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( votes)Não é segredo para ninguém que o universo da confeitaria proporciona experiências únicas através da combinação infindável de ingredientes. Uma receita bem elaborada tem o poder de melhorar o dia de qualquer um – um pedaço de bolo acalenta corações tal qual um abraço apertado.
Mas é claro: toda experiência gastronômica pode, e deve, ficar mais completa e especial. Uma das formas de celebrar a complexidade da confeitaria é adicionar um toque de outro universo igualmente mágico e cheio de possibilidades: o do vinho. Engana-se, aliás, quem pensa que a harmonização de vinhos restringe-se tanto a receitas salgadas como a eventos altamente refinados. O vinho é, acima de tudo, amplo e democrático.
Nessa arte de harmonizar vinhos com comidas, a experiência adocicada no paladar pode ser verdadeiramente enriquecedora. Para comprovar essas possibilidades, Cake By Yu, Ateliê de Bolos e Doces na Vila Mariana, conversou com o sommelier de vinhos e cervejas Elias Varella, que tem dicas incríveis na ponta da língua. Confira.
1- Quais são os vinhos que mais harmonizam com receitas adocicadas?
Existem combinações clássicas com os chamados “vinhos licorosos”, que também são conhecidos como “vinhos de sobremesa”. Dentre eles, destacamos o famoso húngaro Tokaji e o francês Sauternes. Também não poderia deixar de citar os famosos vinhos fortificados, como o icônico Vinho do Porto nas suas versões Tawny e Ruby, os Late Harvest, ou vinhos de colheita tardia, em que as uvas são maturadas por um longo período, concentrando grande quantidade de açúcar. Outra boa opção são os espumantes mais adocicados, como o italiano Asti, assim como Champagne ou Cava nas suas classificações mais doces (Sec, Demi-Sec e Doux).
Apesar de essas serem algumas das opções de vinhos doces que combinam com sobremesas, não se prenda somente a eles. Dependendo da sobremesa, alguns vinhos secos, como um Sauvignon Blanc da Nova Zelândia, um Chardonnay californiano com longo envelhecimento em barricas, um Riesling alemão ou até mesmo alguns vinhos tintos como o Pinot Noir, Cabernet Sauvignon e Zinfandel, podem criar harmonizações surpreendentes!
2- Na gastronomia brasileira, temos muitos doces com alto teor de açúcar entre os queridinhos, principalmente aqueles com cobertura de brigadeiro. Nesse caso, o vinho ajuda a quebrar esse excesso? Quais cepas equilibram o paladar?
Depende muito da sobremesa. Mas pensando na cobertura com brigadeiro, que é um chocolate doce, eu sugeriria um Vinho do Porto Ruby, por combinar através da semelhança, ou um espumante tinto do Piemonte chamado Brachetto d’Acqui, que possui perlage e acidez suficientes para equilibrar o dulçor da sobremesa.
3- Quais são os “no go’s” da harmonização entre vinhos e pratos adocicados?
Tudo depende do tipo da sobremesa. Temos que pensar na intensidade, na quantidade de açúcar e nas notas complementares, como a adição de frutas ou especiarias. A comida e a bebida têm que interagir de forma harmônica para que uma não se sobressaia em relação à outra. É uma questão de bom senso e de conhecer bem a sobremesa e o vinho que se deseja harmonizar.
Para citar um exemplo: uma sobremesa delicada à base de frutas cítricas não combina com um vinho tinto encorpado e adstringente; assim como um bolo de chocolate amargo não harmoniza em nenhum aspecto com um vinho branco delicado.
4- Quais dicas você daria para um couvert levemente ‘açucarado’, com vinho, e equilibrado para abrir o paladar?
Uma boa escolha são os espumantes adocicados. Além de ser uma tradição iniciar uma refeição com um espumante, a perlage e a acidez ajudam a abrir o paladar. A melhor opção vai depender do couvert e do gosto do cliente, mas um espumante com Moscatel, um Cava ou Champagne costumam agradar bastante!
5- Por fim, após o isolamento social e pensando em um evento completo, com entrada, prato principal e sobremesa com vinhos, quais escolhas são certeiras do começo ao fim?
Temos que pensar numa escala de intensidades, que vá do mais leve para o mais encorpado. E claro: tudo vai depender do menu de comidas proposto.
De modo geral, abrimos o evento com um espumante, já que a perlage e acidez ajudam abrir o paladar, como já mencionado. Para entradas leves, saladas ou carnes brancas, podemos harmonizar com vinhos brancos vibrantes. No prato principal, se pensarmos em carnes vermelhas e pratos intensos e estruturados, os tintos amadeirados e encorpados, como um Syrah ou um Cabernet Sauvignon, podem ser uma boa opção.
Por fim, para as sobremesas, podemos aproveitar todas as dicas que foram passadas aqui, seja um vinho fortificado, de colheita tardia, licoroso ou até mesmo um belo espumante!
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