Ser diferente é muito normal

Por Fernanda Tótoli

Tathi Piancastelli. Talvez você já tenha ouvido este nome e o motivo é que a Tathi é uma pessoa especial. Especial no sentido mais amplo da palavra. Nada tem a ver com um cromossomo a mais. Tathi, de 35 anos, é uma garota que luta por uma causa muito importante. É uma das vozes fortes do ativismo pela inclusão de pessoas com Síndrome de Down, além de atriz – foi a primeira pessoa com a síndrome a escrever e encenar como protagonista, uma peça de teatro, “Menina dos meus Olhos”, estrelada em Nova Iorque, que rendeu a ela a indicação entre as cinco finalistas no prêmio de melhor atriz no Brazilian International Press Awards 2016 -, modelo, youtuber, palestrante e eternizada como personagem de um dos maiores nomes da ilustração brasileira, Maurício de Sousa, criador da Turma da Mônica.

Agora, a luta de Tathi acaba de ganhar um aliado forte: em iniciativa inédita, a Unidos do Alvorada, escola de samba do primeiro grupo de Manaus terá a Síndrome de Down como tema do Carnaval 2020 no Brasil. O objetivo é fortalecer a conscientização sobre a inclusão e alertar sobre o preconceito, ainda muito forte por falta de conhecimento. Aspectos e curiosidades sobre essa condição genética serão levados para a avenida em um desfile que também vai falar sobre a importância da educação inclusiva, da absorção destas pessoas no mercado de trabalho e das possibilidades de uma vida plena em todas as esferas para quem tem a síndrome. Tathi dividirá a avenida com outras pessoas portadoras da Síndrome de Down e escolas que já adotaram a inclusão escolar como filosofia também foram convidadas. O espetáculo promete despertar na população amazonense, e no mundo, o interesse pela causa.

“Oi, eu estou aqui! Alvorada com um cromossomo a mais mostra que ser diferente é normal” é o tema do samba enredo, inspirado na história de Tathi, que desfilará em um dos carros alegóricos. Tathi vive entre Miami e Brasil, devido ao seu trabalho como atriz e conta como recebeu o convite. “A Nana Moura, responsável por sugerir os enredos, durante uma viagem, viu uma reportagem sobre a minha vida em uma revista de bordo. Ela achou que poderia ajudar a divulgar a causa e diminuir o preconceito e todos na escola gostaram da ideia”, explica. “Eles entraram em contato através das minhas redes sociais e fizeram o convite”, completa. “O carnaval vai ajudar as pessoas a saberem que quem tem síndrome de Down pode fazer tudo!”, conclui Tathi mostrando que ser diferente é muito normal.

Oi, eu estou aqui – o samba enredo foi inspirado não só na história de vida da Tathi, mas também leva em seu título uma frase criada pela própria atriz para expressar o seu senso de existência, seu desejo de realizar sonhos, de ser vista e considerada. A frase virou espetáculo solo e, como o título sugere, a obra coloca a atriz em primeiro plano e sua presença no palco exalta a importância da tolerância e respeito à diversidade. O conceito do projeto foi desenvolvido com o intuito de permitir que a sua realidade seja representada com o suporte de recursos teatrais que comuniquem com força e autenticidade tudo aquilo que mais profundamente existe na essência desta artista com tantos talentos.