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( votes)Nesta segunda reportagem, o retorno para casa em segurança depois de um terremoto de 6.1 na escala Richter.
Nesta segunda reportagem (a primeira publicada na edição anterior da Acontece Magazine com o título Nepal, muito além de uma viagem de turismo), o retorno para casa em segurança depois de um terremoto de 6.1 na escala Richter.
O caminho pelo Nepal é cheio de significados e, na volta, depois de estarmos próximo ao Everest, no acampamento base, e visto a montanha mais alta, frente a frente do Kalapathar, na maior altitude atingida nessa aventura, cerca de 5.600 metros, é feita uma nova celebração para que todos retornem em segurança. Três pedras recolhidas no caminho são lançadas ao vento, montanha abaixo, em homenagem à tríade budista, Buda, Dharma e Sangha, consideradas as três joias da religião ou filosofia.
No começo da trilha, ainda em Shivalaya, uma única pedra foi lançada da pequena ponte do vilarejo, em direção ao rio. Tradição ancestral de pedir permissão para subir as montanhas, afinal o Nepal está sobre duas placas tectônicas e muitos terremotos ocorrem com frequência. No primeiro dia da expedição, ainda em Kathmandu, um tremor de 6.1 na escala Richter aconteceu a menos de 100 quilômetros e fez tudo balançar por intermináveis dois minutos. Os antigos falavam do movimento das montanhas, o que é real, e colocavam isso na conta dos deuses, mas o fato é que o Everest segue crescendo de 1 a 5 mm por ano. A permissão para subir e o pedido de proteção na descida são celebrações pessoais, mas duas tradições mantidas por caminhantes, alpinistas e pelo repórter da Acontece.
Antes de descrever as vilas que essa expedição percorreu no caminho de volta, iremos dar algumas dicas de como chegar no Nepal, o que levar na mala, hospedagens, transporte, a importância dos guias e carregadores e um pouco dos mistérios e os invisíveis do trajeto. Começando pela alimentação e pratos típicos, como o Dal Bhat, contendo uma generosa porção de arroz, uma sopa grossa de lentilhas, legumes variados e uma proteína, que pode ser frango, ovo, carne ou porco; o chapati, pão assado, servido no café da manhã com mel do Himalaia e ovo, ou na versão frita, denominado pão tibetano; a sopa Sherpa Stew com legumes e pedaços de chapati; e os MoMo’s, espécie de guioza feita no vapor com legumes ou proteína animal.
Para chegar em Kathmandu, partindo de Miami ou do Brasil, existem muitas companhias aéreas, mas o agente de turismo Tharso Martelli, da LCA Viagens, recomenda três: Turkish, Emirates e Qatar. A reportagem da Acontece viajou pela Turkish, a mais em conta delas, com paradas em Istambul na ida e na volta. Segundo Tharso Martelli, a partir de Miami, as passagens, em classe econômica, custam cerca de US$ 2.200,00. “Saindo de Miami, os bilhetes para a Ásia são um pouco mais caros do que partindo do Brasil, porque há muita promoção no Brasil”, completa. O agente também lembra que americanos e brasileiros precisam de visto para entrar no país, mas o documento pode ser obtido com antecedência ou no momento do desembarque, o que é bastante comum. São US$ 30,00 para 15 dias, US$ 50,00 para 30 dias e US$ 125,00 para 90 dias, período máximo.
O que levar na mala: o mínimo possível, roupas e alguns recursos estratégicos. Quase metade da mala foram de castanhas, banana desidratada e chocolate com amendoim e caramelo. A reportagem viajou no final do inverno no Nepal e, portanto, com temperaturas ainda baixas nas montanhas, chegando a menos 23 em uma das madrugadas. É essencial bateria extra para carregar celulares, já que a energia é paga conforme subimos as montanhas, adaptadores para tomadas indianas ou americanas, botas e meias para caminhadas, óculos escuros, capa de chuva, mochila pequena, squeeze térmico para água e, ou, chá, filtro portátil ou pastilhas para purificar a água, o Nepal tem um grave problema sanitário, protetor solar e roupas de inverno, mesmo em outras estações, nas montanhas é sempre frio, como luvas, gorro, balaclava, pano umedecido e, ou, papel higiênico.
Não existe papel higiênico gratuito nos lodges de hospedagens, é necessário levar ou comprar nos locais. Os lodges lembram hospedarias europeias, porém muito mais simples, com banheiros nos corredores e quartos duplos ou coletivos. É muito barato, mas paga-se tudo extra. As hospedagens variam entre US$ 1,00 e US$ 5,00, o banho quente US$ 3,00, o carregamento de celular nas montanhas outros US$ 2,00, as refeições em torno de US$ 8,00 e são feitas no próprio lodge. Quanto mais alto na montanha, mais caro vai ficando, afinal os recursos chegam por lá por meio de sacrifício animal, no lombo de iaques, bois e jegues, ou humano, nas costas dos sherpas. Em qualquer época do ano, é necessário ter sacos de dormir que suportem temperaturas abaixo dos 20 graus. Em Kathmandu é possível alugar por cerca de US$ 2,50 por dia e também comprar crampons para andar nas geleiras.
