O brasileiro que desbravou Wynwood

Por Connie Rocha

Nascido no Rio de Janeiro, formado em Comunicação Social, amante da música e das artes  e expertise em mercado financeiro, Michael Krymchantowski é exemplo de um empreendedor visionário. Vivendo nos EUA desde 2007, ele chegou a Miami um ano antes da grande crise financeira de  2008, que assolou o mercado imobiliário do país. Acreditou que era o momento para investir, seguiu o seu instinto e visão para os negócios e apostou em uma região de Miami na qual, naquela época, poucos pensariam em investir: Wynwood.

Mas a visão de Michael para o seu grande sucesso em Miami começou a dar sinais ainda no Rio, durante os anos em que percorria o caminho de casa, de Ipanema, até o Colégio Santo Inácio, em Botafogo. Ao longo do caminho ele admirava muros grafitados e as mensagens positivas que aqueles artistas passavam. Em 2008, já vivendo em Miami, ele teve mais um sinal, quando leu uma matéria sobre o dono de um castelo de uma pequena cidade da Europa, que convidou dois grafiteiros brasileiros para pintar os muros do seu palácio durante um evento na cidade. O trabalho ficou tão bom que atraiu muitos turistas para o local, que manteve a arte. Nesse momento, Michael não teve mais dúvidas de que o grafite seria uma arte reconhecida mundialmente e que, de alguma forma, faria parte da sua vida.
“Foi nessa mesma época que um conhecido comentou a respeito de um restaurante que tinha uns grafites pintados, recém-inaugurado em um “bairro feio” de Miami, mas interessante pelos muros pintados por grafiteiros. Ele estava falando do Wynwood Kitchen, que hoje abriga um dos pontos turísticos mais visitados na região, o Wynwood Walls”, conta o empresário que, curioso, foi visitá-lo logo depois de ter ouvido isso.

Além do restaurante “exótico”, Michael também observou que no local havia duas galerias, duas lojas e inúmeros galpões vendendo sapatos a US$ 1.99, e não teve dúvidas de que estava assistindo nascer ali um local em Miami dedicado às artes e ao entretenimento, diferente de tudo que já existia na cidade. E ele estava certo.

Investimento certo, na hora certa
Após tantas certezas, o empresário carioca começou a trilhar o seu futuro em Wynwood. “Além de ser um lugar onde ninguém queria investir, os imóveis estavam muito baratos por conta da crise imobiliária. Foi aí que encontrei um conjunto de apartamentos antigos na 29th street. Vi que aquela rua poderia se transformar no corredor das artes, que ligaria dois potenciais bairros, Midtown e Design District, e negociei a compra do prédio em meia hora, sem olhar o interior dos apartamentos”, conta.

Foi ali que Michael começou a travar uma luta para terminar os aluguéis pendentes e desocupar os apartamentos, alguns deles alugados para traficantes de drogas. “Tive que chamar um grande amigo, o Chris, gerente da academia Rilion Gracie, onde eu fazia Jiu-Jitsu, para viver em um dos apartamentos e me ajudar a mandar embora aqueles traficantes. Ficávamos na varanda do apartamento onde o Chris morava, expulsando os “clientes” dos traficantes, quando na época até fomos ameaçados, nessa trajetória de limpar o bairro. Livre deles, comecei a transformar aquele lugar, que hoje é o KrymWood Flats.”
Com a perspectiva de crescimento avassalador de Wynwood, Michael continuou investindo em outros terrenos, mesmo contra a vontade de todos. “Meu advogado, meus amigos, minha família, todos achavam que eu estava louco em investir em um lugar daqueles, mas eu sabia que estava investindo em um tesouro”, brinca.

Pioneiro do Airbnb em Miami
Além de ser um pioneiro em Wynwood, o empresário também se orgulha de ter sido um dos primeiros a utilizar os serviços de um novo programa na época, que viria a substituir o tradicional hotel: o Airbnb. “Em 2011, conheci e me apaixonei pela ideia de um novo conceito de short-term rental através do “Airbnb”. Reformei meus apartamentos temáticos e convidei um grafiteiro para pintar a garota de Ipanema e imagens do Rio na área externa do flat. Me agarrei nesse cometa do Airbnb e estou com eles até hoje! Meu primeiro hóspede foi um rapaz de Napa Valley. Ele entrou no quarto enquanto eu estava instalando a nova tv!”, comenta sorrindo.

