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( votes)Vai me desculpar, mas acho um tanto deselegante isso de chegar antes do combinado. Eu nem estava pronta e ouvi que lá se foram os tais 12 meses e já era hora de começar de novo, estourar a champanhe e vestir branco. Porém, fiquei tentada a pedir auditoria porque não estou confiando muito nessa sua contagem, não. Tirei o pisca-pisca da varanda há pouco. As pequenas lâmpadas ainda estão mornas. Não tiquei metade dos itens da lista de intenções de 2023 e lá vem você me forçando a jogar fora a agenda ainda cheirando a tinta.
Ah, a culpa foi minha que não soube desfrutar os 365 dias de 2023? Que deixei tudo para a próxima semana? Que priorizei os projetos dos outros enquanto empurrava os meus planos com a barriga? Que comprei livros que dormiam na cabeceira esperando por uma noite insone? Que não tive coragem de escrever mais um capítulo da minha história como protagonista?
Pois é, olhando por este prisma talvez você tenha razão.
A cada ano que passa – e a gente fica mais velho – está mais difícil dar conta da rotina e ainda pensar nesses extras, que não poderiam ser tratados como extras: coisas que gostaríamos de mudar, empreender, iniciar. É que colocamos a lista de prioridades de ponta cabeça e vamos fazendo as atividades no piloto automático e pior: sempre as mesmas. O mesmo cardápio, os mesmos caminhos, o mesmo estilo de roupa e de corte de cabelo.
E a chave desta charada é isso: o “mais do mesmo” é que esvazia nosso tempo sem honrá-lo. E aí não sabemos mais se brindamos o Reveillón de 2024 ou de 2014.
Mas, querido Ano Novo, como mudar isso? Tenho certeza que todos que foram pular as tais sete ondas estavam cheinhos de esperança, de vontade de renovar, de fazer diferente. E este empenho foi para o ralo junto com a areia que tiraram dos pés na volta da praia.
Aliás, já que você é “novo” deveria vir com manual de instrução, esclarecendo como usar sem desperdiçar seu potencial para não repetirmos o erro do uso daquela máquina de fritar top, que quase cozinha sozinha, mas que só pegamos para assar pão de queijo.
Aproveitar o tempo requer um comprometimento consigo mesmo, que a maioria de nós não consegue manter. Mas é um aprendizado urgente e necessário para quando nos referirmos ao ano passado, a gente possa substituir o “passado” por “vivido” e realmente sentir que vivemos em toda plenitude, em comunhão com as horas.
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