Vida e Saúde Wal Reis

A insustentável leveza de não ser: não dá para fingir quem você não é o tempo todo

Apesar de estamos na era do respeito às individualidades, vivemos sob a espada inquisidora das regras de conduta, que exige comportamentos baseados no que se estabeleceu como sendo politicamente correto.
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Tem muita gente que abre mão de quem é para tentar ser o que os outros esperam. Estamos no tempo da liberdade de pensamento, do respeito às individualidades, mas desde que sua individualidade siga os parâmetros do autor da cartilha de “como ser você no século 21”.

Socialmente, temos que ser politizados, ponderados, com empatia para dar opinião sobre quase tudo. Essa sociedade – que nos vigia, cada vez mais, pela internet – espera que formemos a família perfeita, como em um comercial de margarina moderno, no qual as matriarcas não só preparam o café da manhã como são profissionais bem sucedidas, bem vestidas e sensuais, além de criaturas de compreensivas com todos os destemperos do núcleo – independente do tamanho da bizarrice que um filho apronte.

Também faz parte do manual de conduta beber com moderação – mas beber –, pensar na sustentabilidade do planeta, consumir menos carne, lutar pelos direitos dos animais e comer mais vegetais – não necessariamente nessa ordem. Ainda no campo alimentar, declarar que está a caminho do sem lactose e sem glúten e que aboliu as gorduras trans da dieta, mesmo que seus olhos brilhem na presença de um torresmo, conta pontos a favor.

Da mesma forma, não vale ser preconceituoso, independente de seu preconceito ser inofensivo para humanidade, como não curtir aulas de pole dance. Sempre aparecerá um dedo inquisidor declarando que sua mente está fechada para o novo. Aliás, falando em pole dance, para encarnar a pessoa da nova era, inclua atividades físicas moderninhas em sua rotina: serve hatha yoga, pilates acrobático ou treinamento funcional. E medite! Por favor, medite porque, afinal, para controlar sua ansiedade, há um consenso sobre meditação ser benéfica. Não é ansioso? Ora, claro que é. Talvez não fosse antigamente, mas agora, sob as rédeas da nova ordem mundial, é melhor ligar a playlist new age e sentar em posição de lótus.

Diante do nível de excelência que se espera de nós – no trabalho, na vida social ou familiar – vestimos personagens e deixamos em segundo plano quem realmente somos. E fica insustentável carregar este avatar eternamente. Quando a gente se dá conta, a fantasia está rota e os rasgos deixam vir à tona pedacinhos de nossas crenças reais.

O que gostamos de fazer? Damos opiniões baseadas no que acreditamos ou terceirizamos a inteligência? Queremos tirar os carboidratos ou a pizza do final de semana vem recheada de felicidade?

Aliás, felicidade também virou exigência. Você “tem que” ser feliz, nem que seja só para postar. Só que dá um trabalhão ser tudo o que esperam que sejamos e ainda ser verdadeiramente feliz quando, geralmente, felicidade fica na direção oposta dessa estrada cheia de regras de sinalização, cuja multa pode ser a exclusão da panelinha. Mas, mesmo com todos os guardas rodoviárias apitando para seu retorno à pista, trafegar nessa contramão é a única infração que vai valer a pena ser cometida: você será o alienígena que optou por dirigir a própria vida.

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