escrever textos, gerar imagens e compor músicas. A indústria cultural, que sempre esteve intimamente ligada à tecnologia, agora se vê diante de um dilema ético e criativo.

Uma das perguntas mais instigantes do nosso tempo é: a inteligência artificial pode realmente criar algo novo? A resposta mais honesta talvez seja “não completamente”. Por mais impressionante que seja a capacidade de uma IA de gerar obras visuais ou literárias, ela só o faz com base em um banco de dados alimentado por criações humanas. Ou seja, a IA recombina, adapta, estiliza, mas não inventa no mesmo sentido em que um artista humano, com suas vivências e experiências únicas, cria. Há sempre um ponto de partida humano por trás das imagens que ela produz. A criatividade, até segunda ordem, ainda é um fenômeno humano.

É justamente essa dependência do que já foi criado que provoca outro efeito: a saturação estética. Imagens geradas por IA costumam causar um impacto inicial, aquele momento de espanto ou encantamento, mas esse impacto rapidamente se dilui quando variações quase idênticas da mesma estética começam a se multiplicar em série. Um exemplo notório é o uso do estilo do Studio Ghibli em gerações automáticas. O que começa como homenagem logo se transforma em enxurrada de imagens, o que esvazia o sentido original e torna o estilo repetitivo e sem a alma que o estúdio japonês tão cuidadosamente construiu.

Isso não quer dizer que a IA não possa ter um papel importante na criação artística. Assim como ferramentas de escrita com IA podem ajudar escritores, jornalistas e estudantes a pensar, organizar ideias e revisar textos, no mundo das imagens há o cenário em que artistas usam IA como elemento e auxílio em suas criações. O problema surge quando a IA deixa de ser ferramenta e passa a ser substituta. Quando empresas optam por não pagar artistas porque podem gerar imagens realistas e “novas” com apenas alguns comandos de texto, estamos diante de uma precarização da arte e da autoria.

O cerne da questão não é só econômico, é também ético. Por que pagar um artista para criar algo único se posso replicar o que preciso usando apenas a IA? Por que contratar um fotógrafo e um modelo se posso gerar uma imagem hiper-realista de uma pessoa que não existe? Empresas que antes buscavam diferenciação por meio de identidades visuais únicas e conceitos originais agora se perguntam se vale o investimento em criatividade humana. Essa escolha, no entanto, é um tiro no pé. No longo prazo, a padronização promovida pela IA compromete a originalidade que toda marca busca. Além disso, o uso indiscriminado de criações anteriores sem consentimento ou crédito ameaça o próprio conceito de propriedade intelectual, que sustenta o trabalho artístico.

Isso coloca o futuro dos artistas em xeque. Diferente do que alguns podem pensar, além da necessidade de expressar-se pelas diversas linguagens artísticas e do amor à arte, os artistas precisam viver, pagar contas e sustentar seus projetos. Para isso, precisam de um mercado que valorize suas criações, e não que as substitua por simulacros gerados em segundos por um algoritmo.

Mais do que resistir à tecnologia, é preciso estabelecer limites claros para seu uso. A IA pode ser aliada, desde que não apague a presença humana da equação criativa.

As empresas, por sua vez, precisam repensar seu papel. Seguirão optando pelo caminho mais barato, mesmo que isso implique a destruição da originalidade e da ética? Ou investirão em criações únicas, que realmente carreguem uma identidade criativa e humana?

O futuro da arte, dos artistas e da humanidade dependerá das escolhas feitas agora.

Créditos da autora:
Valentina Daldegan é doutora em Música e coordenadora de pós-graduação na área de Educação do Centro Universitário Internacional Uninter.

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