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( votes)Alice Kholer é uma artista como poucas que conheço! Reúne qualidades e uma personalidade de força e coragem, além do talento para fotografar lugares a que poucos conseguem chegar. Nasceu na cidade de Blumenau, em Santa Catarina. Aos 2 anos, sua família mudou-se para o Rio de Janeiro, onde vive até hoje. Graduou-se em educação física pela UFRJ e especializou-se em Management of Olympic Sport Organization pelo Comitê Olímpico Internacional (COI). Dedica parte de seu tempo como voluntária na reserva indígena do Médio Xingu, promovendo a prática de esportes e combatendo o alcoolismo e as drogas. Nestas viagens, registra o povo, seu modo de vida e a natureza da região.
A afinidade com a natureza e com o cotidiano da vida indígena dão inspiração a Alice como fotógrafa, uma de suas paixões desde 1977, quando foi estudante de intercâmbio nos Estados Unidos. Seu olhar aguçado e exigente captam o que nossos olhos não enxergam, e o frenesi de suas lentes registra a beleza e a essência de povos que não conhecemos.
Desde pequena, Alice era fascinada pela cultura indígena e foi quando passou um tempo em Belém do Pará, como voluntária a convite do Secretário de Esportes nos jogos indígenas de Altamira, onde conheceu várias etnias de perto. “Numa época em que a Funai estava com problemas financeiros, o chefe de posto saiu da aldeia, os índios ficaram desorientados e então a professora começou a me pedir projetos. Projeto de pasta e escova de dentes, projeto de chuteiras e bola, projeto de enxadão e machado etc. Comecei a mandar os projetos, mas nunca conseguia ir lá. Até que um dia, com um irmão e um amigo, consegui chegar na aldeia porque a professora estava com malária. Desde esse dia nunca mais saí das aldeias, mantendo uma relação muito forte com os índios. Ajudo nos projetos, na educação, no esporte, na saúde. Faço muita atividade física com eles, levo muito material esportivo, consigo doações. Agora mesmo estou levando 2 malas de camisetas, medalhas e fraldas para Altamira. Ajudo no que posso e tento ensinar o que aprendi, levo apostilas para os professores sobre jogos, recreação, troco ideias com eles, faço atividades aquáticas com as crianças, etc. Faço trabalho social, ajudo na parte de computação. Vou pela Sesai, pelo projeto de saúde. E ajudo também o Dr. Aldo Locurto, médico do grupo voluntário nômade Sem Fronteiras, que há mais de 20 anos circula por essas aldeias. Esse local que eu frequento, o Médio Xingu, não está dentro do Parque do Xingu. Com a obra de Belo Monte, logo acima de Altamira, perto da usina, as águas do rio nesse local vão subir e não se sabe o que isso vai acarretar. Esse é o problema de Belo Monte, não se sabe com exatidão o que vai acontecer. São muitas aldeias espalhadas pelo território deles, que têm muitas dificuldades, sem luz, sem gerador… algumas aldeias não têm barco, nem enfermaria, escola e saneamento. Eu já morei ao relento, onde tinham acabado de abrir uma aldeia. Eles precisam de alguém para ajudar. Quando começa uma aldeia, ficam muitos pedaços de pau no chão, as crianças se machucam. É um desespero”, conta a artista.
A cada três ou quatro meses Alice visita as aldeias, leva mantimentos e coisas de primeira necessidade e fotografa o cotidiano possibilitando as pessoas do mundo inteiro a ver de perto o mundo exclusivo e fechado dos nossos “irmãos da floresta”.
São muitos os desafios das florestas para o homem branco. Malária, pium, a comida é completamente selvagem e diferente do que o nosso organismo está acostumado e Alice conta que consegue ficar no máximo quinze dias antes de começar a sentir-se fraca e exausta.
Alice é um misto de fotógrafa e andarilha que gasta uma boa parte de sua vida vivenciando e aprendendo nos quatro continentes e nos lugares mais diversos em cultura e hábitos, abrindo, é claro, um capítulo à parte para o Brasil, sua terra natal.
Por jade Matarazzo
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