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( votes)“João, o Maestro”, cinebiografia do maestro João Carlos Martins, será o filme de abertura do 21º Brazilian Film Festival of Miami, que acontece entre 16 e 23 de setembro em diferentes locais da cidade e adjacências. O longa, protagonizado pelos atores Alexandre Nero, Rodrigo Pandolfo e Davi Campolongo interpretando o maestro em fases distintas da vida, tem direção e roteiro de Mauro Lima e narra a história do regente brasileiro desde sua infância e juventude, passando pelo auge do sucesso como pianista, os acidentes que interromperam momentaneamente a sua carreira, a luta contra as limitações físicas e o seu exemplo de força e superação. A Acontece Magazine entrevistou João Carlos Martins, que fala a seguir da emoção de ver a sua história na tela grande. Confira.
Maestro, fale um pouco sobre o filme, que será destaque no Brazilian Film Festival de Miami.
Me sinto profundamente honrado em ter a minha vida retratada neste filme produzido pela família Barreto, por quem tenho a maior admiração e respeito. O filme tem recebido as melhores críticas dos especialistas em cinema e, na parte musical e profissional, retrata fielmente a minha trajetória. Já na parte pessoal, houve mais espaço para a criação, mas sempre fundamentada na minha vida. O desempenho dos atores que fazem o meu papel — Davi Campolongo na infância, Rodrigo Pandolfo na juventude e Alexandre Nero na maturidade — é espetacular. A direção do Mauro Lima, na minha opinião, é coisa de gênio.
Existe no filme alguma situação que você acredita que os imigrantes brasileiros vão se identificar?
O filme retrata a obstinação e persistência com que persegui meus sonhos. Espero que isso possa inspirar os imigrantes que saíram do Brasil em busca de um sonho, seja ele qual for. Sempre digo que você corre, corre atrás do seu sonho, e quando você menos espera seu sonho está correndo atrás de você.
Qual a sua expectativa para a exibição do filme na noite de estreia do festival?
Estou bastante ansioso. Por mais que eu ache o filme sensacional, sei que quem decide se será um sucesso ou não é o público. Espero que gostem do filme tanto quanto eu gostei.
Como foi a sua participação no roteiro e produção do filme?
Para a elaboração do roteiro o Mauro Lima fez pesquisas, viu o documentário alemão sobre a minha vida (“Die Martin´s Passon”), e leu livros sobre mim (“Conversations With João Carlos Martins”, “A Saga das Mãos” e “Maestro”). Depois, fez algumas entrevistas comigo, mas interferência direta no roteiro e na produção não tive. Durante as filmagens estive presente nas tomadas em São Paulo onde havia música, mas apenas para dar suporte na parte da técnica musical. Não participei diretamente da produção, mas me envolvi muito na parte musical do filme. Os produtores Paula Barreto e Rômulo Marinho fizeram milagre com o orçamento do filme, que foi bem pequeno comparado à média de outras produções nacionais.
O que você sentiu na primeira vez em que assistiu a “João, O Maestro”?
Fui às lágrimas. Você ver sua vida retratada no cinema é indescritível. Toda a memória da sua vida vem à tona com uma força incrível.
Além do talento nato, o que é fundamental para ser um bom pianista?
Não só no piano, mas em qualquer área, o fundamental é ter a disciplina de um atleta e a alma de um poeta. Costumo dizer que 2% é inspiração e os outros 98% são transpiração. Sem disciplina e determinação não se vai longe em nenhum aspecto da vida.
Não há como não falar da sua história de vida sem falar em superação. O que essa palavra representa para você?
Não sei se o meu caso é de superação ou de teimosia. Mas tem um ditado que acho que serve bem para o meu caso, e que diz mais ou menos o seguinte: na vida é necessário saber identificar os obstáculos e ter coragem para transpor aqueles que são difíceis e humildade para aceitar os que são intransponíveis.
Fale um pouco dos trabalhos da Fundação Bachiana, que promove a formação e educação musical para jovens brasileiros. É um sonho realizado?
A fundação tem desenvolvido um trabalho muito significativo na democratização da música clássica. Já atingimos mais de 11 milhões de pessoas ao vivo nestes 15 anos de existência. A orquestra Bachiana Filarmônica SESI-SP se apresenta não só em grandes casas, como Carnegie Hall, Lincoln Center, Sala São Paulo e Theatro Municipal, mas também nas periferias das periferias, nas cidades pequenas, com 5 mil habitantes, presídios, Fundação Casa, dentre outros tantos. Cada concerto é o concerto mais importante da nossa vida, não importa onde estejamos nos apresentando. Neste aspecto, posso dizer que é um sonho realizado, mas ainda não basta. Quero agora me dedicar com mais afinco à formação de jovens musicistas. Já temos desenvolvido diversos projetos neste sentido e já atingimos atualmente cerca de 6 mil jovens e crianças, mas ainda falta muito.
Apesar de todos os grandes desafios, você mantém esse sorriso e força de viver que impressiona. De onde vem essa força?
Não posso ser descrito exatamente como um homem religioso, mas acredito que esta força vem da fé. Acredito numa força superior aliada a uma força interior. É esta união que nos move.
O que está em seus planos e que ainda não foi realizado?
Nos próximos anos quero formar mais de mil orquestras pelo país afora, fechando o Brasil em forma de coração. Neste ano, mais uma vez com o apoio da FIESP, já começamos com o “Orquestrando São Paulo”, mas quero transformar, o mais breve possível, em “Orquestrando o Brasil”.
O que você pensa da mídia brasileira que está fora do Brasil?
Acho fundamental que haja veículos que se comuniquem diretamente com os brasileiros que não moram no Brasil. Estas mídias servem como um amálgama que nos une culturalmente e faz com que mantenhamos nossa identidade como nação.
O que o senhor acredita que acontecerá com o Brasil, após toda essa crise?
Por experiência própria sei que a crise é hora do crescimento, do amadurecimento e da descoberta de novas soluções. Desta forma, não acredito que haja outra alternativa para o Brasil a não ser sair melhor disso tudo. É inevitável.
Foto: Divulgação
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