Para chegar e sair da região de montanhas existem duas possibilidades, carro ou pelo aeroporto de Lukla. Apesar do trajeto, partindo de Kathmandu, ser curto, ele é bastante arriscado. O Tenzing-Hillary Airport, em Lukla, é considerado o mais perigoso do mundo por ter a pista de apenas 527 metros, a maioria tem pistas de pelo menos 2.000 metros, numa altitude de 2.846 metros e com inclinação de cerca de 12%. O tempo na região muda rapidamente com neblina, ventos fortes e visibilidade limitada. Os pilotos precisam pousar cem por cento manualmente, sem auxílio de instrumentos. A reportagem da Acontece optou por fazer o trajeto em um veículo 4×4 e depois a pé. Na ida até Shivalaya e na volta a partir de Saleri, trechos de cerca de oito horas, mas menos perigosos que o aéreo, porém não tão seguro, com estradas muito sinuosas, boa parte de terra, esburacada e motoristas bastante arrojados.
Em Kathmandu é possível contratar guias e carregadores para acompanharem todo o trajeto. Eles custam, em média, US$ 20,00 por dia cada um. Ambos não são obrigatórios, mas os guias permitem uma viagem mais tranquila, sem erros no trajeto, sem que o grupo se perca e o carregador possibilita menos carga nas costas durante os 350 quilômetros percorridos de muitas subidas e descidas.
Gorak Shep foi o emblemático vilarejo que marcou a conquista do acampamento base do Everest e o início da volta, afinal ele é o que está mais próximo da montanha mais alta do mundo, já na fronteira com a China. Caminha-se cerca de três horas até chegar no famoso ponto de onde partem os alpinistas e os caminhantes celebram suas conquistas. Mais perto da vila fica o Kalapathar, um dos mirantes mais icônicos do Himalaia. A 5.600 metros avista-se o Everest e outras três montanhas gigantes, Nuptse, Lhotse e Pumori. Com pulmões ofegantes pela altitude e coração acelerado pela emoção, vimos o Everest brilhar com os primeiros raios da manhã de um céu limpo, frio e vento forte. Depois de uma longa contemplação, descemos o Kalapathar e iniciamos o caminho de volta. A seguir o descritivo dos vilarejos percorridos na sequência cronológica da viagem.
Jongla (Dzongla): é um pequeno vilarejo encrostado entre picos elevados, ideal para quem cruza o desafiador passo Cho La, mais um dos passes de montanha que cruzamos. Isolado, oferece vistas inesquecíveis dos glaciares próximos. Aqui usamos os crampons comprados em Kathmandu.
Thangna (Dragnag): a vila repousa à beira do imenso glaciar Ngozumpa, cercado por montanhas em direção ao lago de Gokyo. O ambiente é perfeito para os aventureiros em busca de silêncio e imersão total nos Himalaias.
Gokyo: um dos vilarejos mais fotogênicos do Nepal, está situado às margens de lagos turquesa que refletem os gigantes nevados ao redor. De lá, trilhas levam ao mirante Gokyo Ri, com uma das vistas mais amplas do Everest, Lhotse, Makalu e Cho Oyu. É um paraíso para trekkers e fotógrafos.
Macherma: é um vale aberto com vista livre para o Cho Oyu e trilhas tranquilas pelos arredores. O vilarejo é usado para aclimatação, para quem está subindo e no caminho contrário, antes de seguir para Gokyo. No Tashi Dele Lodge, onde nos hospedamos, encontramos um exemplar do livro “A Águia e a Galinha”, uma metáfora da condição humana de Leonardo Boff, e deixamos escrito um registro para o próximo brasileiro que passasse por lá.
Khumjung: situado em um vale verdejante e lar de uma das maiores comunidades sherpas da região, abriga uma escola fundada por Edmund Hillary. O mosteiro local guarda um curioso “couro de Yeti”. Aqui, tradição e história se misturam no cenário montanhoso. E o último lugar de onde avistamos, pela última vez, e nos despedimos do Everest.
Namche Bazaar: voltar ao vilarejo, do caminho de ida e descrito na primeira parte da reportagem, foi celebrar a viagem que seguia para o fim.
Phakding: a primeira parada ao sair de Namche com destino a Lukla, repousa às margens do rio Dudh Kosi. É um ponto ideal para pernoite, com lodges aconchegantes e pontes suspensas para fotos. O som das águas e a vegetação densa tornam a experiência relaxante.
Lukla: porta de entrada aérea para o Everest, Lukla abriga o famoso aeroporto Tenzing-Hillary. O vilarejo pulsa com energia de trekkers recém-chegados ou retornando. Cafés, restaurantes, lojinhas e lodges criam um ambiente agitado no coração dos Himalaias.
Bupsa Danda e Nunthala foram outros dois vilarejos repetidos no caminho de volta para pernoites.
Ringmo-Taksindu: essa dupla de vilarejos, conectados por florestas e campos, é um recanto menos explorado da região de Solukhumbu. Mosteiros tranquilos e vistas amplas tornam o local especial para quem busca espiritualidade e isolamento. A cultura regional está presente nos rituais e na hospitalidade.
Saleri: capital do distrito de Solukhumbu, é uma base fora da rota turística comum. A cidade combina estruturas administrativas com beleza natural e tradições locais. Foi o ponto final antes de pegar o veículo 4×4 e retornar a Kathmandu.










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