E é assim que Michael Krymchantowski recebe os seus hóspedes, como amigos. Ele diz que a grande maioria das pessoas que vieram pra Wynwood abrir seus negócios ficou no seu hotel, o primeiro e ainda único do bairro. “O primeiro hotel de Wynwood é de um brasileiro”, comenta Michael. São artistas, empresários, chefs de cozinha que estão inaugurando novos restaurantes na área, a maioria da Europa, dos países orientais e dos EUA. “Como o meu hotel não tem uma estrutura de front desk, não recebo tantos brasileiros, que geralmente buscam esses serviços. O meu hóspede recebe um código pelo celular, chega no flat, abre a porta e se sente em seu próprio apartamento em Miami”, explica. O empresário não parou de investir e seu novo empreendimento já está em fase final de implementação. Um hotel, com o mesmo conceito short-term rental, mais moderno, com área para lounge, ground level com espaços gourmet, underground bar e rooftop, no coração de Wynwood.

Paixão pelos livros
Mas o empresário carioca não se dedica só aos negócios e investimentos financeiros. Ele investe também em outra paixão: os livros. E já publicou o seu primeiro título, que escreveu para os próprios filhos. “De uma forma lúdica, ensino as crianças a se alimentarem bem e terem bons hábitos de higiene. “The Invisible Army” (O Exército Invisível) conta a incrível história de uma guerra dentro do corpo humano, onde os soldados se alimentam de legumes, proteínas e vegetais para lutar contra os vilões, que são as bactérias. O livro foi lançado em inglês e português e é comercializado no Amazon”.

E Michael Krymchantowski é assim. Lutador, pioneiro e visionário, como o gênio Walt Disney, que na década de 60 vislumbrou as terras abundantes e baratas da região central da Flórida, como um tesouro para construir a terra da fantasia. Michael desbravou Wynwood e deu certo. “Hoje aqueles amigos que não acreditaram em mim sempre batem no meu ombro e me perguntam: onde será o próximo?”, brinca.

“Miami será a melhor cidade do mundo para viver”
Para o empresário o “próximo” não chegará tão cedo, mas ele já aposta em algumas regiões para investir, que terão um grande retorno, além de que durante o tempo de valorização serão capazes de um bom rendimento. ”Busco investidores para juntos criarmos grupos direcionados nesse conceito, onde eu vislumbro um crescimento em alguns anos. Um grupo de investidores para adquirir prédios e transformá-los em short – term rentals, nessas áreas onde vejo um grande potencial. Enquanto o local não estoura, vamos alugando os imóveis. Essas regiões têm muros invisíveis e o segredo é desvendá-los”, afirma.
Para esse filho de polonês e carioca da gema, Miami é o melhor lugar do mundo para viver. “Amo Miami. Estamos nos EUA, perto da América do Sul e ao lado da Europa. Cidades como Nova York e Londres têm o problema do clima, do trânsito, do terrorismo e dos altos impostos. Miami tem qualidade de vida e está em constante expansão. Eu vislumbro Miami como a cidade do futuro, que se transformará em uma das mais importantes do mundo, se não, a mais importante.”

Mas Wynwood sempre será o seu primeiro filho, a sua paixão. “Sinto que faço parte do nascimento e crescimento de Wynwood. Ajudei a divulgar os bares, restaurantes, galerias, através dos meus posts e fotos. Acompanhei o nascimento de quase todos os restaurantes e até os primeiros grafites do magnífico artista brasileiro, Kobra, em seus murais por Wynwood. Desde o início sabia que esse lugar se transformaria no que ele é hoje e sinto muito orgulho disso”, afirma o empresário.

E ele deve mesmo sentir muito orgulho de poder contar essa trajetória para os filhos e netos: a história de Michael Krymchantowski, o brasileiro que desbravou Wynwood.

Foto: Léo Vicario